O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, ontem (25), os dados do Censo 2022, que apontam para um aumento de 28% no número de mulheres responsáveis por domicílios em Minas Gerais. Segundo o levantamento, no Brasil, entre as pessoas responsáveis pelas unidades domésticas, 50,9% eram homens (37 milhões) e 49,1%, mulheres (36 milhões).

Houve mudança importante em relação a 2010, quando o percentual de homens responsáveis (61,3%) era substancialmente maior que o de mulheres (38,7%). Elma Oliveira já faz parte desse grupo há 15 anos. A bibliotecária mora sozinha, em um apartamento no Bairro Luxemburgo, Região Centro Sul de Belo Horizonte, e conta que às vezes sente falta de companhia nos finais de semana, mas no geral, não enfrenta grandes dificuldades na vida solo. “Acho ótimo ter minha liberdade e minha privacidade. Sempre quis morar sozinha e, assim que tive condições financeiras, realizei minha vontade”, declara.

O avanço do número em Minas Gerais também foi revelado pelo Censo. Em 2010, 35,6% dos domicílios do estado tinham mulheres como responsáveis, já em 2022, o número aumentou para 45,9%. A proporção aumentou 28%.

Mas a realidade de Elma não é a mesma para Meiriele Correia. “Até para financiar meu apartamento sofri preconceito”, contou. Meiriele é enfermeira, tem 44 anos, e mora com a filha de 10 anos em um apartamento em Venda Nova. Ela faz parte do aumento de mulheres responsáveis pelas unidades domésticas apontado pelo censo, nos últimos 13 anos. A enfermeira passou a ser a responsável pelo lar em 2016, após um divorcio. “É mais difícil manter a qualidade de vida, ter tempo de qualidade com os filhos e dar conta de tudo”, explicou Meiriele.

Também foi devido a uma separação que Priscilla Antunes, 40 anos, passou a morar somente com os dois filhos no bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte. “Me tornei chefe da casa em 2019, após passar por um processo de separação. Precisei assumir não só as responsabilidades financeiras, mas também todo o aparato psicológico que requer o esteio familiar, além da carga quádrupla de trabalho: cuidar das tarefas domésticas, da faculdade, do trabalho e dos filhos”, conta.

Quando perguntada sobre as dificuldades enfrentadas, Elma trouxe outra perspectiva. Ela relata que enxerga na vida solo a oportunidade de desenvolvimento pessoal, aprendizados nos cuidados com a casa e melhor gestão financeira. “Eu percebo a admiração de muitas pessoas, por eu ser uma mulher independente e ter minha liberdade. Nunca tive ajuda financeira, mas sempre busquei ter minhas coisas”, declara.

45,9%
dos domicílios em Minas eram
comandados por mulheres em 2022

Já Meiriele acrescentou que, além dos problemas internos, sofre com a pressão externa da sociedade. “Sempre perguntam se tenho marido, quando contrato algum tipo de serviço de manutenção, além de questionarem sobre a ausência de um homem. Por eu ser mulher, tentam cobrar mais caro pelo trabalho”, finalizou.

Priscila Antunes revelou que atualmente aprendeu a lidar com os preconceitos, mas já sofreu com o afastamento de algumas pessoas por não ter mais uma “família tradicional”. “O preconceito se estendeu às crianças, quando na escola não eram chamados para festinhas de aniversário de coleguinhas por conta do nosso contexto social e econômico fragilizado”, desabafa a pedagoga.

A realidade de Elma, Meiriele e Priscila extrapola Minas Gerais, segundo o IBGE em 10 estados, o percentual de mulheres responsáveis pela unidade doméstica foi maior que 50%: Pernambuco (53,9%), Sergipe (53,1%), Maranhão (53,0%), Amapá (52,9%), Ceará (52,6%), Rio de Janeiro (52,3%), Alagoas e Paraíba (51,7%), Bahia (51,0%) e Piauí (50,4%).

Mulheres 'mãe solo'

Aproximadamente um terço dos domicílios no Brasil que são chefiados por uma mulher têm presença de filhos e ausência de cônjuge – ou seja, a responsável pelo lar também é mãe solo. Essa parcela, que soma 10.321.121 unidades domésticas, é muito mais alta do que as que estão nessa situação chefiadas por homens, que chegam a 4,4%, ou 1.1614.614 domicílios particulares. Os dados foram registrados pelo Censo Demográfico 2022 e divulgados pelo IBGE ontem.


