O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na manhã deste domingo (3), em Dubai, que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, tem uma mente "muito fértil", "numa velocidade de Fórmula 1". Ele se referia ao anúncio de Prates na sexta (1º) a respeito da possibilidade de a empresa petroleira brasileira abrir uma unidade no Oriente Médio, a Petrobras Arábia.
"Primeiro, você deve fazer essa pergunta para o Jean Paul Prates. Porque eu não fui informado de que gente vai criar uma Petrobras aqui [no Oriente Médio]. Como a cabeça dele é muito fértil, e ele pensa numa velocidade de Fórmula 1, e eu funciono numa velocidade de Volkswagen, eu preciso aprender o que é isso que ele vai fazer", afirmou.
"A Petrobras não vai deixar de prospectar petróleo. É importante lembrar isso. Porque o combustível fóssil ainda vai funcionar durante muito tempo na economia mundial. Mas, ao mesmo tempo, a Petrobras vai se transformar numa empresa não de petróleo apenas, mas numa empresa que vai cuidar da energia como um todo", disse o presidente.
"Eu vou conversar com ele [Prates]. Você me deu uma bela informação", finalizou Lula. A fala foi resposta a uma pergunta feita na entrevista coletiva que encerrou a participação de Lula na COP28, nos Emirados Árabes Unidos. Após a conversa, ele partiu para a Alemanha.
Segundo Prates havia afirmado na sexta (1º), para a Bloomberg News, a estatal deve iniciar neste mês o estudo de uma subsidiária destinada a fortalecer os laços comerciais na região do golfo Pérsico. "Vamos analisar a viabilidade de estabelecer uma subsidiária integral no Golfo: Petrobras Arábia", disse Prates, por meio de mensagem de texto.
O Brasil produz mais de 3 milhões de barris de petróleo por dia, aproximadamente o mesmo que Irã e Emirados Árabes Unidos, que são membros da Opep. E, nesta COP, o governo anunciou que o Brasil passará a integrar a Opep+, grupo que reúne os 13 países da Opep mais dez outros países observadores, sem direito a voto.
O presidente comentou o aparente contrassenso de participar de um bloco petroleiro à imagem de potência ambiental propagada pelo país. "O Brasil não será membro efetivo da Opep nunca porque nós não queremos. Agora, o que nós queremos é influir", afirmou.
"O observador vai para ouvir e vai para dar palpite. E por que é importante para o Brasil participar? É verdade que nós precisamos diminuir o combustível fóssil, mas é verdade que nós precisamos criar alternativa. Então, antes de acabar, você precisa oferecer à humanidade uma opção. A participação na Opep+ é para a gente discutir com a Opep a necessidade investirem um pouco do seu dinheiro para ajudar os países pobres do continente africano, da América Latina, da Ásia."
Outro assunto levantado pela imprensa foi a atual situação de conflito entre a Guiana e a Venezuela, que está reivindicando território do vizinho.
"Conversei por telefone com o presidente da Guiana duas vezes. O Celso [Amorim, assessor especial da Presidência] já foi na Venezuela conversar com o [Nicolas] Maduro [ditador da Venezuela]. Tem um referendo, que provavelmente vai dar o que o Maduro quer, porque é um chamamento ao povo para aumentar aquilo que ele entende que seja o território dele. E ele não acata o acordo que o Brasil já acatou", disse.
"Só tem uma coisa que a América do Sul não está precisando agora: confusão. Se tem uma coisa que precisamos para crescer e melhorar a vida do nosso povo é a gente baixar o facho, trabalhar com muita disposição de melhorar a vida do povo e não ficar pensando em briga. Não ficar inventando história. Espero que o bom senso prevaleça do lado da Venezuela e do lado da Guiana."
Quanto ao acordo União Europeia-Mercosul, Lula disse que já sabia que a França tinha uma posição mais protecionista. Durante a COP28, o presidente francês Emmanuel Macron disse ser contra as negociações.
"Se não tiver acordo, paciência. Não foi por falta de vontade. A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil e que não digam mais que é por conta da América do Sul", disse Lula.
"Assumam a responsabilidade de que os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão. É sempre ganhar mais. E nós queremos ser tratados com respeito de países independentes. Vamos ver como vai acontecer na sexta-feira [dia 8]. Se não tem acordo, pelo menos vai ficar patenteado de quem é a culpa de não ter acordo", finalizou.
No início da entrevista, Lula lembrou que a COP30 será realizada em Belém do Pará. "Eu alertei as pessoas para que ninguém fique imaginado que vai ser possível repetir uma COP como essa, com esse luxo, essa riqueza. Não é possível fazer isso em outro país, a não ser que seja outro país árabe ou quem sabe no Principado de Mônaco", afirmou.
"Mas nós vamos fazer uma COP com a cara do Brasil, num estado amazônico que vai ser a grande novidade. Se a gente não vai ter o palácio que tem aqui para fazer uma reunião, a gente pode fazer embaixo da copa de uma árvore e discutir assuntos numa canoa num igarapé. Essa vai ser a nossa COP, no Brasil, em 2030."