As imponentes silhuetas dos guindastes do novo megaporto de Chancay, no Norte de Lima, refletem a magnitude da infraestrutura financiada pela China para reforçar a crescente influência do gigante asiático na América Latina.

A obra será inaugurada pelo presidente chinês, Xi Jinping, e sua contraparte peruana, Dina Boluarte, hoje, à margem da cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), em Lima.

Situado 80 quilômetros a norte da capital peruana, o porto de águas profundas (cerca de 18 metros), cuja construção foi iniciada em 2021, terá inicialmente quatro atracadores após um investimento de US$ 1,3 bilhão (7,8 bilhões na cotação atual). O projeto final prevê 15 cais e um investimento total de 3,5 bilhões (R$ 19,1 bilhões).

O megaporto terá uma área de 141 hectares e receberá navios de até 24 mil contêineres (TEU), com um milhão deles chegando no primeiro ano, estima a Cosco Shipping Ports, concessionária há 30 anos.

"Acreditamos que com a contribuição do porto, esta região do Pacífico e o Peru em particular podem se tornar o principal centro logístico da região sul-americana para o comércio", destacou Gonzalo Ríos, vice-diretor-geral do 'Cosco Shipping Ports Peru', subsidiária da gigante mundial do transporte marítimo China Ocean Shipping Company (COSCO), empresa estatal por trás do projeto.

Em 2019, o grupo chinês adquiriu 60% da empresa peruana responsável pelo porto, escolhido por sua localização estratégica no centro da América do Sul e pela importância da produção agroindustrial no Peru.

Com 57.000 habitantes, Chancay será o primeiro porto chinês na América do Sul. Ele é parte da iniciativa "Belt and Road", lançada em 2013 por Xi Jinping para obras de infraestrutura e para ligar os continentes como uma "nova rota da seda". Vários países sul-americanos, incluindo Peru, Argentina, Chile, Bolívia, Brasil, Equador e Venezuela, serão beneficiados.

"A América Latina não fazia parte da nova rota da seda quando a iniciativa foi lançada, mas depois de alguns anos a China a incorporou como parte de seu projeto para se consolidar como uma potência mundial, um projeto econômico e comercial com o qual pretende fortalecer sua presença global", declarou à AFP Óscar Vidarte, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica do Peru.

"Nosso objetivo é nos tornarmos a Singapura da América Latina", afirma o ministro dos Transportes peruano, Raúl Pérez. "Teremos rotas diretas para a Ásia, a China em particular, o que reduzirá em 10, 15 e até 20 dias, dependendo da rota, o que hoje se faz" em 35 ou 40 dias, acrescentou.

De acordo com a Cosco Shipping Ports, o megaporto reduzirá o custo do transporte de e para o Peru, Chile, Colômbia, Equador e Brasil, que não precisarão mais utilizar portos no México e nos Estados Unidos para seu comércio com a Ásia.

"O megaporto faz parte da luta pela influência geopolítica na região. Chancay dá à China uma certa vantagem sobre os Estados Unidos", afirma o analista e professor de Direito Internacional Francisco Belaunde.

O terminal também incluirá tecnologias de inteligência artificial e será conectado à rodovia Pan-Americana por um túnel de 1,8 quilômetro.

Mas nem todos concordam com sua implementação. "Nunca foi planejada uma cidade portuária em Chancay, a pesca e a agricultura vão desaparecer (...) com os milhões de caminhões que virão para encher os navios", disse a comerciante Miriam Arce, de 54 anos.

O biólogo Antony Apeño, da ONG CooperAcción, alerta que a escavação subaquática impactou a flora e a fauna porque "com a retirada do fundo, toda a estrutura destas áreas marinhas foi alterada. Muitas espécies foram embora ou morreram".

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