Igualdade salarial também gera ganho econômico, dizem especialistas -  (crédito: jcomp/Freepik/Reprodução)

Igualdade salarial também gera ganho econômico, dizem especialistas

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De acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 51,5% da população brasileira é composta por mulheres, mas os homens ainda recebem salários até 50% maiores que os delas. É o que diz um levantamento realizado pela Vagas, uma das maiores plataformas de carreiras do país, divulgado neste Dia Internacional das Mulheres (8/3).

 

Segundo a pesquisa da Vagas, ainda há discrepâncias significativas entre homens e mulheres em diversas áreas profissionais – apesar de elas ainda possuírem maior nível de especialização.

A disparidade salarial é um problema estrutural no Brasil que persiste e reflete as desigualdades de gênero da nossa sociedade. Ela acontece principalmente em cargos de liderança – mas está em todos os níveis – porque ainda faltam muito políticas corporativas que falem sobre a necessidade de equidade salarial e de gênero”, explica Ariane Santana, especialista em diversidade, equidade e inclusão da Vagas.

Números preocupam

O levantamento analisou dados de mais de 8 milhões de currículos dos últimos cinco anos e concluiu que as mulheres têm mais dificuldades de chegar em posições de liderança – e tendem a receber menos independentemente do cargo –, justamente onde a disparidade é maior. 

 

Segundo a pesquisa, em termos de salário médio, as mulheres (R$ 4.118) ganham 24% menos que os homens (R$ 5.106). No entanto, quando comparados por níveis, a desigualdade é maior quanto mais alto é o cargo. As maiores diferenças salariais estão concentradas no nível de média e alta gerência: nos cargos de supervisão/coordenação, gerência e diretoria, os salários podem ser maiores que os das mulheres em até 32%, 31% e 51%, respectivamente.

Diferenças nos cargos

A pesquisa da Vagas também destaca que, embora as mulheres representem a maioria na base dos currículos do site de empregos da plataforma – com 56% contra 44% dos homens –, elas ainda enfrentam desafios consideráveis em termos de representatividade em cargos de média e alta gestão.

 

Ainda que as mulheres possuam maior nível de especialização – 14,1% possuindo pós-graduação em comparação a 12,2% dos homens –, elas predominam em cargos operacionais (77% em comparação em todos os currículos de mulheres analisados pela Vagas, contra 73% de homens no mesmo nível). Nos cargos corporativos, há igualdade entre os dois gêneros.

 

Já em relação aos cargos de média e alta gestão, há uma inversão: são 11% dos homens nesses cargos, enquanto 7% das mulheres têm essas posições. Também nota-se que os homens possuem maior presença acima dos níveis seniores, ou seja, quanto mais alto o nível do cargo, maior é a discrepância entre profissionais masculinos e femininos.

 

“Embora as mulheres apresentem maior nível de especialização acadêmica, essa vantagem não se traduz igualmente em oportunidades de carreira, sendo que elas ainda encontram diversos obstáculos na ascensão profissional a cargos de liderança, o que reforça a necessidade de uma atuação mais ativa das empresas na busca por uma equidade de gênero no espaço corporativo”, diz Luciana Calegari, especialista em recrutamento e seleção da Vagas.

 

Segundo Ariane Santana, as mulheres enfrentam dificuldades para avançar para cargos de liderança ou de alta gerência. "Elas ganham menos, têm menor poder aquisitivo, mas ainda somos a maioria da população. Para a economia, seria muito mais vantajoso que as mulheres ganhassem mais, porque representaria um maior movimento de capital”, complementa a especialista em diversidade, equidade e inclusão da plataforma de empregos.

Faltam políticas de equidade

Ainda de acordo com Luciana, o contexto evidenciado pela pesquisa da Vagas destaca a necessidade de programas e políticas que incentivem a ascensão profissional das mulheres.

 

“Não basta apenas criar mecanismos que reduzam barreiras contra a participação de mulheres em cargos de liderança, mas, sobretudo, ações que promovam igualdade também para aquelas que já estão nessas posições, como a igualdade salarial, uma vez que mesmo ascendendo a esses cargos, muitas delas ainda ganham menos que seus pares do sexo masculino”, afirma a especialista.

 

"A igualdade de gênero no mercado de trabalho não é apenas uma questão de justiça social, mas também de eficiência econômica. Empresas que promovem a diversidade de gênero tendem a ser mais inovadoras e competitivas. Portanto, é fundamental que as empresas reconheçam e abordem essas disparidades de gênero, não apenas como uma questão de justiça social, mas também como uma estratégia de negócios para promover a diversidade e impulsionar a inovação e o crescimento", acrescenta ela, que lembra a aprovação da Lei 14.611/23, que visa garantir a igualdade salarial entre homens e mulheres. "Mas é imprescindível também um engajamento maior das empresas nesta causa”, finaliza.

 

 

Dados da pesquisa do IBGE

 

Um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a partir de dados da Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, também mostra a disparidade salarial no país. Os números mostram o rendimento médio de cada gênero.

 

De acordo com o levantamento, o rendimento médio mensal das mulheres (R$ 2.562) no 4º trimestre de 2023 foi 22,3% menor do que o recebido pelos homens (R$ 3.323).

 

Entre todas as ocupadas, 39,9% recebiam no máximo um salário mínimo. Entre as negras, metade ganhava até esse valor (49,4%), enquanto essa proporção era de 29,1% entre as não negras e de 29,8% entre os homens. Já entre o público que terminou o ensino superior, elas ganhavam, em média, R$ 4.701, 35,5% a menos do que eles (R$ 7.283).

 

Quatro de cada dez pessoas (39,6%) ocupadas como diretoras ou gerentes eram do sexo feminino, mas quando se observa o rendimento de homens e mulheres nessa função, nota-se que elas (R$ 5.900) recebiam 29,5% a menos do que eles (R$ 8.363), no 4º trimestre de 2023.

 

Minas Gerais totalizou 4,6 milhões de mulheres ocupadas, das quais 43,8% ganhavam até um salário mínimo. Em comparação com o rendimento médio mensal dos homens (R$ 2.954), elas recebiam 23% menos (R$ 2.271).

 

Em Belo Horizonte, de acordo com dados do IBGE, os homens ganham 33,3% a mais do que as mulheres – enquanto eles recebem em média R$ 4.883, elas têm rendimento de R$ 3.663. Esse é um dos motivos que levam as mulheres a liderar, com certa frequência, o cadastro de inadimplência do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) na capital mineira.

 

“Ao longo do último ano, as mulheres permaneceram, a maior parte do tempo, como as principais inadimplentes. Ainda que o valor devido por elas seja inferior ao dos homens, o volume de dívidas por CPF é maior, pois elas são as responsáveis pelas compras de manutenção da casa e têm uma renda menor”, explica o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva. De acordo com o levantamento da entidade, em janeiro de 2024, o valor médio devido pelas mulheres era de R$ 4.905,92 e, pelos homens, R$ 5.288,44.