Artista plástico Osmar Oliva transforma folhas de espécies do Cerrado em obras de artesanato -  (crédito: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)

Artista plástico Osmar Oliva transforma folhas de espécies do Cerrado em obras de artesanato

crédito: Luiz Ribeiro/EM/DA Press

As folhas das espécies nativas do Cerrado estão sendo transformadas em uma obra de arte, em trabalho que, além de criatividade, envolve muita delicadeza. Este é um ofício realizado pelo professor e artista plástico José Osmar Pereira Oliva, de Montes Claros, no Norte Minas, que transforma o material em peças de artesanato, com figuras de aves do próprio bioma. As aves são “desenhadas” nas folhas com bordados de linhas coloridas.

 

O professor e artista plástico mostra a sua arte inovadora na “Bendita Feira”, até esta quinta-feira (9/5), em Montes Claros. O evento reúne cerca de 50 expositores das áreas de moda, artesanato, gastronomia, design, decoração, plantas e acessórios para mesa. Conta também com oficinas e palestras sobre o empreendedorismo.

 

 

Osmar Oliva revela que trabalha com o bordado em folhas de espécies como o Araticum, a Gameleira, a Pata de Vaca e o Ipê que, em épocas de estiagem (como no momento atual), começam a cair e se desintegram na natureza, sem nenhum aproveitamento. Ele borda nas folhas os desenhos de pássaros da fauna do Norte de Minas como tucano, o corrupião, o sabiá, o joão-de-barro e o beija-flor.

 

O artista plástico revela que o seu trabalho é feito “com muita delicadeza”, por causa da fragilidade das folhas secas. “É preciso ter muita leveza nas mãos, senão a folha rasga. Eu desidrato as folhas e faço a 'esqueletização' (secagem completa) delas para depois realizar o tratamento e higienização. Na sequência, com o uso de agulha e linha, faço os bordados nas folhas”, descreve o artesão.

 

Outro produto artesanal feito com matéria-prima retirada diretamente da natureza e apresentado na feira em Montes Claros é o sabonete produzido com o uso de óleo, retirado do capim citronela e da planta melaleuca, que tem funções terapêuticas.

 

A empresária Márcia Dayrell disse que o sabonete natural é produzido no sítio de sua família no município de Inhaúma, na Região Central do estado. Segundo ela, a produção foi iniciada a partir de estudos feitos por sua mãe, a farmacêutica Ilda de Oliveira, que trabalhou como pesquisadora da Fundação Ezequiel Dias (Funed).


 

A feira de Montes Claros reúne participantes de todas as idades. Uma delas é Maria Eunice Procópio, que produz tapetes de arraiolos. “Faço tapetes de arraiolos como diversão. Mas descobri que a atividade também é uma cura, pois, ao trabalhar fazendo os tapetes, movimento os braços e meu corpo. Isso é bom minha saúde, evitando doenças”, comentou a tapeceira.

 

Ela também desmistificou a ideia de que, no interior de Minas, a única referência histórica da produção de tapetes de arraiolos é Diamantina, no extremo norte da Região Central do estado. Maria Eunice conta que há cerca de 40 anos o ofício foi ensinado para um grupo de mulheres em Montes Claros, tendo como 'professora' a renomada artista plástica Yara Tupinambá, que nasceu na cidade-polo do Norte de Minas e transferiu residência para Belo Horizonte.

 

Outra curiosidade da mostra é a exibição de óculos  "artesanais". Os produtos foram expostos pelo pequeno empresário Saulo Policarpo que montou uma pequena produção em Montes Claros, usando equipamentos de uma indústria de óculos da cidade, a Siom. "Os nossos óculos e armações, em grande parte, são feitos  com produções limitadas, em pequenos lotes, a mão mesmo. Por isso que falamos que são óculos artesanais", explica Saulo.