O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, culpou nesta terça-feira (5/12) os juros altos praticados pelo Banco Central (BC) pelo "fraco" resultado do PIB (Produto Interno Bruto, ou soma de bens e serviços produzidos no país), que registrou alta de 0,1% no terceiro trimestre.
"O PIB surpreendeu positivamente, porque cresceu e o mercado estava esperando uma retração. Mas quero alertar para o seguinte: a taxa de juros real (descontada a inflação) atingiu seu patamar mais alto em meados de junho, e o Banco Central só começou a cortar os juros em agosto", disse Haddad a jornalistas na frente do hotel onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está hospedado na Alemanha.
"Tivemos um PIB positivo, mas fraco e, com os cortes nas taxas de juros, esperamos que fechemos o PIB em mais de 3% de crescimento (em 2023). E esperamos um crescimento na faixa de 2,5% no ano que vem, mas o Banco Central precisa fazer o trabalho dele", acrescentou.
Na mais recente edição do Boletim Focus do Banco Central, os economistas e instituições ouvidas esperam uma alta de 1,5% do PIB em 2024, contra 2,84% em 2023.
A economia brasileira subiu 0,1% no terceiro trimestre (julho a setembro) em relação aos três meses anteriores, divulgou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Apesar de ser uma pequena variação, o resultado superou expectativas dos analistas, que era de uma queda média de 0,2% nessa base de comparação.
Ao contrário do esperado, trata-se da terceira taxa positiva consecutiva e deixa o PIB (soma de bens e serviços produzidos no país) no maior patamar da série histórica.
De janeiro a setembro, o PIB acumulou alta de 3,2%, na comparação com mesmo período do ano passado.
O governo vem cobrando a redução da taxa básica de juros, a Selic, atualmente a 12,25% ao ano, do Banco Central, para estimular a retomada da economia, com críticas de Haddad e de Lula direcionadas especificamente ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central está marcada para os dias 12 e 13 de dezembro.
Minutos após a declaração de Haddad em Berlim (Alemanha), Lula deixou o hotel. O presidente fez um balanço rápido de sua viagem e destacou a reaproximação do Brasil com a Alemanha.
"Confesso a vocês que saio da Alemanha muito orgulhoso porque já fui presidente por oito anos e essa foi a melhor reunião que o Brasil já fez com o governo alemão. Acho que o Brasil pode ter o orgulho de se transformar no país que mais pode oferecer perspectiva nesse momento que a gente discute de transição energética. Não vamos jogar fora as oportunidades do século 21 que jogamos fora no século 20", disse o petista.
Lula embarca de volta ao Brasil nesta terça-feira. Ele chegou a Berlim no último domingo (3/12), após um giro internacional por Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, onde discursou na Conferência do Clima da ONU (COP28).
Na capital alemã, ele se encontrou com o presidente e chanceler do país, além de empresários.
Segundo o governo brasileiro, foram assinados cerca de 20 acordos nas mais diversas áreas, incluindo energia, meio ambiente e tecnologia e inovação.
Após encontro com o chanceler alemão Olaf Scholz na tarde de segunda-feira (4/12), Lula afirmou a jornalistas que não vai desistir do acordo Mercosul-União Europeia, apesar da mudança do governo da Argentina e da oposição da França.
Esta é a última viagem internacional de Lula neste ano — ele chegou a ser convidado para a cerimônia de posse do novo presidente da Argentina, Javier Milei, em 10 de dezembro, mas sinalizou que não comparecerá à cerimônia.
Em 2023, Lula saiu do Brasil 15 vezes, visitou 23 países e passou mais de 60 dias no exterior.