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Por que os ovos estão tão caros em todo o Brasil?

Preço médio na Grande BH cresceu até 47,5% no período de um ano, caso do pente com 30 ovos brancos. Saiba qual é a perspectiva para o produto

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O recente boom no preço dos ovos está preocupando os consumidores. É resultado de uma combinação de fatores, incluindo custos de produção, condições climáticas e de mercado, explica o Instituto Ovos Brasil (IOB), entidade que reúne produtores de todo o país. Pesquisa do site Mercado Mineiro revela que o preço médio dos ovos cresceu até 47,5% (de R$ 19,79 para R$ 29,19) em Belo Horizonte e na região metropolitana em um ano (entre fevereiro de 2024 e de 2025), caso do pente com 30 ovos brancos.

A mesma pesquisa indica que a dúzia de ovos brancos variou positivamente 26,2% (de R$ 9,31 para R$ 11,75), enquanto o pente com 20 ovos brancos está 16,3% mais caro (R$ 13,89 para R$ 16,15). “O preço está ‘salgado’. Estou consumindo menos porque aumentou muito rápido. Eu comprava uns dois pentes de 30 ovos caipiras por semana por R$ 19. Agora uma dúzia está custando R$ 12”, conta a dona de casa Clarice Ferreira.

Dono de restaurante, Dalton Denis Geraldo Gomes compra dois pentes de 30 ovos por dia. “O preço aumentou muito. Antes, eu pagava entre R$ 13 e R$ 15 e ontem eu já vi que estava mais caro. Vou compensar deixando de levar uma fruta ou legume para os clientes”, avalia o empresário.

“Aumentou demais. Meses atrás, 30 ovos custavam R$ 10. Agora está quase R$ 30. Me pegou de surpresa, mas estou precisando e levar. Como compro um pente por mês, dá para manter. Mas pesa, já que o salário não aumenta”, afirma Marcos da Silva, analista de informática. Wesley Matheus Souza dos Santos, churrasqueiro, relata que em janeiro pagou R$ 17 no pente de 30 ovos, preço que subiu para algo entre R$ 25 e R$ 30. Sua estratégia será reduzir o consumo até que o preço volte a cair.

Redução no consumo

Gerente do Sacolão Center, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de Belo Horizonte, Maísa Coelho afirma que há cerca de 20 dias os preços dos ovos brancos e vermelhos tiveram aumento de 80% no fornecedor. “Com isso, nós temos perdido vendas. O cliente faz o pedido no delivery, mas, quando a gente informa o preço da cartela com 30 ovos brancos, que custava R$ 16,98 e hoje custa R$ 31,98, e a de ovos vermelhos, que custava R$ 17,98 e agora está a R$ 39,98, o cliente cancela”, explica.

A gerente garante que reduziu sua margem de lucro para deixar o produto à disposição dos clientes, mas ainda assim está vendendo bem menos. “Quem comprava dois pentes agora está comprando uma dúzia. A demanda aqui caiu entre 50% e 60%. Eu comprava uma média de oito caixas de ovos por dia, hoje compro três ou quatro”, calcula.

Maísa disse que, quem tinha optado pelo ovo como uma opção à carne bovina, que sofreu vários aumentos ao longo de 2024, está migrando para a carne de frango ou de porco. “Infelizmente, a tendência do ovo é aumentar, porque semana santa ainda nem chegou. Vai aumentar mais ainda na quaresma e depois vai baixar”, ressalta a gerente.

Gabriel Lima de Freitas, proprietário do sacolão Pomar e Horta, destaca que o preço dos ovos “explodiu” na segunda-feira da semana passada (10/2). “Nos pegou de surpresa; até então o preço do ovo estava favorável, com gente fugindo da carne e indo para o ovo”. Ele afirma que, antes disso, costumava pagar R$ 17 no pente com 30 ovos na Ceasa, mas o mesmo produto estava custando R$ 27. O empresário conta que tem 10 sacolões em Belo Horizonte e que as vendas caíram nas lojas localizadas em bairros mais pobres.

O que está por trás da elevação de preços?

De acordo com a Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig), o ajuste recente no preço dos ovos pode ser explicado por uma soma de fatores. O retorno das aulas gerou maior demanda, já que, segundo a associação, o produto é usado na merenda escolar, aquecendo o mercado. A demanda já vinha “enriquecida” pelos consumidores que optaram pelos ovos como proteína mais acessível.

“Outro fator é o aumento no custo de produção, impulsionado pela alta nos preços do milho e da soja, grãos essenciais na alimentação das aves, além do preço alto do combustível e do aumento da temperatura, que causa redução na produção. A expectativa é que os preços se mantenham até a quaresma”, avalia Gustavo Ribeiro, diretor-técnico da Avimig.

