Dólar sobe após Tebet dizer que é difícil atíngir déficit zero no orçamento
Ministra do Planejamento afirmou que governo tem o compromisso em não gastar mais do que arrecada, mas que a tarefa não é fácil
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Siga noSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou em alta firme de 1,90% nesta quinta-feira (18/7), cotado a R$ 5,588, em meio a preocupações com a cena fiscal doméstica após declarações da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, reforçarem dúvidas sobre o equilíbrio das contas públicas.
Já a Bolsa teve queda de 1,39%, aos 127.652 pontos, com quase todas as empresas da carteira teórica do Ibovespa no negativo.
O mercado também repercutiu a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e os novos dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, em busca de sinais sobre a trajetória de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).
Os agentes financeiros repercutiram as falas de Simone Tebet nesta manhã. A ministra afirmou que o governo tem o compromisso, determinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de não gastar mais do que arrecada, e que essa premissa deverá aparecer no Orçamento do ano que vem.
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No entanto, Tebet reconheceu que atingir a meta de déficit zero no Orçamento de 2025 é uma "ginástica um pouco difícil". A proposta orçamentária será enviada pelo Executivo ao Congresso até 31 de agosto.
"É uma ginástica e é uma ginástica um pouco difícil, porque é uma conta matemática que parece ser simples, mas não é. É uma equação onde receita menos despesa tem que dar igual a zero", disse em entrevista ao programa "Bom dia, Ministra", no CanalGov.
"Nós temos um compromisso com o país, por determinação do presidente e da equipe econômica, de não gastar mais do que arrecada, então o nosso Orçamento do ano que vem tem que trazer as despesas necessárias para atender todas as demandas do Brasil, mas elas não podem passar daquilo que arrecadamos, porque o Brasil não pode seguir devendo, porque isso tem impacto muito grande na vida das pessoas", pontuou Tebet.
Ela ainda afirmou que gastos com saúde e educação não devem ser cortados e que o BPC (Benefício de Prestação Continuada) - garantia de um salário mínimo mensal para idosos acima de 65 anos e pessoas com deficiência em qualquer idade - é uma política "sagrada".
Repercussão no mercado
Os comentários da ministra não aliviaram os temores dos investidores, instalados ainda no pregão de segunda-feira após falas de Lula à Record serem antecipadas ao mercado.
Na entrevista, o petista afirmou que não é obrigado a cumprir a meta fiscal se tiver "coisas mais importantes para fazer". Por outro lado, disse que a meta de déficit zero para este ano não está rejeitada e se comprometeu a fazer o necessário para cumprir o arcabouço fiscal.
As falas do presidente e da ministra reacenderam temores sobre o compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas. A cautela acontece antes da divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do terceiro bimestre na segunda-feira, no qual o Executivo precisará apontar como pretende cumprir a meta de déficit zero neste ano.
Na análise de Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, discursos de autoridades do governo "trazem uma aversão ao risco para o mercado local, porque o cenário fiscal ainda está indefinido".
"O mercado espera uma sinalização de comprometimento fiscal maior por parte do governo e até agora ela não veio. Então, somado ao cenário internacional, o fiscal acaba ficando no radar e ajuda a piorar o comportamento da nossa moeda."
Os temores se estenderam também à Bolsa. Para Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, o movimento do pregão foi de realização de lucros após alta de mais de 8% nos últimos 22 pregões.
"Acho que está exagerado para um único dia, porém o mercado 'quando sobe é de escada e quando desce costuma ser de elevador'. Visto que o governo ainda não deixou claro se a intenção de corte de gastos é verdadeira, os investidores não querem pagar para ver se vai mais, e logo pensam em realizar lucros", avalia.
O dólar pressionado costuma levar as expectativas de inflação para cima, o que reverbera nas curvas de juros futuros e, por consequência, em ações mais sensíveis à taxa Selic. Magazine Luiza e Grupo Pão de Açúcar são exemplo: a varejista perdeu 5,87% e a rede de supermercados, 5,52%.
Empresas com gastos na moeda norte-americana também costumam ser baqueadas quando a divisa dispara - caso da Azul, que perdeu 7,87%.
Ações de frigoríficos também caíram em bloco no pregão, após o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) identificar um foco da doença de Newcastle em um estabelecimento de avicultura comercial de corte no município de Anta Gorda, no Rio Grande do Sul.
O espaço foi interditado e a movimentação de aves foi suspensa. A Secretaria de Defesa Agrícola (SDA) do Mapa irá "aplicar os procedimentos de erradicação do foco estabelecidos no Plano de Contingência de Influenza Aviária e doença de Newcastle, com a eliminação e destruição de todas as aves e limpeza e desinfecção do local", informou a pasta em comunicado.
Marfrig perdeu 9,08%, seguida por BRF (7,88%), Minerva (4,49%) e JBS (2,45%). Vale recuou 0,94% e Petrobras operou mista, com os preferenciais recuando 0,18% e os ordinários avançando 0,12%.
Na ponta positiva, Embraer subiu 1,48% e Weg, 0,74%.
O dia ainda teve como pano de fundo a decisão do Banco Central Europeu (BCE) em manter a taxa de juros inalterada em 3,75%, como esperado por analistas, após um corte de 25 pontos-base na reunião anterior.
As autoridades do BCE reiteraram o compromisso com o retorno da inflação na zona do euro à meta de 2%, afirmando que os juros permanecerão suficientemente restritivos pelo tempo necessário. Eles não sinalizaram como devem agir nos próximos encontros.
Novos dados de auxílio-desemprego dos EUA ainda vieram acima do esperado, reforçando o argumento de que o mercado de trabalho passa por um processo de moderação.
O Departamento de Trabalho relatou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego aumentaram em 20.000 em relação a semana anterior, a 243.000, acima da expectativa de 230.000 de especialistas consultados pela Reuters.
O dado, somado a números de inflação mais benignos no segundo semestre, devem reforçar a expectativa de um corte de juros pelo Federal Reserve em setembro.
Na quarta-feira (17/7), o dólar fechou em alta de 1,03%, cotado a R$ 5,484 na venda, e a Bolsa subiu 0,26%, a 129.450 pontos.