A Petrobras anunciou nessa segunda-feira (8/7) um aumento nos preços da gasolina e do gás de cozinha, com novos valores previstos para valer a partir desta terça-feira (9/7). A medida fará com que o litro da gasolina, que é vendida para as distribuidoras, aumente de R$ 2,81 para R$ 3,01, o que representa um reajuste de 7,12%.
Em Belo Horizonte, segundo o economista Feliciano Abreu, do Mercado Mineiro, o aumento já pode ser percebido antes mesmo do anúncio da petroleira. “Alguns postos que estavam R$ 6,19, ontem (domingo), já passaram, hoje (segunda-feira) de manhã, para R$ 6,29. Postos da Região Centro-Sul, principalmente. Quarta-feira mesmo é que a gente vai ver de fato esse aumento de R$ 0,20”, afirmou.
O consultor e professor de Macroeconomia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), ligada à Universidade de São Paulo (USP), Silvio Paixão, estima que o aumento será ainda maior para o consumidor final. “Esse impacto de 7% vai ter, pelo menos, na ponta do consumidor, para o dono do automóvel, de 10%. O empresário vai colocar ainda a margem de lucro sobre os 7% mais os impostos”, avaliou.
A decisão de reajustar o valor do combustível já era esperada, alegam os economistas, devido a influências externas, principalmente o aumento do dólar nas últimas semanas. “Todo mundo sabia que ia ter aumento por causa do dólar e da defasagem grande. Esse aumento é esperado, mas não desejado. O consumidor fica em uma situação muito difícil. Imagina quem trabalha com aplicativo, taxista, busca criança no colégio, roda a cidade toda, isso acaba impactando. Se você pensar 20 centavos em 50 litros, são R$ 10”, afirmou Feliciano Abreu.
Posição partilhada pelo professor Silvio Paixão, que apontou que este aumento vem alinhado à nova política de preços que o Brasil adotou no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em março de 2023, chegou ao fim o Preço de Paridade de Importação (PPI), que influenciava automaticamente o preço interno, e passou a evitar repasses para o mercado nacional em casos de “volatilidade conjuntural das cotações internacionais”. “(O aumento) está em linha com a nova política de preços. O preço está vinculado ao que está sendo praticado lá fora, mais o impacto da taxa de câmbio", afirmou o professor.
Reflexos
A alteração terá reflexos em produtos, como alimentos, citam os economistas. “O petróleo está relativamente estável por volta dos US$ 80, mas o dólar subiu de maneira bastante significativa nas últimas quatro ou cinco semanas e isso acaba se desdobrando no preço dos alimentos”, afirmou Sílvio Paixão. Que prosseguiu dizendo que “quem compra combustível para transportar hortaliças, carne, frango e outros alimentos para o supermercado, esse custo do combustível vai pesar mais em cima do produto”, prevê.
A última vez que a Petrobras havia alterado o preço da gasolina foi em outubro do ano passado, reduzindo o preço de R$ 2,93 para os atuais R$ 2,81. Feliciano Abreu vê com pessimismo a possibilidade de uma redução no preço do combustível até o fim do ano, mas alerta que o consumidor pode “privilegiar os postos mais baratos em detrimentos dos mais caros” e que, com isso, “e os mais caros sobrarem com a gasolina terão que abaixar os preços ou fechar o negócio”.
Abreu acredita que, já que a gasolina aumentou, o diesel deve seguir a mesma tendência em breve, o que teria um impacto ainda maior na inflação. “Não mexeu no preço do diesel ainda, que é um impacto muito maior na inflação. Se subiu a gasolina, vai ter que subir o diesel. Só se acontecer um milagre do dólar parar de subir, mas gera prejuízo para a Petrobras. Se bem que ela não tem prejuízo, isso só reduz o lucro”, avaliou.
Gás de cozinha
A Petrobras também anunciou aumento do preço do gás de cozinha (GLP), que vai subir de R$ 3,10 por botijão de 13kg (9,81%) e passará a custar R$ 34,70 nas distribuidoras. No varejo, o botijão de 13kg custa cerca de R$ 100. O último ajuste no preço do gás de botijão havia sido feito em 1º de julho de 2023, quando houve queda (-3,9%). O último aumento (24,9%) havia sido feito em 11 de março de 2022.
O aumento no gás de cozinha afeta as populações de baixa renda, avaliou Feliciano Abreu, que, se já não tem uma parcela considerável dos seus rendimentos comprometida com a compra do item, se alimentam em restaurantes e padarias que, consequentemente, também vão reajustar seus valores.
Mais inflação
Economistas elevaram projeções para a inflação brasileira no acumulado deste ano, após a Petrobras anunciar aumentos nos preços da gasolina e do gás de botijão, o GLP. Com as revisões para cima, as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaram um pouco mais distantes do patamar de 4% nos 12 meses até dezembro. Após a decisão da estatal, a Ativa Investimentos elevou sua projeção para o IPCA de 2024: de 4% para 4,2%. A previsão anterior não contemplava a perspectiva de reajustes nos preços. Outra instituição que aumentou sua projeção para o índice foi a Warren Investimentos. Segundo Andréa Angelo, estrategista de inflação da casa, a perspectiva para o IPCA deste ano saiu de 4,1% para 4,28%. O economista André Braz, do FGV Ibre, também revisou sua previsão: de 4,1% para 4,2%. Segundo Braz, o impacto no IPCA tende a ser dividido entre os meses de julho (0,08 ponto percentual) e agosto (0,05 ponto percentual).