O uso com consciência dos dispositivos diminui a ansiedade -  (crédito: AI Adobe Firefly)

O uso com consciência dos dispositivos diminui a ansiedade

crédito: AI Adobe Firefly

*Conteúdo produzido por Flávio Castro

Com menos de dois meses para a prova do ENEM, muitos estudantes se veem tomados pela ansiedade e a pressão de estarem prontos para um dos exames mais importantes de suas vidas acadêmicas. O Exame Nacional do Ensino Médio não apenas define o acesso a universidades públicas e privadas, como também influencia bolsas de estudo e financiamentos estudantis. Nesse cenário, é natural que a busca por métodos eficazes de estudo se intensifique, assim como a apreensão diante da quantidade de conteúdos a serem revisados. Uma estratégia que vem ganhando relevância neste período é a desconexão digital — seja parcial ou temporária —, que pode ser uma aliada importante para melhorar a concentração, reduzir a ansiedade e aumentar o rendimento nos estudos.

A importância da concentração no ENEM

O ENEM é conhecido por ser uma prova que exige não só conhecimento, mas também muita concentração e resistência mental. Com questões contextualizadas e textos longos, tanto nos enunciados quanto nas alternativas, o exame desafia o candidato a manter o foco por horas. São 180 questões distribuídas em dois dias de prova, além da redação, o que torna fundamental que o estudante consiga se manter concentrado e atento por um longo período.

Muitos estudantes se queixam de que, após algumas horas de prova, começam a perder a capacidade de raciocinar com clareza, principalmente diante de questões que demandam leitura cuidadosa e interpretação complexa. Esse desgaste mental pode ser agravado por uma rotina de estudos permeada por distrações, especialmente aquelas que envolvem o uso excessivo de redes sociais e dispositivos móveis.

A vida diante das telas — especialmente em um ambiente de constante notificações, mensagens e vídeos curtos — compromete nossa capacidade de imersão. A todo momento, somos bombardeados por informações rápidas e fragmentadas que, além de distrair, prejudicam nossa capacidade de nos aprofundar em uma tarefa. A repetição desse padrão pode tornar mais difícil a imersão necessária para estudar de forma eficaz, especialmente para uma prova como o ENEM, que exige paciência e concentração.

O que é FOMO e como isso afeta os estudantes

Um fenômeno que intensifica o uso excessivo das redes sociais e a dificuldade de desconexão é o FOMO ("Fear of Missing Out", ou "medo de estar perdendo algo", em português). FOMO refere-se ao medo de ficar de fora de algo importante que pode estar acontecendo nas redes sociais ou na vida de amigos. Essa sensação leva os usuários a checarem constantemente seus dispositivos, seja para acompanhar postagens de outros ou participar de conversas em tempo real, em busca de algo novo ou excitante.

Para estudantes prestes a realizar uma prova como o ENEM, o FOMO pode ser especialmente prejudicial. A frustração de ver outras pessoas aparentando estar se divertindo, enquanto o estudante está preso a uma rotina de estudos, pode agravar a ansiedade e o cansaço mental. Além disso, o hábito de ficar checando as redes constantemente faz com que a concentração seja continuamente interrompida, fragmentando o tempo dedicado ao aprendizado. Esse ciclo de distração constante pode comprometer tanto o processo de absorção de conteúdo quanto a capacidade de lidar com o exame no dia da prova.

A desconexão como solução temporária ou parcial

A desconexão digital, seja parcial ou temporária, surge como uma solução interessante para esse período de reta final, quando se iniciam as revisões e o foco se torna ainda mais importante. Desconectar-se não significa cortar completamente o uso das tecnologias, mas sim limitar a exposição às telas e às distrações. Isso pode ser feito de várias maneiras, dependendo do nível de desconforto ou necessidade do estudante. Algumas sugestões práticas abaixo.

1. Desativar todas as notificações de redes sociais e aplicativos de mensagens.

Assim, o estudante evita ser interrompido por alertas que desviam sua atenção, permitindo que os estudos fluam de maneira mais contínua.

