*Conteúdo produzido por Flávio Castro

Um estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), com participação de pesquisadores do IOC e da Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2022, trouxe alguns dados interessantes e alarmantes sobre a saúde mental dos estudantes brasileiros de pós-graduação no contexto da pós-pandemia.

A pesquisa envolveu aproximadamente seis mil estudantes de pós-graduação, representando todas as regiões brasileiras, e evidenciando o profundo impacto da pandemia de Covid-19 na saúde mental e no rendimento acadêmico desses indivíduos. Dentre as descobertas mais alarmantes, cerca de 45% dos estudantes foram diagnosticados com ansiedade, e 17% apresentaram sintomas de depressão no decorrer do primeiro ano da crise sanitária. Mais da metade dos entrevistados sofreu com episódios de ansiedade e transtornos do sono. Um significativo contingente, correspondente a quase 80% dos pesquisados, relatou enfrentar desmotivação e desafios relacionados à capacidade de manter o foco nos estudos.

De acordo com outra pesquisa, conduzida pelo Instituto Ayrton Senna e a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que foi divulgada pela Agência Senado, cerca de 70% dos 642 mil estudantes entrevistados, que abrange do 5º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, reportaram sintomas de depressão ou ansiedade no retorno às atividades escolares presenciais, após o período de isolamento social devido à pandemia. Este estudo foi apresentado em uma sessão da subcomissão da Comissão de Educação, especializada na avaliação dos impactos da pandemia no âmbito educacional.

Um exame simples dos dados presentes em ambas pesquisas já nos possibilitam concluir que, desde o ensino fundamental até as bancas dos doutorados, os estudantes brasileiros vêm apresentando diversos sintomas comportamentais adquiridos em função das várias circunstâncias ocasionadas pela pandemia, entre elas o isolamento, da falta de sociabilidade e da superexposição aos ambientes virtuais. Ainda que três anos tenham se passado, seguimos lidando com as consequências desse delicado período da história do século XXI.

A artificialização dos estudos – a palavra do especialista

Dr. Fernando Siqueira esteve presente no Congresso de Psiquiatria na Universidade de São Paulo

Arquivo Pessoal

Para referenciar nosso texto, entrevistamos o psiquiatra mineiro Fernando Siqueira, que nos atendeu diretamente da Universidade de São Paulo, onde, coincidentemente, participava de um simpósio intitulado “A geração Z e a tecnologia”. Enviamos duas perguntas que o médico nos respondeu com interesse e paciência:

Determinante - Quais são as principais mudanças que você tem observado na saúde mental dos estudantes em decorrência da pandemia e como estes impactos podem afetar seu desempenho acadêmico no retorno às atividades presenciais?

Fernando Siqueira - A pandemia ainda não terminou, mas vai ficando cada vez mais no nosso retrovisor. O problema é que esse retrovisor está cada vez maior e mais amplo, especialmente para os quadros de saúde mental. Não estávamos preparados para a pandemia, mas especialmente as crianças e adolescentes não estavam. Permanecer em casa, excesso de telas, ensino a distância, desencadearam diversos quadros de ansiedade, fobias e depressões em crianças que não existiam antes. Houve perda de laços, de afetos e uma suposta artificialização do estudo. Me parece ser necessário uma retomada dos laços, afetos e diálogos, todos perdidos.

Determinante - Diante do aumento relatado no consumo de medicamentos psicoestimulantes e bebidas energéticas entre estudantes para enfrentar demandas acadêmicas no pós-pandemia, quais são os riscos potenciais para a saúde mental e física, e como os profissionais de saúde podem orientar os estudantes a adotar práticas mais saudáveis?

Fernando Siqueira - Os psicoestimulantes, incluindo a cafeína, são substâncias com importante risco de abuso e dependência. Há sintomas de fissura, tolerância, abstinência em todos eles, inclusive a cafeína. Em busca de uma suposta produtividade maior - não comprovada por estudos científicos - os estudantes têm feito uso de psicoestimulantes cujos efeitos a longo prazo, para além da dependência e se tomados sem acompanhamento ou indicação, podem levar a problemas do sistema cardiovascular e quadros psiquiátricos como ansiedade, depressão e até quadros psicóticos. Cabe aos profissionais de saúde não prescrever medicações sem indicação clínica precisa - o que aumentou gravemente na pandemia, orientar que não há medicação que melhore o desempenho se ele não é devido a um transtorno, estimular os laços sociais, a prática de atividades físicas etc.

É interessante prestar atenção ao que o especialista denominou de "artificialização do estudo", referindo-se ao aumento do impacto e da intrusão das novas tecnologias no processo de educação. Isso substitui os processos naturais de socialização por recursos como vídeos, inteligências artificiais, aplicativos e animações, os quais podem ser acelerados, editados e personalizados. Tal fenômeno pode modificar profundamente a percepção do tempo e do aprendizado do conteúdo. As implicações desses processos na saúde mental de alunos e educadores é, conforme vimos, uma preocupação recorrente entre a comunidade científica e os profissionais de saúde.

Caso surjam sentimentos de ansiedade, depressão ou desconforto, recomenda-se sempre buscar a assistência de um profissional da saúde mental. O apoio especializado é sempre a forma mais adequada de lidar com essas questões e de preservar o bem estar dos estudantes.

Colégio e Pré-Vestibular Determinante: a escolha certa

Sala de estudos do colégio Determinante

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Sobre o autor: Flávio de Castro é pós-graduado em Letras pela Unicamp e escritor. Escreveu Desaparecida (2018) e Minério de Ferro (2021), além de colaborar em diversas revistas, jornais e suplementos. Atualmente é pesquisador no Posling do CEFET-MG e professor de Literatura e Interpretação de Textos no Curso DetOnline.

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