FOLHAPRESS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira (11/3) que a Petrobras tem de pensar nos 200 milhões de brasileiros que são donos, sócios dela, não apenas acionistas.
O mandatário chamou ainda o mercado financeiro de "dinossauro voraz", que quer tudo para ele.
A declaração ocorre em meio a uma crise envolvendo a companhia. Na semana passada, a Petrobras anunciou queda no lucro da empresa e não distribuiu todos os dividendos esperados aos acionistas, o que levou a um temor por pressão do Planalto sobre a companhia e desabou as ações na bolsa.
Com isso, a empresa perdeu mais de R$ 55 bilhões em valor de mercado. Já no pregão desta segunda, as ações da petroleira chegaram a apresentar recuperação e operaram em alta na maior parte do dia, mas passaram a cair após as declarações do presidente.
A Petrobras registrou queda de 1,30% nos papéis preferenciais (sem direito a voto) e 1,95% nos ordinários (com direito a voto). Desde sexta-feira (8), empresa já perdeu R$ 63,7 bilhões em valor de mercado.
"O que eu acho é que a Petrobras, que é empresa em que o governo tem ascendência sobre ela, é importante ter em conta o seguinte: a Petrobras não é apenas uma empresa de pensar nos acionistas que investem nela, porque a Petrobras tem que pensar no investimento e pensar em 200 milhões de brasileiros que são donos dessa empresa ou sócios dessa empresa", disse Lula, em entrevista ao SBT.
"Se eu for atender apenas a choradeira do mercado, você não faz nada. Porque o mercado, vou contar uma coisa para vocês, mercado é um rinoceronte, dinossauro voraz. Ele quer tudo para ele, nada para o povo. Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome?", disse.
A entrevista foi gravada na manhã desta segunda e trechos estão sendo divulgados ao longo do dia. A íntegra só vai ao ar à noite.
Direção da Petrobras
O mandatário falou ainda na utilização da fatia dos recursos que não foi distribuída em investimentos da companhia, como para fazer "mais pesquisa, mais navio, mais sonda". O Novo PAC, uma das vitrines do governo Lula 3, tem mais de R$ 300 bilhões da Petrobras.
"Então, tivemos uma conversa séria aqui do governo com a direção da Petrobras, porque a gente acha que é importante a gente pensar na Petrobras, é preciso pensar nos acionistas, mas é preciso a gente pensar no povo brasileiro", afirmou.
Mais uma vez, também, Lula prometeu reduzir o preço do combustível, sem entrar em maiores detalhes. Ele criticou o PPI (Preço de Paridade de Impotação), ao dizer que que não tem porque o preço ser equiparado ao internacional.
O presidente disse ainda, na entrevista, que a economia não está tão bem quanto queria que ela estivesse, apesar de ter crescido mais do que o esperado no ano passado, quando o PIB (Produto Interno Bruto) fechou acima do esperado com 2,9%.
"Economia está bem, mas não está tão bem quanto a gente quer que ela esteja. Porque vamos trabalhar para a economia ficar muito melhor. (...) Quando eu deixar a presidência em 2026, quero deixar economia mais forte, salário mais forte, emprego mais forte, e participação das pessoas no consumo da sociedade brasileira mais forte. Para isso, temos que baratear produtos, baratear alimento", disse
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Reunião
O presidente realizou segunda uma reunião com o presidente da companhia, Jean Paul Prates, e os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).
O episódio levou a uma nova crise na Petrobras, com ações despencando, e a mais um capítulo de briga nas entranhas do governo. A disputa se concentra, sobretudo, entre Jean Paul Prates e Silveira, com Fernando Haddad (Fazenda) do lado do presidente da Petrobras e Rui Costa (Casa Civil), do outro.
Integrantes da cúpula da Petrobras afirmam que Lula foi induzido a erro pelo Ministério de Minas e Energia, comandado por Alexandre Silveira, ao avalizar a retenção dos dividendos extraordinários da Petrobras.
Aliados do presidente dizem que o Planalto vai avaliar se a distribuição de metade dos dividendos afeta o plano de investimentos da estatal. A cúpula do Ministério de Minas e Energia avalia que sim. Já a diretoria da Petrobras diz que não.
Ainda segundo aliados, Lula poderá reavaliar a retenção dos dividendos extraordinários, caso seja convencido por Prates que a distribuição não afeta o plano de investimentos da Petrobras. Neste caso, o presidente da companhia, que está muito pressionado, ganharia sobrevida.
A diretoria financeira da Petrobras apresentará seus argumentos ao conselho administrativo, que votou pela retenção. Se convencidos, seus membros poderiam rever seus votos ? o que seria incomum, teria de ser justificado e poderia trazer desgaste aos conselheiros.
Na segunda hipótese, o presidente manterá a reserva do dinheiro se prevalecer a tese de que sua distribuição abala o plano de investimentos.
A crise escalou de tal forma que aliados de Lula no Planalto dizem que Prates ficou fragilizado e não descartavam até mesmo uma eventual demissão.