Plantação de 300 hectares na Fazenda Natanael alcançou, neste ano, cerca de 21 mil sacas com padrão para exportação

Plantação de 300 hectares na Fazenda Natanael alcançou, neste ano, cerca de 21 mil sacas com padrão para exportação

Luiz Ribeiro/EM/D.A PRESS

 

Rio Pardo de Minas – O Brasil é o maior produtor mundial de café, com grande produção em regiões de clima temperado ou frio, de altitudes elevadas e com bom volume de chuvas, como o Sul de Minas e as montanhas do Espírito Santo. Mas é possível produzir café no semiárido com resultados altamente favoráveis. Essa proeza é mostrada pelo produtor Carlos Otone Pena, no município de Rio Pardo de Minas, no Norte do estado, onde ele comanda o plantio irrigado de 300 hectares de cafezais e atingiu a maior média de produtividade do país.

Otone Pena segue a trilha de sucesso do agricultor Jorge Molon, do município de Curral de Dentro (vizinho de Rio Pardo), que, conforme mostrou o Estado de Minas, cultiva frutas típicas de clima frio, como maçã, ameixa, uva, pêssego e morando, vencendo a seca ao recorrer a novas tecnologias, inovação e uso racional da água.

Na mesma “pegada”, o produtor de café supera a adversidade climática por meio de pequenas barragens, com o uso racional do recurso hídrico. Mas, se por um lado ele enfrenta (e supera) a carência de chuvas, por outro, é “compensado” por outro elemento que vem do céu: a luz solar. O sol forte, da mesma forma como é aproveitado para a geração de energia, é um importante benefício para a cultura cafeeira, pois contribui para o processo de fotossíntese e melhora a produtividade e a qualidade dos frutos.

Com a “ajuda” do clima, Otone Pena atingiu a produtividade de 75 sacas por hectare irrigado, sendo que em regiões produtoras, como o Sul de Minas, a produtividade média do café de sequeiro varia de 22 a 25 sacas por hectare. A média da mesma cultura irrigada em outras regiões gira em torno de 40 sacas por hectare.

“Quanto mais luz do sol, mais a planta produz”, afirma o agricultor. “Plantamos o café em cima da Serra Geral (900 metros de altitude), onde tem mais luminosidade do que outras regiões. Temos aqui duas horas de sol a mais por dia do que o Sul de Minas”, destaca o cafeicultor, cuja propriedade também conta com uma usina de produção de energia solar. Na região há cerca de 25 anos, ele produz o café especial (variedade arábica), que alcança em torno de 85 pontos (varia de 0 a 100) na medição de qualidade, a mesma pontuação da bebida do Sul de Minas.

RECURSO GUARDADO

Aliado ao uso da intensidade solar, Otone Pena assinala um fator que faz a diferença na superação da seca: ele consegue “guardar” e economizar água, usada de forma racional. Conforme o meteorologista Ruibran dos Reis, do Instituto Climatempo, o município de Rio Pardo de Minas tem uma média histórica 819 milímetros de chuvas anuais, bem abaixo do volume histórico de municípios produtores de café do Sul de Minas, como Guaxupé, que tem uma densidade pluviométrica média anual de 1.943 milímetros, segundo Ruibran.

“Produzimos o café com pouco mais de 800 milímetros de chuvas por ano porque aqui nós otimizamos o uso do recurso hídrico. Guardamos a água quando ela cai para usá-la quando for necessário, por meio da irrigação”, relata o produtor. “Em outras regiões cafeeiras como o Sul de Minas, a irrigação é complementar. Para nós, ela é essencial”, destaca, lembrando que precisa irrigar o plantio de café praticamente o ano inteiro.

Ele salienta que a iniciativa que viabiliza a manutenção da lavoura de café foi a construção de quatro pequenas barragens, numa extensão de quatro quilômetros, no Córrego Cabeceiras, que margeia sua propriedade, a Fazenda Natanael. Ele retira a água dos reservatórios para molhar os cafezais.

