Fachada da Unidade localizada na Alameda Ezequiel Dias -  (crédito: Divulgação Website CMMG )

Fachada da Unidade localizada na Alameda Ezequiel Dias

crédito: Divulgação Website CMMG

*Conteúdo produzido por Flávio Castro

A comissão organizadora do vestibular da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais escolheu, para o vestibular de 2024, duas importantes obras da literatura brasileira que narram, por meio de perspectivas femininas negras, a realidade de pobreza e marginalização social: "Quarto de Despejo" de Carolina Maria de Jesus e "Becos da Memória" de Conceição Evaristo. Ambos os livros oferecem um olhar profundo sobre as dificuldades enfrentadas pelas comunidades negras nas grandes cidades do Brasil, porém o fazem sob óticas distintas que serão exploradas neste texto.

Comparação dos Contextos Literários

Quarto de Despejo é um diário pessoal escrito por Carolina Maria de Jesus, que relata o dia a dia de uma catadora de papel vivendo na favela do Canindé, em São Paulo, durante os anos 50, em um bolsão de miséria que se forma paradoxalmente junto ao milagre econômico. Este livro é marcado por uma linguagem crua e original, que diverge da norma culta ao passo em que documenta as dificuldades diárias, a luta pela sobrevivência e os sonhos e aspirações da autora. Por outro lado, Becos da Memória é uma obra de ficção que narra várias histórias interconectadas de moradores de uma favela na região central de Belo Horizonte, construindo um mosaico de experiências e memórias que delineiam a vida comunitária e individual. Conceição Evaristo utiliza uma abordagem mais poética e metafórica, diferentemente do estilo mais direto e documental de Carolina.

Temática e estilo narrativo

Carolina Maria de Jesus, em Quarto de Despejo, utiliza o formato de diário para oferecer um retrato visceral de sua vida na favela, com descrições pungentes da fome, da miséria e da luta constante contra as adversidades sociais e econômicas. O estilo de escrita é espontâneo e imediatista, refletindo a urgência das circunstâncias da autora, que enfrentava, cotidianamente, as agruras da fome, da indigência, do racismo e do desamparo.

Em contraste, Conceição Evaristo em Becos da Memória explora a coletividade das experiências na favela, criando personagens que, apesar de fictícios, representam vozes e vivências reais. A narrativa é fluida e rica em simbolismos, explorando temas como ancestralidade, memória e resistência cultural dentro da comunidade negra. As necessidades e mazelas obviamente estão presentes, seja pela onipresença do racismo, da pobreza, da violência e das doenças, ou ainda na ameaça constante do “desfavelamento” que, progressivamente vai assolando e expulsando os habitantes da favela belorizontina.

Perspectivas de gênero

Ambas as autoras trazem para o centro da narrativa as experiências de mulheres negras, porém de maneiras diferentes. Carolina foca em sua própria experiência como mãe solteira, enfrentando a pobreza e buscando um futuro melhor para seus filhos. Sua escrita é uma forma de resistência pessoal e uma tentativa de transcender suas circunstâncias. Conceição, por outro lado, utiliza suas personagens para falar de experiências compartilhadas entre as mulheres da favela, destacando a solidariedade feminina e a força coletiva como elementos de resistência e sobrevivência. O papel das mulheres em "Becos da Memória" é central, e Evaristo explora profundamente suas interações e o impacto de suas histórias umas nas outras, com destaque para a personagem Vó Rita, que além de parteira e curandeira, atua como liderança comunitária da população da favela.

Impacto cultural e recepção crítica

"Quarto de Despejo" teve um impacto imediato após sua publicação, chamando a atenção para as condições de vida nas favelas brasileiras e colocando Carolina Maria de Jesus como uma das vozes mais importantes da literatura marginal brasileira. A crueza de seu relato oferece um testemunho potente da realidade social de sua época.
"Becos da Memória", embora não tenha alcançado a mesma fama imediata que "Quarto de Despejo", é igualmente significativo no seu papel de destacar as narrativas negras e femininas na literatura brasileira. A obra de Evaristo tem sido cada vez mais reconhecida por sua profundidade literária e importância cultural, oferecendo uma visão complexa e enriquecedora das comunidades marginalizadas.

E por que a Faculdade de Ciências Médicas escolheu essas duas obras?

Professor Flávio Castro na aula sobre as obras

Professor Flávio Castro na aula sobre as obras

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A comparação entre "Quarto de Despejo" e "Becos da Memória" revela não apenas as semelhanças em seus temas de marginalização e resistência, mas também as diferenças em suas abordagens narrativas e estilos literários. Ambos os livros são essenciais para entender as dinâmicas sociais e culturais das comunidades negras urbanas no Brasil, cada um oferecendo uma janela única e profunda para essas experiências. As obras de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo são, assim, fundamentais para a literatura brasileira, proporcionando voz e visibilidade a histórias muitas vezes silenciadas. Tanto Carolina, a narradora dos seu diário de uma favelada, quanto Maria-Nova, a jovem protagonista letrada de Becos da Memória e provável alter ego de Conceição Evaristo, são mulheres negras e fortes, que questionam o mundo circundante e encontram na escrita um instrumento de resistência contra o esquecimento.

Embora não haja um pronunciamento oficial da comissão organizadora do vestibular da FCCMG acerca da eleição destes dois livros, suspeitamos que haja aqui um motivo que transcende a atividade crítica e literária. Sabemos que a faculdade, um centro de excelência acadêmica e científica, é também uma instituição particular, que agrega, em sua maioria, estudantes de elevado poder aquisitivo e nível sociocultural. E é exatamente aí que reside o sentido da escolha destas duas obras: a leitura de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo, pode promover junto aos futuros profissionais da saúde uma imersão nas mazelas sociais brasileiras, um país lamentavelmente racista e que insiste em perpetuar aspectos absurdos do escravismo. As obras escolhidas são ideias para injetar no(a) futuro(a) médico(a) uma dose necessária de altruísmo, indignação e realidade. Afinal, exercer a medicina no Brasil exige não apenas conhecimento científico e teórico, mas também consciência política e o compromisso humanitário de cuidar das tantas Carolinas, Marias-Novas, Marias-Velhas e Avós Ritas espalhadas pelo nosso imenso país.

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Sobre o autor: Flávio de Castro é pós-graduado em Letras pela Unicamp e escritor. Escreveu Desaparecida (2018) e Minério de Ferro (2021), além de colaborar em diversas revistas, jornais e suplementos. Atualmente é pesquisador no Posling do CEFET-MG e professor de Literatura e Interpretação de Textos no Curso DetOnline.