Essa divisão, que indica um perfil de monoparentalidade muito mais feminino, foi verificada em meio ao aumento da proporção de mulheres como responsáveis por lares desde o último levantamento, em 2010, chegando praticamente à metade dos 72.522.372 domicílios particulares no Brasil.


Do total dessas unidades domésticas, 16,5% – cerca de 12 milhões – têm um responsável sem cônjuge e com filhos, parcela que mudou pouco desde o recenseamento de 2010 (16,3%). Já a proporção de lares com mulheres nessa situação caiu de 36,9% em 2010 para 29%, em 2022.


Entre as unidades federativas, a proporção de lares com responsáveis mulheres com filhos e sem cônjuge é maior em Sergipe (33,5%), Amapá (33,5%) e Distrito Federal (32,9%). No outro extremo estão Santa Catarina (22,9%), Rio Grande do Sul (24,8%) e Mato Grosso (24,9%).


Um dos fatores que pode ajudar a explicar a predominância feminina é uma tendência de os filhos ficarem com a mãe. "No caso de separação de um casal, em geral, o filho fica com a mãe", diz Marcio Minamiguchi, gerente de estimativas e projeções da população do IBGE. "Ou mesmo no caso de mulheres com filhos sem ter tido um casamento ou uma relação conjugal com alguém."


Pardos ganham espaço

Outro destaque dos dados, segundo o IBGE, diz respeito à população parda. Em 2022, pela primeira vez um Censo mostrou a proporção de pardos (43,8%) superando a de brancos (43,5%) entre os responsáveis pelas unidades domésticas. Em 2010, as parcelas eram de 40% e 49,4%, respectivamente. O avanço, conforme o instituto, está associado a um grupo maior de pessoas que se autodeclararam pardas em 2022, algo que já havia sido apontado em divulgação anterior do Censo para a população como um todo.


Casais do mesmo sexo

Ainda de acordo com o IBGE, os lares compostos por responsável e cônjuge ou companheiro do mesmo sexo representaram 0,54% do total em 2022. Mesmo com percentual ainda pequeno, houve um crescimento "expressivo" frente a 2010 (0,10%), disse o instituto. O número de unidades desse tipo saltou de quase 60 mil em 2010 para 391,1 mil em 2022.


O maior percentual de lares com casais do mesmo sexo foi registrado no Distrito Federal (0,76%), seguido por Rio de Janeiro (0,73%) e São Paulo (0,67%). Piauí (0,25%), Maranhão (0,30%) e Tocantins (0,31%) mostraram as menores proporções.


Nesta divulgação do Censo, os lares são identificados como unidades domésticas. Elas podem ser compostas por pessoas que vivem sozinhas (unipessoais) ou por conjuntos de habitantes ligados por relações de parentesco, dependência ou normas de convivência em domicílios particulares. Domicílios coletivos, como asilos, presídios, hospitais e orfanatos, não entram nessa categoria.


Pessoas que moram sozinhas

Morar sozinho está em alta no Brasil, indicam novos dados do Censo Demográfico divulgados pelo IBGE. Em 2022, a proporção de unidades domésticas (domicílios particulares) com apenas um morador aumentou para 18,9% no país – o equivalente a 13,7 milhões de um total de 72,5 milhões de endereços.
Lido de outra forma, o percentual indica que aproximadamente um em cada cinco domicílios tinha somente um habitante. No Censo anterior, relativo a 2010, a proporção de lares com apenas um morador era menor, de 12,2%.


Conforme o IBGE, pelo menos dois fatores podem explicar o ganho de participação ao longo do período. O primeiro aspecto é o envelhecimento da população, e o segundo está associado a mudanças geracionais. Não casar ou postergar o matrimônio e não ter filhos fazem parte dessa lista.
Para se ter uma ideia, a população que vivia sozinha no país em 2022 (13,7 milhões) superava o total de habitantes da cidade de São Paulo (11,5 milhões). Também era similar ao número de moradores do estado da Bahia (14,1 milhões). n (Com FolhaPress)

(*) Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco

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