2. Usar aplicativos que limitam o tempo de uso do celular.

Existem ferramentas que bloqueiam o acesso ao dispositivo ou a aplicativos específicos caso o tempo pré-estabelecido seja ultrapassado. Isso ajuda a criar uma disciplina quanto ao uso de redes sociais e outras distrações.

3. Sair temporariamente de grupos de WhatsApp não essenciais, como grupos de amigos de longa data ou hobbies.

Grupos de conversas como “Amigos do Fundamental 2” ou “Apaixonados por Carros Antigos” podem ser pausados durante este período, permitindo que o foco permaneça nas tarefas mais importantes.

4. Evitar buscar informações em redes sociais.

Uma alternativa eficiente é reservar parte do dia para ler as notícias em portais confiáveis ou assistir a um telejornal. Isso ajuda a manter o estudante informado, sem o risco de distrações aleatórias e conteúdo irrelevante.

5. Estabelecer limites para o uso recreativo do smartphone, como gravar vídeos, editar fotos ou jogar.

Essas atividades, embora relaxantes, consomem muito tempo e energia que poderiam ser direcionados para o estudo.

O objetivo não é abolir o uso das redes sociais, mas moderar o tempo de exposição, priorizando momentos dedicados exclusivamente à revisão e ao aprendizado. No contexto das redes sociais, é importante lembrar que boa parte das postagens e interações são triviais e, muitas vezes, não agregam valor real à preparação para uma prova como o ENEM.

A importância de atividades que promovem foco

Durante os primeiros dias de desconexão, é comum que o estudante sinta uma espécie de ansiedade por estar “desconectado” — uma sensação de estar perdendo algo importante. Esse sentimento é uma manifestação direta do FOMO, mas pode ser combatido com a introdução de atividades que exijam atenção e foco. Práticas como escrever, desenhar, resolver desafios matemáticos, fazer artesanato, praticar esportes, jogar jogos de tabuleiro ou tocar um instrumento musical podem ajudar a canalizar a energia e reduzir o desejo de estar constantemente conectado.

Essas atividades têm o benefício adicional de estimular o cérebro de maneiras diferentes, promovendo o desenvolvimento de habilidades como a concentração, a criatividade e o raciocínio lógico, todas fundamentais para o bom desempenho no ENEM.

A desconexão e o impacto no desempenho

A redução da exposição às telas pode trazer uma série de benefícios que vão além do aumento da capacidade de concentração. Estudos indicam que a diminuição no uso de redes sociais e a desconexão digital ajudam a melhorar a clareza de raciocínio, favorecem a memória e reduzem a ansiedade. Essas melhorias cognitivas são essenciais para quem está prestes a realizar uma prova que exige horas de leitura, análise crítica e tomada de decisões.

Assim, ao adotar a desconexão digital de forma consciente e equilibrada, o estudante não apenas melhora seu foco e desempenho nos estudos, mas também se prepara mentalmente para o desgaste que o ENEM pode causar.

Em resumo, desconectar-se temporariamente ou limitar o uso das redes sociais é uma estratégia valiosa para estudantes em fase de preparação para o ENEM. Ao reduzir as distrações e focar no que realmente importa, o candidato melhora suas chances de sucesso em uma prova que exige concentração, paciência e resistência mental.

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Sobre o autor: Flávio de Castro é pós-graduado em Letras pela Unicamp e escritor. Escreveu Desaparecida (2018) e Minério de Ferro (2021), além de colaborar em diversas revistas, jornais e suplementos. Atualmente é pesquisador no Posling do CEFET-MG e professor de Literatura e Interpretação de Textos no Curso DetOnline.

Observação: O conteúdo desse texto foi inspirado nos seguintes livros, que figuram aqui a titulo de sugestão de leitura e aprofundamento no tema: “Geração Superficial: o que a Internet está fazendo com os nossos cérebros” Nicholas Carr. Editora Agir (2010), “Dez argumentos para você deletar agora as suas redes sociais”, Jaron Lanier. Editora Intrínseca (2018)