A inflação de fevereiro no Brasil teve alta de 1,31%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse foi o maior índice para o mês desde 2003 (quando foi registrada alta de 1,57%). Em relação ao mês anterior, o IPCA cresceu 1,15 ponto percentual, enquanto o acumulado de 2025 está em 1,47% e o dos últimos 12 meses em 5,06%.

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o IPCA apurado em fevereiro também ficou em 1,31%, tendo aumentado em relação a janeiro, quando foi registrada alta de 0,43%. O IPCA acumulado na capital em 2025 é de 1,75%, enquanto a inflação acumulada nos últimos 12 meses foi de 5,77%.

“Tivemos um início de ano, janeiro e fevereiro, com grande volatilidade. Janeiro ficou abaixo da série histórica exatamente pelo Bônus de Itaipu (um desconto da tarifa). Em fevereiro, a volta à normalidade da tarifa de energia foi o principal responsável pela inflação. É que a energia tem um peso muito grande no orçamento das famílias, algo em torno de 4%. Tanto que, em fevereiro, esse item foi responsável por mais da metade da inflação”, analisou André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

No Brasil, os grupos de produtos e serviços que tiveram maior variação em fevereiro foram educação (4,70%), habitação (4,44%), alimentação e bebidas (0,70%) e transportes (0,61%). Mas, o grupo com maior peso no orçamento das famílias no mês foi o da habitação (0,65 p.p.), seguido por educação (0,28 p.p.), alimentação e bebidas (0,15 p.p.) e transporte (0,13 p.p.). Juntos, esses quatro grupos respondem por 92% do índice IPCA de fevereiro.

O que ficou mais caro?

No grupo habitação, o item que mais contribuiu com alta da inflação foi a energia elétrica residencial (0,56 p.p.), com alta de 16,80% em fevereiro no Brasil e 15,05% em Belo Horizonte. O item só não piorou a inflação acumulada do ano porque, no último mês, foi observada uma queda de 14,21%, oriunda da incorporação do Bônus de Itaipu. A taxa de água e esgoto também teve uma contribuição importante na inflação do mês (0,14 p.p.), com reajuste de 6,42% em Belo Horizonte.

Já no grupo educação, no contexto nacional, a maior alta veio dos cursos regulares (5,69%), devido aos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. As maiores variações vieram do ensino fundamental (7,51%), do ensino médio (7,27%) e da pré-escola (7,02%). Em Belo Horizonte esses aumentos foram, respectivamente, 7,14%, 6,74% e 5,43%.

O grupo alimentação e bebidas, também em âmbito nacional, teve como principal vilão em fevereiro a alimentação no domicílio, que subiu 0,79%, uma desaceleração em relação a janeiro (que registrou alta de 1,07%). Os itens que puxaram a inflação para cima foram o ovo de galinha (15,39%) e o café torrado e moído (10,77%). Entre os itens que tiveram variação negativa foram a batata-inglesa (-4,10%), o arroz (-1,61%) e o leite longa vida (-1,04%).

A alimentação fora do domicílio (0,47%) também desacelerou em relação ao mês anterior (quando foi registrada alta de 0,67%), com destaque para os itens lanche (0,66%) e refeição (0,29%), com variações inferiores às observadas no mês anterior (0,94% e 0,58%, respectivamente).

“Alguns fatores podem sustentar a alta no preço da alimentação nos próximos meses, como o café, o ovo, o leite, o açúcar e o feijão. Apesar de não termos nenhum fenômeno climático em curso - como El Niño ou La Niña - tivemos essa seca agora no começo do ano em várias regiões do Brasil. Apesar de ter uma tendência de estabilidade, o câmbio sofreu alta de 25% em 2024, desvalorizando o real. Nesse cenário o país exporta mais, o que não é ruim, mas tende a aumentar a inflação porque acaba desabastecendo o mercado interno. A incerteza quanto à política fiscal do governo federal também contribui para nossa moeda perder valor”, disse o economista do FGV Ibre.

Em Belo Horizonte, a inflação no grupo alimentação e bebidas foi superior à nacional (1,10%). A alimentação no domicílio foi de 1,34%, tendo a alta do ovo de galinha em 18,14% e do café moído em 12,08%. Na alimentação fora do domicílio, a capital mineira teve alta de 0,45% em fevereiro, sendo 0,95% para o item lanche e 0,16% para refeição.

Para Braz, a alimentação no domicílio promete subir mais que no ano passado, se colocando como um grande vetor de inflação. Já a alimentação fora de casa pode não se impor tanto devido ao aumento da taxa de juros: “Como se trata de um serviço, a alimentação fora de casa depende da atividade econômica. Um dos efeitos do aumento dos juros é o crescimento do desemprego, o que retrai a atividade e pressiona os preços”. No entanto, o economista explica que o reflexo das taxas de juros demoram de 6 a 9 meses para fazer efeito, e a desaceleração vai começar a fazer efeito no fim do primeiro semestre.

No Brasil, a alta no grupo de transportes foi influenciada pelo aumento nos combustíveis (2,89%): diesel (4,35%), etanol (3,62%) e gasolina (2,78%). Apesar da inflação do grupo transporte em Belo Horizonte ter ficado acima da nacional (0,71%), a variação dos combustíveis ficou abaixo (2,39%), com aumentos respectivos de: R$ 1,91%, 4,85% e 5,39%.

“A alta do diesel não tem um efeito direto na inflação para as famílias, já que seu uso é pequeno em veículos de passeio. Mas, o efeito indireto é grande - encarece a movimentação das máquinas no campo, do frete rodoviário, do transporte público e da energia termelétrica -, apesar de ser difícil quantificar isso entre tantos fatores de custo”, disse André Braz.

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