Já o Instituto Ovos Brasil informa que o preço da saca de milho (principal insumo da ração para as aves) registrou alta de mais de 30% desde julho de 2024. Para o IOB, embora o impacto não tenha sido imediato, a elevação dos custos tornou inevitável o repasse para o consumidor final, o que onera o produtor.

O instituto corrobora os argumentos de que o aumento no preço de outras proteínas, como a carne bovina, tem impulsionado a demanda por opções mais acessíveis, como o ovo. Ainda impactaram a oferta as altas temperaturas registradas no início do ano, que afetaram a produtividade das aves.

Para a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a alta registrada no preço dos ovos é uma situação sazonal, comum ao período pré e durante a quaresma. “Após longo período com preços em baixa, a comercialização de ovos aqueceu pela demanda natural da época, quando há substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos”, informou. Além do aumento no preço do milho, a associação informou que os custos de insumos de embalagens aumentaram acima de 100%.

Produção e demanda

Conforme a ABPA, a produção de ovos no Brasil em 2024 foi de 57,6 bilhões de unidades, um crescimento de 9,8% em relação a 2023 (quando foram produzidas 52,4 bilhões de unidades). E a expectativa para 2025 é que a produção de ovos atinja 59 bilhões, aumento de 2,4%.

Se não houve uma redução da produção, a demanda aumentou em uma proporção maior ainda. O consumo per capita de ovos em 2024 no Brasil foi de 269 unidades por habitante, 11,2% maior que em 2023, quando esse número foi de 242 unidades por habitante. a projeção para 2025 é que o consumo per capita cresça 1,1%, subindo para 272 unidades por habitante.

Já a exportação de ovos sofreu uma queda em 2024, com 18 mil toneladas, enquanto em 2023 foram 25.404 toneladas de ovos, uma retração de 29,1%. Já para 2025, a expectativa é que haja um crescimento de 16,7%, alcançando 21 mil toneladas.

Minas Gerais é o segundo maior produtor de ovos no país, com 10,5% da do total, se firmando também como o principal exportador do Brasil.

Exportações para os EUA complicam a situação?

Várias entidades do setor aviário garantem que não faz sentido temer que a gripe aviária que afeta o mercado americano esteja impactando o preço dos ovos no Brasil. A ABPA destaca que toda a produção brasileira é destinada ao mercado interno, sendo que as exportações representam menos de 1% do total, volume que não é capaz de influenciar o mercado. Ainda de acordo com a ABPA, nos Estados Unidos os ovos do Brasil são destinados à alimentação animal e não humana.

Ainda assim, de acordo com a Avimig, em janeiro foi observado um aumento no volume de ovos exportados pelo Brasil na ordem de 22,1%, impulsionado pela demanda dos Estados Unidos (com 220 toneladas, aumento de 33%). No entanto, quem mais importou ovos do Brasil em janeiro foram os Emirados Árabes Unidos (783 toneladas, redução de 22%), seguidos por Serra Leoa (352 toneladas, aumento de 583%).

Gripe aviária

Os Estados Unidos também enfrentam problemas com elevação do preço do ovo, mas por causa da gripe aviária. Os preços dos ovos no país atingem recorde histórico, uma dúzia chega, em média, US$ 10,99 (R$ 63,30), de acordo com o Departamento de Agricultura do país (USDA). Diante da alta nos preços, o ovo passou a ser vendido por unidade, por causa da escassez. Além disso, restaurantes nos EUA têm adicionado uma espécie de taxa extra de US$ 0,50 por ovo nos cardápios. O Departamento de Agricultura fez prognóstico ruim para este ano, com previsão de que os preços dos ovos subirão até 20% até dezembro.

A gripe afeta granjas em várias regiões do país norte-americano. Para conter a propagação do vírus H5N1, tem ocorrido abate diário de milhões de galinhas. Desde fevereiro de 2022, mais de 138 milhões de aves foram infectadas, incluindo 23 milhões este ano. Mas os abates não são suficientes. O Centro de Controle de Doenças (CDC) confirmou 69 casos humanos em 12 estados, com uma morte associada ao H5N1 até sexta-feira (14/2).

A nova gestão de Donald Trump demitiu quase metade dos integrantes do programa de epidemiologistas de elite do CDC, conhecidos como “detetives de doenças”. As demissões são esforço para reduzir os gastos da administração federal, liderado pelo Departamento de Eficiência Governamental, de Elon Musk, e ocorrem paralelamente à promessa do novo secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., de reestruturar as agências de saúde.

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