A economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre de 2024, na comparação com o segundo trimestre, segundo dados divulgados nesta terça-feira (3/12) pelo IBGE.
O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro se iguala ao da China no período e só fica atrás de Indonésia e México entre os países do G20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo).
Os setores que mais contribuíram para esse crescimento registrado entre julho, agosto e setembro no Brasil foram os serviços (alta de 0,9%) e a indústria (alta de 0,6%).
Já o setor agropecuário recuou 0,9%
Os números do IBGE mostram que, na área de serviços, "houve expansões em informação e comunicação (2,1%), outras atividades de serviços (1,7%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,5%), atividades imobiliárias (1,0%), comércio (0,8%), transporte, armazenagem e correio (0,6%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,5%)".
"Na indústria, destaca-se o crescimento de 1,3% nas indústrias de transformação. Por outro lado, caíram: construção (-1,7%), eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-1,4%) e indústrias extrativas (-0,3%)", aponta o IBGE.
Já em comparação com mesmo período do ano passado, o PIB cresceu 4,0%.
Até o terceiro trimestre deste ano, o PIB brasileiro cresceu 3,3% em relação ao mesmo período de 2023.
Em comparação com o ano passado, houve uma queda de 3,5% na agropecuária e um crescimento de 3,5% na indústria e de 3,8% nos serviços.
Os resultados divulgados pelo IBGE estão dentro ou até um pouco acima do que era projeto por diferentes economistas e instituições de pesquisa.
Há no entanto, uma preocupação com o aumento de preços no país. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação atingiu o patamar de 4,77%, puxada pelo aumento nos alimentos e nas tarifas de energia elétrica.
Em comparação com outras economias do G20, o Brasil só fica atrás de Indonésia e México, que cresceram 1,5% e 1,1% no período, respectivamente — e aparece empatado com a China.
No terceiro trimestre de 2024, o país está na frente de Arábia Saudita, Estados Unidos e França, entre outros.
Ainda não foram divulgadas informações sobre o PIB no terceiro trimestre na África do Sul, na Argentina, na Austrália, na Índia e na Rússia.
O Informe Conjuntural da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que analisa o terceiro trimestre de 2024 chama a atencão para o crescimento brasileiro num "ritmo acima das expectativas".
"Boa parte da surpresa com o ritmo mais elevado de crescimento no primeiro semestre de 2024 se deve à expansão fiscal. O aumento de gastos com pessoal, a antecipação do calendário de transferências de renda, as despesas relacionadas à recuperação do Rio Grande do Sul e o aumento dos benefícios e do número de beneficiários da previdência são alguns destaques de uma série de despesas que levou a uma forte elevação do impulso fiscal no período", diz o texto.
"Além disso, há o mercado de trabalho, que continua aquecido. A ocupação segue em elevação em um cenário de taxa de desemprego baixa, ambiente que vem proporcionando altas reais expressivas do rendimento do trabalho. Com isso, a taxa de crescimento real da massa salarial se ampliou no primeiro semestre de 2024, mostrando alta superior às já significativas taxas dos últimos dois anos."
Atualmente, a taxa de desemprego no Brasil medida pelo IBGE está em 6,2% — o menor patamar já registrado.
O relatório aponta que a soma da expansão fiscal com a elevação da massa salarial e o aumento do crédito tem impulsionado o consumo das famílias — o crescimento do PIB neste ano, aliás, está mais relacionado à demanda interna do que ao cenário internacional, de acordo com o CNI.
O texto alerta para o impacto futuro de fatores como a seca intensa, as queimadas, a depreciação cambial e os aumentos dos preços da energia elétrica e dos combustíveis na inflação — que "tem se aproximado do teto da meta de 4,5%, mas segue em menor nível que o registrado no final de 2023".
Já o Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (PIB-FGV) também destaca o "bom desempenho da economia" entre julho e setembro — contrariando as expectativas de uma queda dos números.
"Pela ótica da produção, o grande destaque é o forte crescimento da indústria, que ocorreu de forma disseminada. Além disso, o setor de serviços também cresceu, a despeito de ter desacelerado, enquanto a agropecuária retraiu no trimestre", analisa Juliana Trece, coordenadora do PIB-FGV.
"Pela ótica da demanda, o consumo e os investimentos seguem em trajetória de crescimento pelo terceiro e quarto trimestre consecutivos, respectivamente", complementa ela.
O relatório da FGV aponta crescimentos sólidos em quesitos como consumo das famílias (aumento de 4,5% no terceiro trimestre), Formação Bruta de Capital Fixo—- FBCF (+9,7%), exportação (+2,4%) e importação (+20,2%).
Já o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) revisou no final de setembro a projeção de crescimento do país em 2024 para 3,3%.
Para 2025, o órgão espera que o país cresça 2,4%.
