SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou abaixo do patamar de R$ 5,50 nesta quinta-feira (4/7), a R$ 5,485, em resposta à mudança de tom nas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as contas públicas do país.

A queda foi de 1,48%, estendendo as perdas da véspera, quando o petista afirmou que "não joga dinheiro fora" e que responsabilidade fiscal é "compromisso", não palavra.

"Aqui nesse governo, a gente aplica dinheiro necessário, gasta com educação e saúde quando é necessário, mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é palavra, é compromisso desse governo desde 2003, e a gente manterá ele à risca" disse Lula, em discurso no lançamento do Plano Safra Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto.

As falas ajudaram a amenizar temores sobre a cena fiscal do país, que, entre outros fatores de pressão, levaram o dólar à marca de R$ 5,70 na máxima da sessão de terça-feira (2).



Horas depois das declarações de Lula na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o presidente mandou manter o arcabouço fiscal e anunciou corte de R$ 25,9 bilhões para 2025 em despesas com benefícios sociais, que passarão por um pente-fino.

"A primeira coisa que presidente determinou é: cumpra-se o arcabouço fiscal. Não há discussão a esse respeito", disse Haddad em entrevista coletiva no Palácio do Planalto.

A declaração foi dada ao lado dos ministros Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), após reunião com Lula para discutir medidas de reequilíbrio do Orçamento. Segundo ele, a orientação do presidente "é que o arcabouço seja preservado a todo custo".

O governo, detalhou Haddad, vai conter despesas ainda este ano para alcançar a meta fiscal e respeitar o limite de gastos. As contenções devem ser formalizadas no próximo dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento deste ano.

Lula tem feito declarações públicas contra mudanças na política de valorização do salário mínimo (que impacta a Previdência Social) e a desvinculação entre benefícios sociais e o piso nacional. Ele também descartou limitar o crescimento dos mínimos em Saúde e Educação. Esses são justamente alguns dos componentes que mais pressionam o Orçamento.

O presidente também tem sido um crítico vocal sobre a atuação do BC (Banco Central), que, para ele, é uma instituição de estado e não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele também voltou a dizer que o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, a quem se refere como "cidadão", tem viés ideológico.

"A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que seu presidente não fique vulnerável às pressões políticas. Se você é democrata, permite que isso aconteça. Quando é autoritário você resolve fazer com que o mercado se apodere da instituição", disse.

Lula fez ao menos 14 comentários públicos sobre política fiscal e monetária em 10 dias, entre os meses de maio, junho e julho.

Avaliação do mercado e especialistas

"O estresse do dólar e da curva de juros, na minha visão, foram causados por falas do presidente Lula e de membros do governo, que desconsideram questões técnicas que envolvem a decisão do Copom sobre a taxa de juros e o trabalho que vem sendo feito pelo BC, evitando que o cenário piore ainda mais", analisa Anderson Silva, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital.

"O governo parece que alinhou o discurso interno e deu indícios de que pode olhar com mais seriedade o controle e corte de gastos, como visto nas palavras de Fernando Haddad. Se de fato isso irá acontecer, é uma dúvida que fica. Mas o mercado precisava desse incentivo para acalmar as curvas de juros e o dólar, o que de fato vemos hoje", avalia Silva.

Para economistas consultados, no entanto, o corte de R$ 25,9 bilhões é insuficiente. Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, afirmou que o grosso dos ajustes necessários terá que passar pelos gastos com educação, saúde e previdência.

"Os cortes anunciados passam por revisão de benefícios, o que já era o permitido pelo presidente. Vai acalmar um pouco o mercado, mas não muito. Ajustes mais significativos com um novo regime fiscal terão que ser feitos a partir de 2027", disse o economista.

As contenções devem ser formalizadas no próximo dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento deste ano.

Nesta quinta, a Bolsa brasileira teve alta de 0,40%, aos 126.163,98 pontos. A sessão também foi embalada pela diminuição da preocupação dos investidores com as contas públicas, ainda que com liquidez reduzida por conta do feriado do Dia da Independência nos Estados Unidos.

No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 - que reflete a política monetária no curtíssimo prazo? estava em 10,625%, ante 10,693% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,3%, ante 11,526%, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,62%, ante 12,843%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,13%, ante 12,304%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,14%, ante 12,291%.

De acordo com XP, os investidores também estão na expectativa dos números de junho do mercado de trabalho dos Estados Unidos na sexta-feira. Os dados são observados de perto para ajudar a calibrar as apostas para as decisões do Federal Reserve.

"Nosso cenário base considera que o Fed iniciará o ciclo de flexibilização monetária em dezembro, mas reconhecemos as chances crescentes de corte de juros a partir de setembro", afirmou a equipe da XP em nota a clientes.

Na véspera, o dólar fechou em baixa de 1,72%, a maior queda em um dia desde 6 de janeiro de 2023, negociado a R$ 5,5693. A Bolsa teve alta, com apoio principalmente das ações da Vale, que subiu mais de 2%. O alívio nas curvas de juros futuros locais também impulsionou o índice, que fechou com avanço de 0,70%, aos 125.661 pontos, segundo dados preliminares.

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