No primeiro trimestre de 2024, a Gerdau, uma das principais empresas do setor siderúrgico, registrou um lucro líquido de R$ 1,2 bilhão. Esse desempenho representa uma redução de 50% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando o lucro líquido atingiu R$ 2,4 bilhões.
Segundo balanço apresentado pela siderúrgica nesta sexta-feira (3/5), o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) deste período foi de R$ 2,8 bilhões, com margem Ebitda ajustada de 17,4%. No primeiro trimestre de 2023, o Ebitda foi de R$ 4,3 bilhões, com margem de 22,9%. As vendas físicas de aço alcançaram 2,7 milhões de toneladas de janeiro a março deste ano.
Os resultados do primeiro trimestre ainda refletem o impacto do mercado de aço chinês. Segundo o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, o crescimento da economia chinesa no primeiro trimestre - que teve avanço no PIB de 5,3% - veio acompanhado também do aumento das exportações de 5% no mesmo período.
“As exportações de aço aumentaram 25% em março, para quase 10 milhões de toneladas. No trimestre, a alta foi de 31% para 26 milhões de toneladas, o que tem impactado negativamente o mercado mundial de aço, uma vez que o excedente de produção de aço destinado para exportação tem sido subsidiado pelo governo chinês”, avaliou.
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Durante a divulgação do relatório, Werneck afirmou que a decisão do governo federal de aumentar o imposto de importação para 11 tipos de produtos de aço é uma iniciativa positiva e crucial para o mercado. Com essa medida, a alíquota para a importação de determinados itens passou a ser de 25%. O empresário interpreta essa decisão como uma estratégia de "defesa comercial", que visa proteger a indústria nacional do aço contra práticas concorrenciais desleais.
Segundo ele, a proposta é um avanço importante, mas não resolve integralmente os problemas enfrentados pela indústria. Werneck ainda ressalta que é preciso acompanhar os reais impactos da iniciativa ao longo dos próximos meses.
“Foi um avanço muito significativo, muito importante, essa medida de defesa comercial implantada pelo governo federal, mais especificamente pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). Ela não resolve totalmente, mas a gente acredita que pela relação estreita que nós temos mantido ao longo dos últimos meses com o MDIC, se acontecerem novas importações, um crescimento de penetração de importados no Brasil ao longo dos próximos meses, novas medidas poderão ser adotadas”, pontuou o CEO da Gerdau.
Questionado pela reportagem se a iniciativa seria suficiente para retomar as atividades paralisadas de algumas usinas, Gustavo Werneck apontou que ainda é preciso aguardar os resultados da medida, mas demonstrou otimismo. "Certamente com uma redução de penetração de produtos importados no Brasil, a gente vai ter condição de produzir mais aqui internamente. E os fechamentos parciais de capacidades que a gente teve até então, eles podem ser revertidos, à medida que essa penetração de produtos importados for sendo reduzida ao longo dos próximos meses", disse.
Medida insuficiente
Ao ser questionado sobre o porquê da medida ser insuficiente, Gustavo Werneck mencionou que a iniciativa está relacionada a discussões antigas sobre competitividade. Ele expressou o desejo de que, além das atuais medidas de defesa comercial, haja um plano abrangente de fortalecimento da indústria de médio prazo. Para ele, a indústria brasileira enfrenta desafios, como a disponibilidade e preço do gás natural, que a impedem de competir globalmente, especialmente com produtos chineses.
“[A medida] não resolve olhando a competitividade do setor, do médio a longo prazo. Uma certeza que nós temos é que a China continuará ao longo dos próximos anos com um pé embaixo na exportação. A gente acha que isso que está acontecendo agora não é coisa de um trimestre, não é um ano, é uma transição da economia chinesa que vai demorar talvez uma década e, até que essa transição ocorra, a China vai colocar as exportações como uma grande financiadora de toda essa transição pela qual está passando. Então tem que buscar essa competitividade”, comentou.
Novas medidas podem ser tomadas
Segundo a empresa, a iniciativa engloba 25% dos produtos da companhia. Um dos itens, por exemplo, não atendidos pela medida do governo federal e produzido pelo Gerdau é o vergalhão. Ao comentar sobre esse produto, o CEO da companhia afirmou que a decisão foi tomada com base nos 11 produtos que mais tiveram aumento de importação entre 2020 e 2022. "A partir dessa análise eles tomaram a decisão de colocar essa medida de cota tarifária nesses produtos. O vergalhão não entrou porque quando você olha o crescimento de importação de vergalhão neste período de tempo, ele não foi tão relevante, tão significativo quanto foram os outros produtos”, afirmou.
Ainda segundo Werneck, há um compromisso do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para seguir monitorando as importações dos demais produtos, para caso seja necessário, tomar novas medidas.
“Se for identificado uma penetração acima da média de qualquer outro produto, vergalhão ou qualquer outro, será estudado (novas medidas) também para esses produtos, adicionalmente aos 11 que já foram implementados nessa cota. Essa medida de defesa comercial não termina por aqui”, pontuou.
“Tem um desafio agora que é seguir monitorando essas 11 NCMs, se vai crescer, se não vai crescer, se vai, de fato, trazer o equilíbrio necessário. Nós vamos acompanhar isso nos próximos trimestres junto com o MDIC e, caso seja necessário, novas medidas serão colocadas”, completou.
A Gerdau também ressaltou que a medida não terá impacto nos preços dos produtos. “O grande ganho, o grande benefício que nós teremos, não só na Gerdau, mas no setor, é aumentar a nossa capacidade produtiva no Brasil, é diminuir os custos, é manter o emprego”.
Investimentos
Ao todo, no primeiro trimestre de 2024, a Gerdau investiu R$ 858 milhões, sendo R$ 434 milhões em manutenção e R$ 424 milhões em projetos de expansão e atualização tecnológica, conforme informado pela companhia.
Dividendos
Ainda segundo a siderúrgica, a Gerdau S.A. e a Metalúrgica Gerdau S.A. pagarão dividendos nos dias 27 e 28 de maio, respectivamente. “Na Gerdau S.A., será pago o valor de R$ 0,28 por ação (equivalente a R$ 589,0 milhões) e na Metalúrgica Gerdau S.A. será pago o valor de R$ 0,19 por ação (equivalente a R$ 196,2 milhões), em ambos os casos sobre a posição de ações detidas em 15 de maio de 2024”, informou a empresa.