Suspensão do X, rede social de Musk, preocupa empresariado
Em seminário, bloqueio determinado por Alexandre de Moraes vira o centro das discussões. Consenso é de que decisão judicial deve ser cumprida
compartilhe
Siga noRio de Janeiro — A suspensão do X (antigo Twitter) no Brasil permeou grande parte dos dois dias de seminário Esfera no Rio de Janeiro e, a contar pelo que dizem os executivos de empresas do setor, a preocupação com a decisão do ministro Alexandre de Moraes é enorme. Em um dos últimos painéis de ontem, mas sem citar o bilionário Elon Musk, dono do X, ou o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente do Google Brasil, Fábio Coelho, fez questão de se diferenciar da rede social banida temporariamente. Porém, nas entrelinhas, deixou o seu recado.
Leia Mais
"Segurança jurídica e institucional é fundamental. Para chegarmos à estabilidade dos ecossistemas, temos que trabalhar dialogando com todo mundo, entendendo que a tecnologia empodera e ajuda a sociedade, a capacidade de resolver seus problemas, de se expressar e de se indignar. Agora, a gente nunca pode abrir mão do diálogo. O diálogo é que o faz com que a gente consiga ser uma sociedade que não caminha para trás, mas para frente", afirmou, ao ser provocado pelo moderador William Waack, a respeito da decisão de Moraes.
Coelho fez questão, ainda, de separar a empresa que administra do imbróglio envolvendo o X. "Nesse mundo poroso, sem fronteiras físicas definidas, não dá para colocar todo mundo na mesma classificação de big tech. O Google tem 20 anos de Brasil. A gente está aqui, emprega, paga imposto. São propostas diferentes, de construção diferentes. Nosso papel aqui é ajudar o Brasil", afirmou, referindo-se ao impacto de R$ 188 bilhões na economia.
Ele lembrou que a empresa é uma dos principais contribuintes da cidade de São Paulo e mantém uma relação excepcional com o Brasil. "Estamos num mundo e num ambiente onde se compete por recursos. Quando agrega risco, agrega incerteza, agrega custo", adverte.
Falta de diálogo
Nas entrelinhas de seus comentários, Coelho deixou claro que o caso do X é um exemplo que chegou ao ponto de ruptura por falta de diálogo. Salientou, porém, que não se arrisca a dar uma solução para a crise. "Não é a minha empresa", esquivou-se.
No caso do Google, Coelho assegura que a opção sempre é pela conversa para chegar a consensos. Lembrou, ainda, dos debates no período eleitoral, com a ministra Cármen Lúcia à frente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de como a empresa poderia ajudar no sentido de um processo eleitoral justo. Ele destaca, porém, não ser contra a regulação das big techs.
"Não somos contra a regulação. Só não pode ser algo que torne o Brasil pouco competitivo", observa.
Enquanto Coelho trata de afastar o Google do cabo de guerra entre Musk e o STF, o empresariado sai em defesa da liberdade de expressão. "O grande presente das redes sociais foi levar a liberdade de expressão às últimas consequências", disse Flávio Rocha, proprietário da rede de lojas de departamento Riachuelo. Ele, porém, faz uma advertência: a linha entre a liberdade e a censura é muito tênue.
O governador do estado do Rio de Janeiro, Claudio Castro, que também participou da discussão, lembrou que a vida em sociedade não pode ser um "vale-tudo", que tem que haver regras e que "violência, campanhas de ódio e terrorismo não podem ser permitidos". Quase foi aplaudido de pé. No geral, porém, especialmente nos bastidores, muitos avisam que é preciso ter equilíbrio e que no confronto entre Musk e o STF está difícil achar o ponto.
A jornalista viajou a convite do seminário Esfera no Rio de Janeiro