SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A decisão do Banco Central de manter a Selic a 10,50%, divulgada nesta quarta (31/7), e a perspectiva de alta na taxa básica de juros no curto prazo fazem com que os investimentos de renda fixa mantenham sua vantagem, segundo especialistas.
Além dos investimentos pós-fixados, que acompanham a Selic, alguns produtos de juros prefixados e aqueles que acompanham a inflação também têm rentabilidades atrativas, diz Mayara Rodrigues, analista de renda fixa da XP. "O momento de taxas mais altas é super propício para a renda fixa, mas é preciso cuidado na escolha".
De acordo com Mayara, títulos prefixados com vencimento em até dois anos podem ser bons complementos nas carteiras de investidores menos conservadores. Isso porque seus preços oscilam diariamente, o que pode assustar quem olha a tela da corretora. Se o investidor mantiver o dinheiro aplicado até o vencimento, porém, a rentabilidade será exatamente aquela contratada no momento de compra.
Atualmente, o título prefixado do Tesouro Direto com vencimento em janeiro de 2026 rende 11,19% ao ano. Já o prefixado para 2027 está com remuneração de 11,88%.
Segundo o boletim Focus, a expectativa de economistas é de queda da Selic até 9% em dois anos, o que deixa os títulos aparentemente atrativos. Porém, a perspectiva é que a previsão para a Selic mude, com juros maiores no próximo ano, o que poderia deixar o investidor preso a um produto de rentabilidade menor.
A curva de juros futuros, que reflete a precificação de investidores de contratos que irão vencer nos próximos anos, indica um juro de 11,60% em janeiro de 2026 e de 11,82% em 2027.
"A curva não está dando trégua, cobrando um prêmio pelas incertezas", diz Isabel Lemos, gestora de renda variável do Fator Gestão.
A especialista cita o risco fiscal e inflacionário como os grandes fatores de preocupação do momento, com a alta de 15,8% do dólar neste ano alavancando os preços e a percepção do mercado que o congelamento de R$ 15 bilhões feito pelo governo Lula não será suficiente para cumprir o arcabouço fiscal.
"Ao mesmo tempo, o governo tem dado sinais de que irá cumprir o arcabouço, mostrando uma visão mais positiva para o fiscal, o que pode gerar alívio", diz Isabel.
Em discurso na TV aberta no último domingo (28), o presidente Lula disse que não abrirá mão da responsabilidade fiscal.
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Há algumas semanas, os economistas vêm aumentando, de forma consecutiva, a estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano e de 2025. Atualmente, as apostas são de 4,10% e 3,96%, respectivamente, perto do teto de tolerância da meta, de 4,5% ao ano.
"Estamos em um momento de visibilidade baixa, com os ativos muito influenciados pelo que acontece em Brasília. É uma boa hora para continuar na renda fixa, mesmo com a recente alta da Bolsa", afirma Luis Garcia, diretor da SulAmérica Investimentos.
O especialista indica a maior concentração da carteira em ativos pós-fixados, especialmente com o juro real acima de 6%.
Já os títulos que combinam juros prefixados e a variação da inflação, os chamados IPCA+, são indicados para investimentos de médio a longo prazo.
Segundo Mayara, o investidor deve priorizar títulos com vencimentos entre cinco e seis anos. O título do tesouro IPCA+ (NTN-B) com vencimento em 2029 rende, atualmente, IPCA + 6,31% ao ano.
Para títulos privados com a mesma característica, a analista indica aqueles com rentabilidades que sejam de 0,55 ponto percentual acima da NTN-B equivalente, dado o risco mais elevado de calote.
Além da comparação entre produtos, é importante levar em conta a incidência do Imposto de Renda, de, no mínimo 15%, no caso de investimentos acima de 720 dias, de acordo com a tabela regressiva.
Esse é um dos fatores pelos quais as LCA e LCI (letras de crédito do agronegócio e imobiliário) e debêntures incentivadas pagam menos juros, pois são isentas do IR.
Nesse caso, Mayara aconselha a compra dos títulos isentos com rentabilidade atrelada ao IPCA. "São uma aposta nossa."
Renda Variável
Apesar da trajetória dos juros ser incerta, Isabel, do Fator, enxerga o momento como uma boa oportunidade de entrada em ações para os investidores mais arrojados, cuja carteira absorve a tomada de risco.
"Dado o patamar da Bolsa, pode ser a hora de reduzir o percentual de renda fixa e aumentar o de variável na carteira, preservando o perfil de investidor. Poder ser a hora de começar a alocar, mas tem que tomar cuidado, olhar no detalhe [escolher bem]", diz a especialista.
Mesmo com a recuperação de julho, o Ibovespa tem uma queda de 4% em 2024 e ativos com o preço em relação ao lucro projetado abaixo da média histórica.
Nesse cenário, Isabel recomenda ações de companhias dos setores industrial, imobiliário e de transporte, com maior potencial de retorno no médio a longo prazo.
Quanto rende a poupança?
Diferentemente de outros produtos de renda fixa, a poupança tem a sua rentabilidade pré-definida. No momento, por lei, ela rende 6,17% + TR (Taxa Referencial) ao ano, o que deve totalizar 7,06% nos próximos 12 meses, projeta Rafael Haddad, analista do C6 Bank, com uma TR de 1,23%.
Considerando a inflação, ele estima um ganho líquido real de 3,22% no mesmo período -o investimento é isento do IR. Dessa forma, o dinheiro da poupança não deve se desvalorizar, mas há outros produtos de renda fixa mais rentáveis e com liquidez semelhante, como o Tesouro Selic, que rende Selic + 0,08% ao ano.