A partir de abril de 2024, Minas Gerais iniciará a produção de imãs de terras-raras, colocando o Brasil no mercado do item que equipa carros elétricos, geradores eólicos, equipamentos de ressonância magnética, celulares, elevadores e outros equipamentos e que hoje é dominado pela China, que atende a 90% da demanda. A produção comercial terá início a partir da venda do Laboratório de Produção de Ímãs de Terras Raras (LabFab ITR) pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) por R$ 35 milhões para a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). O negócio, anunciado na última quinta-feira, possibilitará a entrada em operação, de forma efetiva, do empreendimento em Lagoa Santa, com capacidade de produção de 100 toneladas por ano de ímãs de alto desempenho por ano.
“A expectativa é de que o laboratório possa entrar em operação rápido pela flexibilidade na importação de insumos importados”, informou o diretor-presidente da Codemge, Thiago Toscano ao afirmar que a indústria poderá operar com eficiência o complexo com uma planta piloto, a planta principal e os laboratórios vinculados ao projeto. Ainda de acordo com ele, a transferência para a iniciativa privada permitirá ao governo uma economia anual da ordem de R$ 5 milhões. Já o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, avaliou que a “compra do laboratório é um grande passo para o futuro das terras raras em Minas Gerais”, acrescentando que a operacionalização da produção de ímãs faz mais sentido para a iniciativa privada.
“O investimento no laboratório é insignificante em termos do que ele vai gerar para Minas, o vale do lítio já é uma realidade, e os minerais críticos, como lítio e as terras raras, são a porta do futuro e são imprescindíveis”, afirmou Roscoe. A compra pela Fiemg ocorre após dois leilões realizados pelo estado em que não houve nenhum comprador. O valor foi fixado com base no preço mínimo fixado pelo governo. O empresário informou ainda que os laboratórios serão incorporados à rede de laboratórios do Centro de Tecnologia e Inovação (CIT-Senai), que representam investimentos de R$ 250 milhões e contam com 200 pesquisadores. O LABFAB ITR “entra no ecossistema de inovação da indústria”.
A expectativa é que no primeiro ano de operação sejam produzidas 5 toneladas de imãs sinterizados de neodímio-ferro-boro a partir da importação de óxido de neodímio. No segundo ano a produção deve triplicar, crescendo até atingir a capacidade plena, quando serão demandadas 30 toneladas de óxido de neodímio. O insumo será importado da China e do Reino Unido. Para Flávio Roscoe, o laboratório de terras raras dará suporte ao desenvolvimento da cadeia produtiva de terras raras em Minas Gerais. Segundo a Codemge, a capacidade de produção pode ser elevada para 250 toneladas/ano com a estrutura já existente.
O estado é hoje o maior polo de pesquisas e projetos para produção de elementos de terras raras (ETR). Neste ano, duas mineradoras australianas anunciaram projetos no estado para a produção de terras raras a partir de argila iônica, e uma terceira sul-africana firmou acordo com uma produtora de fertilizantes para extração de ETR dos resíduos da produção de fertilizantes fosfatados. Uma empresa brasileira também assinou protocolo para minerar terras raras em Patos de Minas.
A Meteoric Resources vai investir R$ 1 bilhão para produção em Poços de Caldas, no Projeto Caldeira. onde a Viridis Mining and Minerals vai destinar R$ 1,2 bilhão para desenvolver o Projeto Colossus Terras Raras, enquanto a brasileira Terra Brasil tem protocolo com o governo de Minas para investir R$ 2,4 bilhões nos próximos anos para explorar terras raras, fosfato, potássio e titânio em Patos de Minas e Presidente Olegário, no Alto Paranaíba. Os projetos totalizam R$ 4,2 bilhões e podem levar o Brasil a responder por 10% a 15% da demanda global de ETRs. Já a sul-africana Rainbow Rare Earths firmou acordo com a fabricante de fertilizantes The Mosaic Company para desenvolver uma rota e fazer a avaliação econômica da extração de ETRs da pilha de fosfogesso da Mosaic em Uberaba.
Para se ter uma noção do potencial de mercado desses elementos, o especialista em Materiais Avançados do GraNioTer Renato de Mendonça afirma que um parque de geração eólica offshore com capacidade de 500 megawatts (MW) são necessários cerca de 300 toneladas de ímãs neodímio-ferro-boro. Um motor elétrico demanda 1 quilo (kg) Para o pesquisador do hub tecnológico de materiais avançados e minerais estratégicos do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN). Para ele, o Brasil terá a mineração e o produto final, mas precisa aproveitar a oportunidade para verticalizar a cadeia com a produção também de óxidos. “O Brasil pode e tem condições de dominar o ciclo de produção de terras raras, mas é preciso esforço da sociedade, de lideranças políticas, de pesquisadores e empresários para não permitir que o país seja apenas produtor de mais uma matéria-prima”, ressaltou Renato de Mendonça em artigo.
Reservas minerais
O Brasil tem a terceira maior reserva do mundo de terras raras, atrás da China e perto do Vietnã. As terras raras são 17 elementos de difícil extração embora estejam mais presentes no subsolo do que o ouro ou a prata. No Brasil elementos de terras raras são explorados desde 1886 a partir de areia monazítica no litoral brasileiro, no Sul da Bahia e no Rio de Janeiro. Agora a exploração será feita em argila iônica, abundante em regiões onde há vulcões extintos, como em Poço de Caldas, localizada na cratera de um vulcão extinto. O foco da produção no Brasil está em três elementos (neodímio, praseodímio e disprósio) usados na fabricação de super ímãs. Especialistas estimam que a demanda por esses minerais deve crescer seis vezes até 2040.