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"Ao contrário do que se poderia pensar em junho [...] os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre o PIB agregado parecem ter se exaurido no curto prazo", aponta a análise.
"Impulsionado pela boa evolução do mercado de trabalho e por melhores condições de acesso ao crédito, o desempenho das vendas de bens e serviços às famílias manteve a tração ao longo de 2024, e segue como principal driver da economia."
"Após um ano de 2023 decepcionante, a demanda por bens de capitais também se destacou positivamente, potencializando uma recuperação verificada na indústria de transformação, embora num ritmo ainda modesto", analisa o Ipea.
Crescimento 'estável' entre países mais ricos
Um relatório publicado no final de novembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca que as principais economias do mundo apresentam uma tendência de estabilidade do ponto de vista econômico.
O PIB dos países que fazem parte da organização cresceram 0,5% no terceiro trimestre de 2024 ante 0,4% registrado no segundo trimestre.
O texto destaca que o crescimento do PIB do G7 — grupo que reúne Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, EUA e União Europeia — também manteve-se inalterado entre julho e setembro deste ano.
Mas os resultados de cada nação mostram "resultados mistos".
"Enquanto o crescimento dos Estados Unidos manteve-se estável no terceiro trimestre em 0,7%, houve uma desaceleração no Canadá e no Japão (de 0,5% no segundo trimestre para 0,2% em ambos os países), no Reino Unido (de 0,5% para 0,1%) e na Itália (de 0,2% para 0,0%)", aponta o relatório.
A OCDE destaca que a queda no Japão — que recentemente perdeu o posto de terceira economia do mundo para a Alemanha — reflete reduções nos investimentos, na exportação de serviços e no turismo.
"Na Itália, a redução do crescimento foi relacionada a uma contribuição negativa do comércio líquido (exportações menos importações) e refletiu principalmente uma diminuição do valor agregado na agricultura, na silvicultura, na pesca, e na indústria", analisa a organização.
Já no Reino Unido, a falta de estoques de insumos e produtos foi apontada como a principal causa da desaceleração.
Entre as nações do G7 com resultados positivos, a OCDE destaca a aceleração na França, que registrou um crescimento de 0,4% no terceiro trimestre (ante 0,2% no segundo tri).
O principal fator dessa subida foi o aumento do consumo, catapultado pela realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em Paris.
Houve também uma recuperação na Alemanha, que veio de uma queda de 0,3% no segundo trimestre para um crescimento de 0,2% entre julho e setembro deste ano.
China e Índia em ritmo forte
Um estudo publicado em outubro pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) com projeções e análises sobre o terceiro trimestre de 2024 também destaca o cenário de estabilidade global, apesar das variações regionais.
O FMI calcula um crescimento global de 3,2% do PIB tanto em 2024 quanto em 2024 — e descreve esse desempenho como "medíocre" em comparação com as taxas registradas antes da pandemia de covid-19.
O relatório aponta que não há nenhuma surpresa com o fato de mercados emergentes e economias em desenvolvimento terem um crescimento mais rápido, de 4,2%, enquanto as economias avançadas devem subir 1,8%.
Mas o texto alerta para "interrupções na produção e no transporte de commodities — especialmente petróleo — conflitos, distúrbios civis e eventos climáticos extremos", que vão impactar negativamente as perspectivas para o Oriente Médio, a Ásia Central e a África Subsaariana.
O FMI também destaca o desempenho de Índia (crescimento projetado de 7% em 2024 e 6,5% em 2025) e China (4,8% e 4,5%, respectivamente).
Segundo a entidade, o crescimento dessas duas nações e dos países asiáticos no geral foi marcado pelo aumento na demanda por semicondutores e eletrônicos, em razão dos investimentos em inteligência artificial.
"Reformas estruturais são necessárias para elevar as perspectivas de crescimento de médio prazo, enquanto o apoio aos mais vulneráveis ??deve ser mantido", diz o texto.
O fundo também identifica alguns "desafios estruturais persistentes", caso de envelhecimento populacional e baixa produtividade, como alguns dos fatores que impedem um crescimento econômico mais acelerado.
Por fim, o texto destaca alguns temores e ameaças — como as repercussões das tensões geopolíticas, a volatilidade de mercados, os picos nos preços de commodities e possíveis fragilidades do setor imobiliário chinês.
Sobre o Brasil, o FMI projeta um crescimento de 3% em 2024 e 2,2% em 2025 — números que foram revisados para cima recentemente por causa de fatores como elevações do consumo e do investimento privado, melhora do mercado de trabalho, políticas governamentais e um menor impacto do que o esperado das enchentes no Rio Grande do Sul.
"No entanto, com a política monetária ainda restritiva e o esperado esfriamento do mercado de trabalho, espera-se que o crescimento no Brasil fique mais moderado em 2025", conclui o relatório.
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