O agricultor ressalta que foi devido à própria escassez que “aprendeu” a economizar e otimizar o recurso hídrico. “Está provado que a pouca água nos ensina a trabalhar com eficiência, buscando maior produtividade e qualidade. A gente aproveita bastante a água disponível e não desperdiçamos nada”, assegura.

O produtor explica que, como uma forma de economizar o recurso hídrico, adota a irrigação por pivô central com o emprego do aspersor tipo “lepa”, com uso de tubos nas “ruas” de café, que permitem molhar diretamente o pé da planta (irrigação localizada). Com a técnica, a água é fornecida de acordo com a necessidade, eliminando o desperdício.

O cafeicultor de Rio Pardo de Minas também é adepto do uso da adubação orgânica, feita com a palha do próprio café, do esterco de gado, resíduo de galinha e bagaço de cana. Ele afirma que 40% dos adubos que usa são de origem natural/orgânica. “Mas, a nossa meta é chegar a 80%”, anuncia. A propriedade conta com uma área de compostagem.

A Fazenda Natanael alcançou neste ano uma produção total de cerca de 21 mil sacas de café de alta qualidade. A colheita é exportada para países como Estados Unidos, Alemanha, Itália e Japão.


GARANTIA DE EMPREGO

O produtor Carlos Otone Pena refuta qualquer argumento que coloca o semiárido como uma região improdutiva. “Estamos numa região de terras férteis, que pode prosperar e superar as dificuldades climáticas. Para isso, basta apenas apoio ao produtor para que ele possa se desenvolver com uso sustentável da água e produzir com qualidade”, afirma.

Ele destaca a relevância da construção de pequenos barramentos para assegurar a convivência com a seca e a superação das mudanças climáticas. “As pequenas barragens são a salvação da região semiárida, pois elas retêm a água da chuva, viabilizam a produção do café e geram emprego e renda, garantindo a convivência com a seca”, diz.

Otone Pena lembra que o próprio órgão estadual que cuida dos recursos hídricos, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), visitou os barramentos em sua propriedade e constatou a importância da iniciativa para viabilizar a convivência com as estiagens prolongadas e garantir a produção sustentável no sertão.

A produção no semiárido mineiro também contribui para evitar o êxodo para outras regiões. De acordo com o produtor, a Fazenda Natanael emprega em torno de 80 a 100 trabalhadores – a quantidade aumenta no período de safra (que alcança o pico em junho). São moradores do Norte de Minas que antes migravam para o serviço temporário, em busca do sustento, nas colheitas de café no Sul de Minas e outras áreas produtoras.

O agricultor lembra que também colabora na expansão da cultura cafeeira no Norte de Minas, com a produção de mudas para serem fornecidas a outros produtores da região. Em sua propriedade há um viveiro que produz em torno de 200 mil mudas de café por ano.

Além das mudas, os produtores contam com a assistência do Sebrae Minas, por meio do Programa Agente Local de Inovação (ALI). “Auxiliamos a produtores na hora de vender a safra, sobretudo do café especial de qualidade, orientando sobre o levantamento de custos de produção e fixação do preço de venda do produto no mercado”, informa Albertino Correa, analista do Sebrae Minas em Salinas.

LARGA ESCALA

Também no município de Rio Pardo de Minas, a produção de café em larga escala é destaque nas fazendas Apóstolo Simão Coffee, que contam com uma área plantada de 350 hectares irrigados com alto índice de produtividade. A água que garante a manutenção da cultura é captada em uma barragem construída há 28 anos, no Rio Pardo, pelo dono da propriedade, Carlos Humberto de Morais. A barragem foi feita com o uso da técnica de soleira de nível, que possibilita que a água corrente passe por cima do barramento, mantendo normalizada a vazão do rio. A lavoura conta com 56 trabalhadores fixos – na época da safra gera em torno de 120 empregos. A produção na safra 2023/2024 foi de 25.400 sacas.