Presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) adiou a votação do texto que trata da taxação a importações de até 50 dólares -  (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) adiou a votação do texto que trata da taxação a importações de até 50 dólares

crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado

O Senado adiou a votação do projeto de lei que cria o programa automotivo Mover (Mobilidade Verde e Inovação) e tributa as compras de até US$ 50 em sites estrangeiros, como Shein, Shopee e Aliexpress, com alíquota de 20%.

 

O governo corria para aprovar o projeto de lei no prazo da MP (medida provisória) que criou o Mover, que caduca a partir do dia 31, para garantir que investimentos feitos a partir das regras da medida não entrassem num limbo jurídico. Uma MP editada pelo presidente da República começa a valer assim que é publicada. No entanto, ela tem validade de 120 dias. Caso o Congresso não vote a medida neste período, a norma perde avalidade.

 

Na semana passada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avisou a líderes partidários que, se o PL fosse aprovado pela Câmara dos Deputados, a votação no plenário ocorreria nesta quarta-feira (29/5), a dois dias do fim da MP.

 

A Câmara dos Deputados, porém, só aprovou o texto na noite desta terça (28/5), após semanas de discussões internas sobre a taxação das compras de até US$ 50. A redação final foi enviada ao Senado no fim da manhã desta quarta.

 

 

 

Diante do cenário, Pacheco marcou a votação para a próxima terça-feira (4/6) e afirmou a jornalistas que tudo será discutido pelos senadores - o que inclui o imposto das compras em plataformas internacionais. O senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) foi escolhido relator.

 

Durante a votação de um texto que reajusta os salários de parte do funcionalismo público, os senadores fizeram duras críticas à Câmara dos Deputados pelo prazo apertado - a MP que deu origem ao projeto de lei também caduca na sexta.

 

Para garantir que o projeto fosse sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até sexta, o Senado precisaria manter o texto da Câmara e fazer apenas ajustes pontuais que não exigissem uma segunda votação pelos deputados federais.

 

Consequências do adiamento

 

Com o adiamento da votação no Senado, o governo ainda avalia os impactos no programa automotivo Mover. Após a decisão de Pacheco, o líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA), minimizou os efeitos jurídicos.

 

"Estou respondendo o que eu sei: os contratos não caducarão. Os investidores podem ficar tranquilos porque isso será suprido", disse Wagner a jornalistas, reforçando que estava "trabalhando para votar" o projeto nesta quarta (29/5).

 

Após uma primeira avaliação, integrantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços afirmaram que o fim da MP não deve impactar os investimentos feitos a partir dela. Assim como ocorreu na Câmara, o relatório do Senado deve garantir efeito retroativo a 1º de abril.

 

A pasta também avalia, segundo assessores envolvidos na negociação, fazer um comunicado oficial às empresas para deixar claro que, mesmo com o fim da medida provisória, o programa de incentivos não será descontinuado pelo governo.

 

 

O Mover foi lançado no fim do ano passado para incentivar a descarbonização, promovendo combustíveis alternativos. O texto amplia as exigências de sustentabilidade da frota automotiva e estimula a produção de novas tecnologias nas áreas de mobilidade e logística.

 

Na Câmara dos Deputados, no entanto, o grande debate se deu em torno da taxação das compras de até US$ 50 em sites estrangeiros - que hoje são isentas da cobrança do Imposto de Importação.

 

Após semanas de conversas entre empresas brasileiras, estrangeiras e governo, a taxação foi incluída pelos deputados federais no PL que cria o Mover. Inicialmente, o relator, Atila Lira (PP-PI), propunha acabar com a isenção. Depois, apresentou parecer com alíquota de 20%.

 

Lula era contrário à taxação e chegou a dizer que vetaria o fim da isenção, se a medida fosse aprovada pelo Congresso. Nesta terça, porém, o petista se reuniu com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), horas antes da votação.

 

Ao final do dia, Lira afirmou que o acerto foi "o possível para esse momento". "Ninguém quer fazer nada contra ninguém, foi em socorro à empresa, à indústria nacional e aos empregos que ela gera de todos os brasileiros", disse.

 

Os estados já cobram hoje alíquota de 17% nas compras internacionais de até US$ 50 por meio de plataformas online, e estudam subir a taxação para 25% --movimento que, nos bastidores, tem apoio do Ministério da Fazenda, de acordo com pessoas a par do tema.

 

A Receita Federal tentou acabar com a isenção de pessoas físicas e taxar as compras com uma alíquota de 60% para fechar brechas para fraudes e sonegação nessas compras internacionais, mas precisou recuar diante da enorme repercussão negativa.

 

 

Na época, o governo teve acesso a pesquisas que apontaram que a grande maioria dos comentários nas redes sociais sobre o assunto foram negativos. A notícia levou até a primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, a se posicionar sobre o tema.

 

Na semana passada Lula foi na mesma linha: "Como você vai proibir as pessoas pobres, meninas e moças de comprar uma bugiganga, um negócio de cabelo?", disse a jornalistas.