A presidente da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), Cristiana Gutierrez, explicou no EM Minas, programa da TV Alterosa, em parceria com o Estado de Minas e o Portal Uai, a origem e as características da raça, que completou 75 anos na terça-feira passada, dia 16. A 41ª Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador começou nesse sábado (20), em Belo Horizonte.
“Nós estamos em todos os estados da federação, com 24,2 mil associados. Um cavalo que em 2014 foi outorgado com o título de raça nacional, por lei. Então, é um cavalo nascido nas montanhas de Minas e que conquistou o Brasil “, afirmou.
Primeira mulher a assumir o cargo de presidente da ABCCMM, Cristiana é médica por formação e também se dedica ao agronegócio, no segmento com pecuária extensiva, intensiva e leiteira. É titular do Haras Morada Nova, em Inhaúma, na Região Central de Minas Gerais, com mais de 30 anos no ramo da marcha.
Qual a diferença entre as raças Mangalarga e Mangalarga Marchador?
Já fomos uma mesma raça, antes da fundação da nossa associação, que inclusive acabou de completar 75 anos. A raça surgiu no Sul de Minas Gerais e também englobava o cavalo da raça Mangalarga. Em determinado momento, alguns descendentes das famílias sul-mineiras se mudaram para o interior de São Paulo, levando com eles a parte da tropa que lhes cabia como herança e começaram então a trilhar um outro rumo no processo de seleção. Já aqueles que permaneceram no Sul de Minas acharam por bem estabelecer uma nova associação, que foi a Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador.
E hoje a raça existe no país inteiro…
Nós estamos em todos os estados da federação, com 24,2 mil associados. Um cavalo que em 2014 nós tivemos outorgado o título de raça nacional, por lei. Então, é um cavalo nascido nas montanhas de Minas e que conquistou realmente o Brasil.
Qual é o valor de mercado de um Mangalarga Marchador?
Esta é uma pergunta muito recorrente e eu sempre digo que o nosso cavalo é uma raça eclética. Temos cavalo de mil a milhão, depende da finalidade. Por isso que é muito importante a gente saber o propósito do criador ou do usuário. Então nós temos cavalo de sela – aí na faixa de R$ 5 mil a R$ 10 mil –; temos cavalos de sela castrados, que são para concurso de marcha; cavalos de pista que atingem outro patamar; e temos, obviamente, o topo da genética, que são as doadoras, os garanhões, que são a elite da raça. Não apenas por eles premiados, mas também pela sua progênie.
Tem cavalo até de R$ 1 milhão…
Tem até acima disso, que são cavalos cotizados, que vivem em centrais e o sêmen é distribuído no Brasil inteiro pros sócios. Nós temos um grande número de garanhões condominiados.
Cavalo de sela é o de fazenda…
Isso, cavalo para passeio, pro trabalho, pro lazer e para a lida diária do gado nas fazendas.
Como diz o nome, é uma raça de marcha, para tropas e longos trajetos?
A diferença da nossa raça é justamente a comodidade, que vem desse andamento marchado, que se refere à distribuição dos apoios durante o movimento. Outra característica fundamental para o cavalo de sela é o temperamento, a rusticidade, fácil de manejo, fácil de ser adestrado e montado.
Como vai ser a 41ª Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador, que começou neste sábado?
Neste ano, nós aumentamos de 13 para 15 dias de exposição pelo número enorme de animais e de julgamentos. Então, vamos do dia 20 de julho ao dia 3 de agosto no Parque da Gameleira, em Belo Horizonte.
E quais são os eventos da exposição…
Os julgamentos são de marcha, morfologia e funcional na pista principal, que é o convencional. Temos uma pista de esporte e quando nós falamos aí da função do Mangalarga Marchador não podemos esquecer dos esportes – que por sinal a gente vem trabalhando muito nessa vertente – e das cavalgadas, que é uma vocação natural da nossa raça.
Também temos uma vasta área de alimentação, área kids, fazendinha para as crianças, muitas lojas e amostragem de produtos. Temos música ao vivo, mas não temos shows porque a nossa pista está exclusivamente voltada, nos 15 dias, para a nossa estrela maior que é o cavalo e que é palco dos julgamentos.
E quais são os números?
Nós temos 1.546 animais em julgamento e 478 expositores de 16 estados. Temos um público estimado, como foi no ano passado, de 180 mil a 200 mil pessoas que transitam pelo Parque da Gameleira nos 15 dias.
