Dados do Banco Central mostram que nos últimos anos, os pagamentos com cheque tiveram uma redução drástica. Em quatro anos, caiu pela metade -  (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Dados do Banco Central mostram que nos últimos anos, os pagamentos com cheque tiveram uma redução drástica. Em quatro anos, caiu pela metade

crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (8/5) mudar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic). Depois de promover seis reduções consecutivas de 0,5 ponto percentual, a diretoria do BC anunciou uma queda de 0,25 ponto percentual na taxa, que passou de 10,75% para 10,50% ao ano.

 

A decisão veio em linha com a expectativa de vários economistas, mas a visão do BC não era unanimidade no mercado.

 

A maior cautela do Copom também vem a contragosto do governo Lula Inácio Lula da Silva (PT), que defende uma queda mais rápida dos juros no país.

 

O corte de 0,25 ponto percentual era a projeção de 22 dos 33 analistas consultados pela agência Bloomberg. No relatório Focus, a mediana das estimativas também era um corte para 10,50% ao ano.

 

 

Sondagem da XP Investimentos apontava que 55% dos 92 investidores institucionais consultados acreditavam no corte de 0,25 ponto, enquanto 45% esperavam manutenção do ritmo de 0,5 ponto.

 

Na última reunião do comitê, em 20 de março, o colegiado sinalizou que poderia haver mais um corte da mesma intensidade. Houve, no entanto, mudança no discurso de vários integrantes do BC nas últimas semanas.

 

Um fator determinante foi a piora no cenário internacional, com o banco central dos EUA, o Federal Reserve, sinalizando que os juros vão demorar mais a cair por lá.

 

O mercado estava confiante com uma desaceleração da inflação americana, mas o índice de preços tem se mostrado mais resiliente que o esperado.

 

Por aqui, a inflação passada melhorou, mas as expectativas para o futuro pioraram. O mercado de trabalho continuou forte, e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou a meta fiscal de 2025, sinalizando mais gastos.

 

Há também incertezas ligadas a eventos climáticos, como a questão das enchentes na Região Sul.

 

Esses fatores também contribuíram para a piora em alguns indicadores domésticos. A expectativa de inflação para 2025 teve ligeira alta, as taxas de juros de mercado subiram e o câmbio depreciou, em um linha com o que ocorreu com outras moedas em relação ao dólar.

 

A moeda americana estava em R$ 4,96 na última reunião do Copom, chegou a bater em R$ 5,27, mas recuou para R$ 5,14 nesta semana.

 

 

Em relatório desta semana, a consultoria LCA afirmou que a redução recente nas tensões externas, que se refletiu inclusive nesse recuo parcial do dólar, permitiria ao Copom manter o ritmo de corte dos juros em 0,50 ponto percentual em maio.

 

Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe Warren Investimentos, afirmou considerar essa reunião do Copom como uma das difíceis dos últimos anos, pois havia bons argumentos tanto para um corte de 0,5 quanto de 0,25 ponto - ele projetava um corte maior.

 

Em sua análise pré-Copom, o Santander afirmou que a recente virada nos discursos de alguns membros do Copom apontava para uma desaceleração no ritmo de corte dos juros, com a possibilidade de uma votação dividida.

 

O banco C6 também projetava um corte menor, citando as preocupações do BC com a mudança no cenário internacional, as expectativas de inflação e os riscos fiscais.

 

Para Hudson Bessa, especialista em mercado financeiro da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), os sinais de que as taxas de juros americanas permanecerão altas por mais tempo do que o estimado elevam o piso até o qual a taxa brasileira pode cair.

 

Ritmo das reduções da taxa

 

O ciclo de flexibilização da Selic teve início em agosto do ano passado e, desde então, foram seis reduções seguidas de mesma intensidade (0,5 ponto percentual). O novo corte, agora de 0,25 ponto, levou a taxa básica ao menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.

 

A meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e perseguida pelo BC neste e nos próximos anos é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

 

 

O último boletim Focus divulgado pelo BC mostra que a projeção de inflação para 2025 - que hoje tem maior peso na determinação do nível da Selic por causa da defasagem dos efeitos da política monetária na economia - voltou a subir, passando a 3,64%.

 

A inflação está em 3,93% nos 12 meses encerrados em março.

 

O Copom volta a se reunir nos dias 18 e 19 de junho para recalibrar o patamar da taxa básica de juros.