Memes sobre o uso de frases com citações falsas -  (crédito: reprodução Instagram Artes Depressão - @artesdepressao)

Memes sobre o uso de frases com citações falsas

crédito: reprodução Instagram Artes Depressão - @artesdepressao

*Conteúdo produzido por Flávio Castro

Citações que se tornaram célebres, e que foram atribuídas incorretamente aos seus autores, são comuns e podem distorcer nossa compreensão sobre alguns personagens da história. Um exemplo é a frase "Seja a mudança que você quer ver no mundo," frequentemente associada ao líder hindu Mahatma Gandhi. No entanto, não há evidências de que ele tenha dito isso; a citação mais próxima foi publicada por Gandhi em 1913, onde ele discute como as mudanças internas refletem nas externas, mas sem esse tom imperativo que parece ter saído de um livro de autoajuda.

Outra citação equivocada é "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo," atribuída a Voltaire, pseudônimo do escritor, historiador e filósofo François-Marie Arouet. Na verdade, essa frase foi criada por Evelyn Beatrice Hall em 1906, como uma síntese do pensamento de Voltaire sobre liberdade de expressão.

Imagem de uma tela pintada em óleo da Rainha Maria Antonieta

A frase acima nunca foi dita pela Rainha Maria Antonieta

Domínio Público

A frase "Não tem pão? Que comam brioche," supostamente dita por Maria Antonieta, também é incorreta. A primeira menção a essa expressão foi feita pelo filósofo iluminista Jean Jaques Rousseau em 1767, atribuindo-a a uma "grande princesa" não identificada. A associação com a rainha francesa morta pela revolução só surgiu décadas após sua morte. Esses equívocos foram abordados em uma curiosa reportagem publicada pela sucursal brasileira da rede inglesa BBC em 2 de fevereiro de 2022, e refletem uma prática que se tonaria muito comum no século XXI, com a advento das redes sociais: a falsa atribuição de frases supostamente ditas por vultos históricos e até mesmo escritores consagrados.

A prática de compartilhar frases retiradas de obras literárias, filosóficas ou religiosas nas redes sociais, especialmente no Facebook, tem alterado as formas tradicionais de escrita e leitura. Essas "mensagens compartilhadas" são frequentemente publicadas fora de seu contexto original e muitas vezes modificadas, seja com a adição de imagens ou pequenas alterações textuais, o que pode distorcer seu significado original. Essas frases, postadas em perfis pessoais ou em comunidades dedicadas a compilar citações, ganham novos sentidos ao serem adaptadas ao gosto de quem as compartilha. Isso contribui para a disseminação de atribuições errôneas, onde frases que não foram ditas por determinados autores acabam sendo creditadas a eles.

Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector são exemplos claros desse fenômeno. Ambos têm seus nomes frequentemente associados a frases profundas e reflexivas, mesmo quando nunca as escreveram ou disseram. Essa prática revela como as redes sociais podem moldar e distorcer a percepção das obras e pensamentos de figuras literárias, destacando a importância de se consumir esse tipo de conteúdo com um olhar crítico.

A prática de atribuir frases falsas a autores renomados tornou-se tão comum que acabou virando piada nas redes sociais, gerando uma série de memes que satirizam essa tendência. Frases absurdas ou completamente fora de contexto são propositalmente associadas a autores como Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector, transformando o fenômeno em algo caricato. Esses memes não apenas criticam a superficialidade com que as citações são compartilhadas, mas também expõem a frivolidade com que se produzem e se consomem essas sentenças supostamente literárias ou filosóficas, muitas vezes piegas ou apelativas.

Apesar do tom humorístico que essa prática adquiriu, o hábito de divulgar frases e citações fora de seu contexto original ainda é amplamente difundido. Hoje, há sites dedicados exclusivamente à compilação e divulgação de citações, muitas vezes sem qualquer verificação da autoria. Além disso, canais do YouTube oferecem listas como "Frases e indiretas para pessoas falsas", que exploram essa tendência de forma massiva e, muitas vezes, irresponsável.

As Cartas Portuguesas e o ENEM

Imagem de página de livros antigos.

Outro caso notório foi o das Cartas Portuguesas que foram falsamente atribuídas a uma freira

Domínio Público

Essa tendência de atribuições equivocadas, embora amplificada pelas redes sociais, não é nova. No século XVII, um dos casos mais notórios foi o das Cartas Portuguesas. Esses textos, que expressam sentimentos profundos de amor e desespero, foram falsamente atribuídos a Soror Mariana Alcoforado, uma freira portuguesa que, provavelmente, nunca existiu. As Cartas Portuguesas são um exemplo clássico de como a atribuição errônea de autoria é uma prática antiga e recorrente.

Diante disso, é essencial que os leitores verifiquem a autoria de qualquer citação antes de compartilhá-la ou usá-la em um contexto mais formal. Na redação do ENEM, o uso adequado de citações é uma ferramenta poderosa para fortalecer a argumentação, desde que feito com precisão e cuidado. É importante que a citação esteja diretamente relacionada ao tema e seja apresentada de forma contextualizada, demonstrando compreensão do conteúdo e relevância da ideia mencionada. Além disso, a autoria da citação deve ser corretamente atribuída, com menção clara ao autor ou à obra, evitando generalizações ou atribuições incorretas que possam comprometer a credibilidade do texto. Verificar a autenticidade da citação antes de incluí-la é essencial para garantir que a argumentação seja sustentada por fontes confiáveis e pertinentes.

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Sobre o autor: Flávio de Castro é pós-graduado em Letras pela Unicamp e escritor. Escreveu Desaparecida (2018) e Minério de Ferro (2021), além de colaborar em diversas revistas, jornais e suplementos. Atualmente é pesquisador no Posling do CEFET-MG e professor de Literatura e Interpretação de Textos no Curso DetOnline.