Após a onda de reações no Brasil à declaração feita na semana passada em que criticou a qualidade da carne produzida no Mercosul e anunciou que não ofereceria mais o produto em suas lojas na França, o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, se prepara para pedir desculpas ao país. A sinalização foi feita por intermédio de representantes do governo francês. Bompard deverá entregar pessoalmente uma carta ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

A postura de Bompard provocou reações pesadas de grandes produtores nacionais, como a JBS, que anunciou a suspensão do fornecimento de carnes às lojas da marca no Brasil. O ministro Fávaro apoiou o boicote à rede francesa. Parlamentares também repudiaram a medida anunciada pelo executivo global da empresa. O presidente da Câmara, Arthur Lira, defendeu a aprovação de uma lei de reciprocidade, para garantir que boicotes do tipo sejam respondidos com medidas semelhantes.

O Carrefour tem no Brasil uma de suas principais operações no mundo, e a reação brasileira já vinha indicando consequências desagradáveis para a rede e para Bompard, o que levou a companhia e governo francês a agirem rapidamente para corrigir o mal-estar.

"Reação em cadeia"


"Uma coisa é querer proteger seu mercado, o que é legítimo, mas, então, fale a verdade e não venha de uma forma falsa e hipócrita", afirmou ao PlatôBR nesta segunda-feira o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, uma das maiores referências no mundo do agronegócio, rechaçando as insinuações relativas à qualidade sanitária da carne brasileira.



Em linha com representantes do governo Lula e do mercado, Rodrigues defendeu que o setor privado brasileiro se organizasse e reagisse firmemente ao boicote. "Cabe ao setor privado brasileiro reagir firmemente. Tinha que haver uma reação nacional e não só da carne, mas de toda cadeia (produtiva)", defendeu, acrescentando que o impacto econômico da decisão da rede francesa é muito baixo, mas embute um risco grande de reputação para o Brasil. "A Europa e, especialmente, a França são importantes formadores de opinião e há um prejuízo para imagem brasileira", disse.

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O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos, Paulo Sérgio Mustefaga, também defendeu o direito das empresas brasileiras de reagirem à decisão do Carrefour. "A fala do CEO foi infeliz. Traz discriminação contra o agro brasileiro como um todo. Não é assim que se resolve uma situação entre dois parceiros comerciais", afirmou.

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