O número de pessoas endividadas chega a metade da população de Belo Horizonte durante o mês de maio. Dentre a população total, 16,6% não terão condições de pagar as dívidas. É o que mostra pesquisa do Núcleo de Estudos Econômicos do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG), que analisou dados coletados pela Confederação Nacional do Consumo de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
De acordo com o levantamento, 88,9% dos consumidores da capital mineira estavam endividados em maio. Para a economista do Fecomércio MG Gabriela Martins, o cenário microeconômico da cidade é favorável, com o mercado de trabalho aquecido, maior disponibilidade de renda das famílias e inflação caindo para alguns itens, o que provoca um descontrole financeiro populacional.
Para a economista, isso se deve a um maior poder de compra da população. “A maior disponibilidade de renda entre as famílias, justificada principalmente pelo mercado de trabalho mais aquecido e as transferências feitas pelo governo federal, permite que os consumidores façam suas compras sem recorrer ao crédito”.
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O maior poder de compra, entretanto, provoca maior possibilidade de compras no crédito e, caso não haja o pagamento, começa a inadimplência. "A gente ainda tem uma taxa de juros muito alta e o crédito rotativo do cartão também em níveis alarmantes. Isso faz com que as pessoas que já têm dívida em atraso não consigam sair desse cenário. A inadimplência então vira como se fosse uma bola de neve", conta a economista.
Para ela, as famílias que já estão em alto grau de endividamento são as que mais têm tendência a chegar à inadimplência.
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De acordo com a pesquisa, o mês de maio se faz como o décimo primeiro consecutivo em que o endividamento se apresenta em queda, com 4 pontos percentuais (p.p.) a menos em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto o nível de inadimplência aumenta. Isso significa que, cada vez mais o endividamento não está em relação a um crédito em banco, mas em relação a contas em atraso.
Consumo e acesso ao crédito
Apesar da retração do endividamento, belo-horizontinos apresentam dificuldades em honrar os compromissos financeiros já adquiridos. No mês de maio, 50,2% da população estava com contas em atraso.
De acordo com Martins, essa alta porcentagem apresenta preocupação para o mercado mineiro, já que uma vez que as pessoas não têm condições de arcar com dívidas familiares, a manutenção do acesso ao crédito e o consumo são prejudicados.
Além disso, a pesquisa aponta que as dívidas comprometem 29,7% da renda familiar. O endividamento de junho representa um aumento de 1,8 p.p. em comparação com abril, levando o número de consumidores que não terão condições de pagar as dívidas de maio a 16,6%.
Dentre as dívidas da população de BH, a que mais se destaca é aquela provocada em compras pelo cartão de crédito. O levantamento mostra que a modalidade faz com que 9 em 10 pessoas endividadas se mantenham no grupo, representando 91,6%. Além do cartão, o pagamento em carnê representa 26,5% dos endividamentos, enquanto o financiamento de carro é 12,2%.
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O levantamento também calcula que os endividamentos comprometem a renda familiar por aproximadamente sete meses. A resposta ideal ao endividamento, para a economista, é o planejamento financeiro.
"Parece bem clichê a gente falar isso, mas o planejamento financeiro inclui, inclusive, o pensamento se a dívida que está sendo adquirida naquele mês ou naquele período terá a condição de ser paga no período subsequente".
"É importante que as famílias tenham consciência de que a renda precisa ter uma renda de subsistência, que seria aquela renda que o planejamento financeiro', completa a economista.
A economista do Fecomércio MG lembra que a regenociação se faz de extrema importância no momento de endividamento, mas com cautela e atenção à realidade orçamentária familiar. "Para que as famílias que estão inadimplentes e vão negociar suas dívidas, é preciso também voltar ao planejamento financeiro e pensar se a renegociação vai ser possível de ser quitada, se a parcela que está pegando a responsabilidade de pagar é condizente com a atual situação financeira e também sempre evitar os juros muito altos", aconselha.