E como são os leilões?
O Mangalarga Marchador é um produto que tem liquidez por ser um cavalo muito funcional, ter várias vertentes e poder ser utilizado de diferentes formas. Durante a exposição temos apenas um leilão, que acontece no Expominas, que é da marcha picada, de um grupo de criadores que se reúne. Ao longo do ano, temos mais de 300 leilões da raça no Brasil e boa parte é chancelada, que são aqueles que têm a chancela da associação, ou seja, as documentações foram previamente checadas.
Como está esse mundo dos negócios?
Um dado importante, que eu acho que é muito significativo, é o que envolve a cadeia produtiva da equinocultura no Brasil porque muitas pessoas acham que criar cavalo é apenas um hobbie. Tem um trabalho do professor Roberto Arruda, da USP (Universidade de São Paulo), que aponta uma movimentação de R$ 30 bilhões, gerando mais de 3 mil empregos. Segundo esse estudo, o Mangalarga Marchador contribui com mais de 30%. Então, nós estamos falando em mais de R$ 9 bilhões que giram em torno da raça, que é a que tem maior valor em movimentação.
E como está a mão de obra para atuar no segmento?
Esse é um gargalo hoje para os criadores, até para atender a expectativa deles e essa necessidade crescente porque nós temos uma média de entrada de 200 associados por mês, mesmo que muitos sejam usuários. Então, é uma mão de obra cada vez mais necessária.
Nós iniciamos uma parceria com o Sistema Faemg Senar justamente para isto. Este curso se chama “Formação por Competência”. Nós temos nossos instrutores, alguns deles, todos capacitados para ministrar esse curso previsto para durar um ano e formar essa mão de obra. No projeto, já estamos com duas turmas em Minas, formando agora a primeira e a outra iniciada. A nossa ideia é exportar este curso e já temos protocolos de intenções assinados com o Distrito Federal, Rio de Janeiro e vamos assinar com o Espírito Santo.
Existe Mangalarga Marchador fora do Brasil?
Existe. Nós temos cerca de 30 criadores e usuários nos Estados Unidos – inclusive teremos um curso lá agora. Temos na Europa também, na Alemanha, na Holanda. Infelizmente, nós temos a questão da barreira sanitária para exportação dos produtos, mas temos entendimentos com a Câmara Setorial para exportação de sêmen e embriões, via centrais do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária). Não é um problema nosso, é de todas as raças.
Qual é a tecnologia envolvida na criação e no trato desses animais?
Todas as técnicas, principalmente as de reprodução, evoluíram muito e rapidamente. Quem for à exposição, ou quiser olhar no nosso site, nós temos uma vasta programação de palestras técnicas.
Se a gente olhar essa cadeia da equinocultura que movimenta esses R$ 30 bilhões nesse país, onde o agro é tão importante, isso vai desde da prestação de serviço, roupas, ferraduras, até fábricas de ração, medicamento. Tudo isso tem muita tecnologia envolvida.
Você é a primeira mulher presidente da ABCCMM. De médica a este cargo. Como foi?
O meio ainda é predominantemente masculino. No nosso quadro de associados, menos de 20% dos titulares de seus planteis são mulheres, mas temos as esposas e as filhas que são muito presentes.
Está crescendo e acho que a chegada da mulher no cavalo vem na esteira desse posicionamento feminino no agronegócio como um todo. Desde que a tecnologia invadiu o campo, a mulher se estabeleceu definitivamente. Às vezes, a gente pensa na mulher só lá de butina dentro da fazenda, mas aquelas que trabalham com desenvolvimento de produto, de ração, medicamentos, todas essas linhas de produtos, nos escritórios, enfim, tem muitas.
Eu fui parar nisso como uma paixão. Eu crio cavalo há 34 anos, sou titular do Haras Morada Nova. As pessoas perguntam se eu herdei, mas não. Meu pai tinha a fazenda, mas ele se dedicava à pecuária leiteira. Eu tinha um cavalo para montar na fazenda, comecei como usuária, criei meus filhos no meio.
Nunca quis participar de nenhuma chapa, porque eu realmente não sou uma pessoa muito afeita, não tenho essa veia política, mas sou uma apaixonada por essa raça, de fato sou. Sou apaixonada pelo Mangalarga Marchador, gosto de montar. Então, chegou um momento da minha vida em que eu tive a condição de destinar o meu trabalho e o meu tempo à associação.