O Banco do Japão (central) elevou nesta terça-feira (19) sua principal taxa de juros pela primeira vez em 17 anos, abandonando a sua política de juros negativos.
O banco promoveu a política monetária ultra flexível para estimular o crescimento econômico e o aumento de preços após "décadas perdidas" de estagnação e deflação.
Nesta terça-feira, no entanto, a instituição anunciou em um comunicado que a taxa de juros de curto prazo passará do atual -0,1% para entre 0 e 0,1%.
O banco "avaliou o ciclo virtuoso entre salários e preços e considerou que se vislumbra que a meta de estabilidade (no aumento) dos preços de 2% será alcançada de maneira sustentável e estável", acrescenta a nota.
A decisão tornará os empréstimos mais caros para consumidores e empresas, mas permitirá que os bancos ganhem mais dinheiro com os seus empréstimos.
Também aumentará a fatura da dívida nacional do Japão, calculada em 260% do PIB, um dos níveis mais elevados do mundo.
Taro Saito, economista do NLI Research Institute, declarou à AFP que a decisão representa "um grande passo para o Banco do Japão rumo à normalização da política monetária que tanto almeja".
Nos últimos dois anos, os bancos centrais das grandes economias, começando pelo Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos, aumentaram as taxas de juros para conter a inflação provocada pela invasão russa da Ucrânia, em 2022.
Embora a inflação tenha alcançado 4% no Japão, o banco central decidiu manter as suas taxas em território negativo, como estavam desde 2016, para tentar incentivar os empréstimos.
A política contrária à adotada pelas outras potências também provocou uma desvalorização do iene em relação ao dólar, uma boa notícia para os exportadores, mas não tanto para os consumidores, uma vez que encarece os produtos importados.
A desvalorização do iene também provocou, na cotação em dólar, a queda do Japão do posto simbólico de terceira maior economia do mundo, ocupado atualmente pela Alemanha.
Para o economista Saito, o Banco do Japão não adotará um aumento mais expressivo dos juros até obter "sinais mais claros de que a economia está melhorando".
De fato, há quase dois anos a inflação está ao redor da meta de 2% estabelecida pelo Banco do Japão. Mas a instituição quer mais evidências de que os salários também estão em alta e de que aumento dos preços é estimulado pela demanda e não por fatores temporários.
Para Stefan Angrick, da agência de classificação Moody's, o banco "está se precipitando" porque não há certeza de que acontecerão mais aumentos salariais ou uma demanda interna mais forte.
"No passado, quando o Banco do Japão se precipitou a endurecer sua política, rapidamente ocorreu uma contração", advertiu.