BRASÍLIA, DF - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pediu dicas de comunicação com a sociedade para ex-presidentes da instituição durante evento para comemorar os 30 anos do Plano Real.
No encerramento da mesa, Campos Neto questionou Gustavo Franco, Gustavo Loyola, Pedro Malan e Pérsio Arida sobre o assunto.
O debate fiscal e a comunicação do BC ganharam força após a decisão do governo Lula (PT) de diminuir a meta fiscal de 2025, que passou de um superávit de 0,5% do PIB para zero.
A decisão entrou no cômputo do Banco Central em sua decisão de mudar a velocidade na redução da taxa de juros. Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), a instituição decidiu por uma queda de 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano. Antes, os cortes foram de 0,5 ponto percentual.
Gustavo Franco usou a música para comparar o período dele no BC com o atual. A comunicação quando ele comandava o banco, disse, era como o jazz, feito mais no improviso. Hoje, prosseguiu, é como a música clássica, com regras a serem seguidas e sem improvisação.
Malan, por sua vez, destacou a necessidade de coerência para ancorar as expectativas e da confiança da sociedade de que o objetivo do BC é estabilizar a inflação.
Para Pedro Malan, o objetivo de ancorar as expectativas exige uma coerência no discurso, e a sociedade precisa saber que a intenção de estabilizar é forte e será perseguida com tenacidade.
O economista Persio Arida, por sua vez, afirmou que modelos de inteligência artificial serão cada vez mais utilizados para prever a inflação e que os debates no Copom serão cada vez mais para avaliar se os membros concordam com o modelo ou não.
Arida também tocou na questão fiscal durante o evento. Ele afirmou que o tripé macroeconômico "é manco".
"A perna fiscal sofreu longa deterioração e as perspectivas não são boas", avaliou em evento no Banco Central para comemorar os 30 anos do Plano Real.
Estratégia do plano
O tripé macroeconômico foi uma política adotada no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1999 e mantida nas gestões posteriores.
Ela prevê um câmbio flutuante, um regime de metas de inflação e responsabilidade fiscal.
"Em questões fiscais o mais importante é como você acha que o filme vai correr para a frente. Existe esperança tácita que em 2026 ou 2027 tenha uma postura diversa da atual, mas é difícil de imaginar um programa que possa se sustentar com ameaça populista de déficits crescentes ao longo do tempo", disse Arida.
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A opinião foi secundada por dois outros participantes do seminário, o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola.
Malan ponderou que o desafio fiscal existe não só para o governo federal, mas também para estados e municípios.
"Existe visão de que responsabilidade fiscal não é compatível com responsabilidade social. Acho um equívoco, acho muito possível compatibilizar", avaliou Malan.
Já Loyola afirmou que até hoje o problema fiscal não foi resolvido, o que pesa no Banco Central.
"É onde estamos devendo e precisamos urgentemente atacar essa questão", acrescentou.