Mesmo com pedido de desculpas, CNA pretende retaliar Carrefour
CNA vai formalizar reclamação junto aos órgãos da União Europeia para fazer valer a liberdade econômica e a proteção da produção brasileira naquele mercado
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Siga noO pedido de desculpas do Carrefour não vai encerrar a polêmica criada pelo presidente mundial do grupo quando declarou que a carne brasileira não tem qualidade. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se manifestou sobre as medidas que pretende tomar em defesa dos produtores rurais brasileiros, a quem representa.
Mesmo após o Carrefour ter publicado uma carta de retratação ao mercado brasileiro, além de um pedido de desculpas endereçado ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a CNA anunciou que vai adotar medidas junto à União Europeia contra o Grupo Carrefour e demais empresas francesas que anunciaram que deixariam de comprar carne de países do Mercosul.
“Fomos surpreendidos pela atitude do Carrefour e outras empresas que, de uma hora para outra, procuraram mostrar uma imagem de que a carne que estamos colocando na Europa não é uma carne de qualidade, não atende os padrões europeus. Isso não é verdade porque o Brasil se tornou o maior exportador do mundo, não só atendemos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio como também China e países asiáticos. Diante dessa acusação, nos vimos obrigados a buscar nosso escritório em Bruxelas (na Bélgica) e nosso escritório de advocacia que nos atende em Bruxelas para entrar com as ações devidas para buscar esclarecimento da verdade”, explicou o presidente da CNA, João Martins.
Carlos Bastide Horbach, consultor jurídico da CNA, detalhou que já está em tratativa com o escritório que atende a CNA em Bruxelas para avaliar essa ação do Carrefour e de diversas outras empresas francesas. Ele também citou o apoio do governo francês - por meio da fala da ministra da Agricultura e da Soberania Alimentar da França, Annie Genevard -, que pode caracterizar uma violação das regras de defesa da concorrência da União Europeia.
No último dia 25, Genevard declarou à rádio France Inter: “O projeto de acordo com o Mercosul não é bom. Ele causa uma concorrência desleal, não atende aos padrões sanitários e falha no plano ambiental”. “Por isso, a CNA vai formalizar uma reclamação junto aos órgãos da União Europeia para fazer valer a liberdade econômica e a proteção da produção brasileira naquele mercado específico”, defendeu Horbach.
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Senado quer ouvir embaixador da França e CEO do Carrefour Brasil
A polêmica também continua em Brasília, onde a Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal aprovou o convite ao embaixador da França, Emmanuel Lenain, e ao CEO do Carrefour no Brasil, Stéphane Maquaire, para que eles se posicionem sobre o boicote do Carrefour à carne brasileira.
"Colocar uma imagem ruim, falsa, sobre os produtos brasileiros, não podemos admitir. O pedido de desculpas do CEO francês (do Carrefour) foi um pedido pífio, em que ele não pede desculpas coisa nenhuma. Ele diz: francês compra de francês, da União Europeia, o Carrefour brasileiro que compre dos brasileiros. Essa foi a desculpa dele, e ainda fez um pequeno deboche, na minha opinião, ao dizer que a carne brasileira é gostosa", disse a senadora Tereza Cristina (PP-MS), autora do pedido, que é ex-ministra da Agricultura.
A senadora acrescentou que uma segunda rede francesa de supermercados, a Intermarché, questionou a qualidade da carne brasileira e anunciou boicote às carnes da América do Sul. Tereza Cristina também citou a declaração da ministra da Agricultura francesa e a reunião da Assembleia Nacional da França, no dia 26, que rejeitou por 484 a 70 votos o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
A parlamentar defendeu a necessidade de entender o porquê "da escalada" contra a carne brasileira. Ainda não foi estipulada uma data para a reunião na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal. Cabe ressaltar que, por se tratar de um convite, os dois não são obrigados a comparecer.
Entenda o caso
Essa polêmica começou quando o CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, publicou, no último dia 20, em suas redes sociais, que a empresa "assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul", um aceno aos produtores franceses, que se opõem ao acordo da União Europeia com o Mercosul.
O anúncio repercutiu mal no Brasil, onde Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária, rechaçou as declarações do CEO do Carrefour, reiterando “a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais".
O Carrefour tentou amenizar a declaração dizendo que a interrupção da compra de carne do Mercosul só é válida para as lojas da França e que seus supermercados no Brasil continuariam a comprar carne de frigoríficos brasileiros. Mas, de nada adiantou, já que entidades do agro brasileiro divulgaram uma nota conjunta onde anunciaram uma espécie de boicote ao Carrefour.
“Se o CEO Global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês – que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco e italiano –, as entidades abaixo assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país”, disse em nota a associação.
No dia 26, Bompard tentou se retratar em carta enviada ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro: “Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas”.
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A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) afirmou, em nota, que recebeu com satisfação a retratação do presidente global do Carrefour, e alguns produtores que tinham aderido ao boicote à rede de supermercados anunciaram que retomariam o fornecimento.