Indústria escala o futebol para incentivar negócios
Fiemg reúne Rubens Menin e Pedro Lourenço, que lideram Atlético e Cruzeiro para falar dos desafios de gerir os clubes
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Siga noO futebol deu o tom na abertura da quinta edição do evento Imersão Indústria 2024, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. O “bate bola” foi entre os empresários Rubens Menin e Pedro Lourenço, que lideram, respectivamente o Atlético e o Cruzeiro. A mudança de mentalidade a partir da implementação da SAF (Sociedade Anônima de Futebol), onde os clubes passam a ser administrados como empresas, foi o tema central da conversa.
Ambos os empresários falaram do desafio de administrar com equilíbrio um clube de futebol na era das SAFs com as demandas apaixonadas da torcida. “A torcida é carinhosa, mas exigente. É o nosso cliente. Se for por conta da torcida você demite o técnico todo dia. Tem que ter um limite. O próprio presidente (do Atlético) é apaixonado, mas é racional, disse Menin. “Não é fácil equilibrar, mas, se não fosse a SAF, o Cruzeiro não existiria. Às vezes é preciso tomar uma decisão que não agrada”, explicou Pedro Lourenço.
Para o sócio majoritário da Galo Holding, o futebol brasileiro estava totalmente quebrado antes da chegada das SAFs, cenário em que o Brasil deixou e ser um polo nesse esporte. “Sorte que chegou a SAF. A gestão agora tem CPF, se o gestor fizer algo errado, vai responder”, explicou Menin. “Antes, os cartolas contratavam e quebravam o clube. Com a SAF, eu contrato e tenho que pagar”, completou Pedro Lourenço.
Os empresários contam que precisaram fazer uma grande “faxina” para transformar os clubes em SAF. Rubens Menin conta o trabalho que fez de identificar todos os gastos pendentes no Atlético, que em 2021 tinha contas a pagar referentes a 2015. Ele disse que em 2024, pela primeira vez em muitos anos, o clube vai fechar o ano com superavit. “E ainda assim temos um time competitivo”, avaliou.
Pedro Lourenço disse que, ao assumir o Cruzeiro, levou um choque ao se deparar com um Departamento Comercial formado por um diretor, um gerente e apenas dois funcionários, ou um Departamento de Marketing com um diretor, um gerente e quatro funcionários. “Acabei com esses diretores quase todos”, afirmou.
Ao assumir o Atlético, Menin disse que o clube tinha mil funcionários, mas agora tem cerca de 600 pessoas. Pedro Lourenço falou que o Cruzeiro tem 500 funcionários e que o enxugamento do clube envolveu 200 demissões.
Os gastos em viagem também foram cortados. “Antes nas viagens iam três goleiros, três médicos. No total eram 60 pessoas e hoje são 48”, disse Pedro Lourenço. Rubens Menin falou que, em viagens, a delegação do Atlético tem 55 pessoas, mas que os times europeus viajam com 35 integrantes. Ele ainda falou que, depois do jogo, a delegação gastava muito dinheiro no cartão corporativo com festas, e esse dinheiro passou a ser investido no futebol.
Ligas
Ambos criticaram a criação de duas ligas para negociar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2025, que tem o Cruzeiro na Liga Forte União (LFU) e o Atlético na Liga do Futebol Brasileiro (Libra). “Cadê a união?”, questionou Pedro Lourenço. Menin acredita que não adianta que apenas o Atlético e o Cruzeiro sejam grandes, precisa que todos os times sejam fortes.
Para o gestor do Atlético, nenhum dos times está ganhando muito com a divisão das ligas. Ele explica que Atlético ou Cruzeiro, assim como a maioria dos times, vão ganhar entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões por ano com essa “meia liga”, mas poderiam ganhar R$ 400 milhões. Mas, para isso, times como o Flamengo e o Corinthians teriam que ganhar menos.
“Eles podem ganhar um pouco mais, mas não muito. O dia que esses clubes se unirem em uma liga única, com Fair Play financeiro, o orçamento deles vai crescer em uns R$ 200 milhões ou R$ 300 milhões em um primeiro momento, os times vão ficar mais competitivos, o futebol cresce e todo mundo sai ganhando”, disse Menin.
Pedro Lourenço quantificou como a entrada de um clube de massa como o Corinthians na LFU fez diferença na receita do Cruzeiro: cerca de 20% a mais. No entanto, ele defende que, se todos os clubes se unissem, todos ganhariam muito mais.
Entretenimento e Base
Menin lembrou que o futebol faz parte da indústria do entretenimento, que na Inglaterra responde por 1,5% do PIB, mas, no Brasil, sua participação não passa de 0,5%. Ele defende um aprimoramento do esporte para que renda divisas para o Brasil. Para ele, o futebol brasileiro está melhorando e em breve vai voltar a ser competitivo em relação aos times europeus. Com isso, o mundo vai querer transmitir os campeonatos brasileiros.
O sócio majoritário da SAF Cruzeiro afirmou que o futuro do clube está nas categorias de base, reforçando a necessidade de garimpar os talentos no interior e nos lugares mais carentes. “Temos que criar o jogador para fazer o time forte. O torcedor não quer saber de tecnologias, se você está devendo, quer um time”.
Menin acrescenta que o Brasil é o maior fornecedor de jogadores e chama a atenção para o lado social desse trabalho. “Muitas vezes um menino de 12 anos que vai para o futebol é retirado de um lugar ruim”. No entanto, ele avalia que é preciso criar um ambiente melhor para que esses jogadores fiquem no Brasil.