FOLHAPRESS - Questionado sobre as ações do governo brasileiro contra produtos da China, o regime em Pequim minimizou as divergências e não respondeu se as tarifas poderão resultar, na direção contrária, em diminuição das compras chinesas no Brasil.
"A China e o Brasil apoiam firmemente o comércio livre e se opõem ao protecionismo", disse a porta-voz Mao Ning, do ministério do exterior. "E estão ativamente comprometidos com o crescimento sólido e constante do comércio bilateral. Tanto a China quanto o Brasil se beneficiam dos laços comerciais. Acreditamos que nossos dois lados podem lidar bem com as questões."
Na segunda-feira (1º), entrou em vigor no Brasil o aumento do imposto de importação sobre carros elétricos, de 10% para 18%. No ano que vem, ele vai para 25%. Em abril, já havia entrado em vigor o aumento de imposto sobre o aço, também de cerca de 10% para 25%. Nos dois casos, assim como na recente "taxa das blusinhas", não se identifica o alvo, mas é a China.
Uma autoridade brasileira argumenta que o país não pode abrir mão do uso de tarifas para calibrar sua exposição ao momento atual do comércio exterior. Com Estados Unidos e União Europeia buscando barrar produtos chineses como carros elétricos e aço, estes são desviados para os países onde mantêm acesso, diz a fonte, que solicitou anonimato para abordar o conflito com liberdade.
Outros mercados emergentes de maior porte também estariam se preparando para ampliar as tarifas sobre produtos chineses, casos de Índia e Indonésia, respectivamente, sobre aço e têxteis.
Segundo o argumento brasileiro, sua taxação, em comparação com a americana e a europeia, não seria discriminatória e permitiria manter o mercado exposto à concorrência chinesa, ao mesmo tempo em que evita inviabilizar a indústria local. Nos três casos, aço, carros elétricos e "blusinhas", as medidas foram anunciadas após lobby de concorrentes já instalados no país.
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As ações brasileiras também começam a ser usadas como argumento pelos negociadores europeus, para defender as suas próprias barreiras. Há duas semanas, em viagem a Pequim, o ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, disse que o Brasil usa "tarifas punitivas", enquanto a UE "faz as coisas de forma diferente", buscando igualdade de condições.
As tarifas europeias começam provisoriamente nesta quinta (3) com uma elevação média do imposto sobre carros elétricos chineses para cerca de 30%. Pequim aceitou a proposta da UE de iniciar negociação, que deve ir até dezembro, quando entram em vigor os percentuais definitivos.
O movimento contra carros elétricos e outros produtos chineses de transição energética, como painéis solares, se acentuou nos últimos meses com as acusações do governo americano de excesso de produção na China, ameaçando o incentivo à produção nos EUA. Pequim acusa Washington de protecionismo, com impacto no combate à mudança do clima.
"Não podemos abrandar o nosso ritmo na transição em troca de crescimento de curto prazo, nem praticar protecionismo em nome da proteção do ambiente", disse Mao Ning, a porta-voz chinesa. "Precisamos abordar as questões de desenvolvimento com uma visão mais longa e dar as mãos para cultivar novos motores para o crescimento."
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