Durante as mais de três horas que passa conectada à máquina de hemodiálise, a dona de casa Maria Marta Graveli, de 74 anos, procura fazer caça-palavras e bater papo com os funcionários e outros pacientes da Fundação Hospitalar São Francisco de Assis (FHSFA). Há quatro anos, ela sai de casa três vezes por semana para fazer o tratamento. A partir da próxima semana, Gravelli e os amigos aproveitarão essas horas com mais uma atividade: aulas de alfabetização.

Segundo a superintendente de Serviços Hospitalares da FHSFA, Adriana Melo, para além da inserção social dos pacientes que serão alfabetizados, o projeto também dará a eles mais independência no dia a dia, já que não precisarão mais do auxílio de terceiros para determinadas atividades.



“Com a alfabetização, os pacientes podem ter até mesmo um resultado melhor no seu tratamento, já que parte das orientações, muitas vezes, são escritas e eles poderão fazer um acompanhamento mais próximo. O projeto também veio em cima dessa necessidade dos próprios pacientes, porque quanto mais informação eles têm sobre a sua doença, sobre os alimentos que eles podem ingerir, mais você garante a eficácia do tratamento”, explica Melo.

Ainda de acordo com a superintendente, a ideia do projeto surgiu há cerca de cinco anos, quando ela mesma passou a observar que muitos pacientes eram semi-alfabetizados ou não alfabetizados e, as horas que passavam na unidade todas as semanas, poderiam ser utilizadas de forma mais produtiva.

Interesse em aprender

Em 2023, o projeto ganhou vida com uma parceria da FHSFA com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Educação e da Escola Municipal Hugo Pinheiro Soares, que funciona no Bairro Concórdia, Região Nordeste de BH. Ao todo, serão quase 80 pacientes, divididos em três turmas, que terão aulas pelo Ensino de Jovens Adultos (EJA).

“Não fizemos distinção entre os pacientes. Chegamos em todos e perguntamos se tinham interesse em fazer o curso de alfabetização, e muitos demonstraram interesse. Não são todos que aceitaram, porque muitos ainda têm vergonha de dizer que não sabem ler, mas esperamos que eles se sintam motivados quando observarem as aulas dos que se inscreveram”, comenta Melo.

A aposentada Maria Marta Graveli foi a primeira a se inscrever no projeto. Ela possui, como definiu, “um pouco de conhecimento”, mas não tem diploma. Entusiasmada com a iniciativa da fundação, ela aguarda, ansiosa, o início das aulas marcadas para a próxima semana.

Maria Marta e Paulo Pedro serão alunos da primeira turma, que inicia já na próxima semana

FHFSA/Divulgação

Dependente da hemodiálise por uma disfunção hereditária, Maria Marta tem um filho Alessandro, de 46 anos, que também faz hemodiálise três vezes por semana em outro hospital da capital. Ele faz as sessões em dias diferentes para dividir com a mãe os cuidados com o pai Pedro Graveli, que já tem 89 anos. A aposentada Maria Marta está confiante na iniciativa. “Acho que as horas de tratamento na máquina de hemodiálise vão passar mais rápidas”, profetiza.

O aposentado Paulo Pedro Dias, de 63 anos, conta que está animado para o início das aulas. Apesar de saber assinar o próprio nome e fazer contas básicas, ele sonha em aprender a ler. “Me interessou e me inscrevi. Vamos ver se vai dar certo, espero que dê”, afirma sorrindo, feliz em participar.

Os pacientes não inscritos terão até 15 dias após o início do ciclo para demonstrarem interesse em ingressar nas aulas. Após este prazo, precisarão aguardar a abertura de novas turmas.

Como será?

O EJA conta com um método de avaliação específico, para conseguir analisar o nivelamento e desempenho de cada aluno. Por meio desse método é possível diagnosticar quanto tempo o estudante levará para conseguir se formar no Ensino Fundamental. O tempo pode variar entre seis a 48 meses, a depender do resultado do nivelamento do aluno. O projeto é destinado apenas ao Ensino Fundamental 1 e 2.

A Prefeitura de Belo Horizonte disponibilizará três professores da Escola Municipal Hugo Pinheiro Soares que serão capacitados para realizar a alfabetização dos pacientes interessados e o hospital disponibilizará uma Sala dos Professores. Os profissionais serão distribuídos nos três turnos da hemodiálise: 7 horas, 13 e 18 horas para a realização de atividades com os pacientes.

Atividades impressas e tablets fornecidos pela PBH serão utilizados para explicação dos conteúdos e exercícios de fixação. As turmas funcionarão às segundas, terças, quartas e quintas-feiras tendo o início das aulas após a primeira hora de hemodiálise e término 20 minutos antes do final do tratamento.

Doações

A Fundação Hospitalar São Francisco de Assis é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, que presta atendimento exclusivamente aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para garantir os recursos de manutenção e ampliação de suas atividades, projetos e estrutura física, a FHSFA também recebe doações de equipamentos, medicamentos, materiais médico-hospitalares, de escritório e de limpeza, alimentos perecíveis e não perecíveis, itens de higiene pessoal, entre outros.

As doações podem ser entregues, diretamente, nas unidades da Fundação Hospitalar São Francisco na Rua Itamaracá, 535, Bairro Concórdia, ou na Rua Crucis, 50, no Bairro Santa Lúcia. Para mais informações, os interessados podem ligar para (31) 2126-1535.

Também é possível fazer uma doação por depósito ou transferência bancária:
Favorecido: Fundação Hospitalar São Francisco de Assis, CNPJ: 13.025.354/0001-32, Banco do Brasil, Agência: 1614-4, Conta Corrente: 13808-8.

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