A Xiaomi lança o SU7 Ultra em um momento delicado para o mercado de elétricos premium na China. A expansão para 112 lojas em 42 cidades demonstra confiança da marca de tecnologia, mas o sedã de R$ 650 mil entra em território já disputado por fabricantes especializados. As entregas programadas para março de 2025 coincidem com desaceleração nas vendas de veículos de luxo no mercado chinês.
O modelo representa evolução do SU7 original, mas questiona-se se as melhorias justificam o salto de preço. A produção em massa na fábrica de Pequim indica otimismo da empresa, porém o setor automotivo chinês enfrenta saturação crescente de marcas disputando o mesmo público. A Xiaomi precisa provar que consegue sustentar interesse além do período inicial de novidade.
O desempenho extremo do SU7 Ultra tem aplicação real?
As especificações do SU7 Ultra impressionam no papel, mas levantam questões sobre utilidade prática. A aceleração de 0 a 100 km/h em 1,98 segundo e velocidade máxima de 350 km/h são números adequados para circuitos, não para uso urbano predominante na China.
O sistema de três motores que entrega 1.526 cavalos consome energia de forma intensa, comprometendo a autonomia real em condições normais de uso. Os 1.770 Nm de torque podem ser excessivos para motoristas habituados a veículos convencionais, criando curva de aprendizado que pode desencorajar compradores potenciais.

A tecnologia de frenagem compensa os custos de manutenção?
Os freios de carbono-cerâmica que suportam 1.300°C representam engenharia avançada, mas implicam custos de manutenção elevados. A distância de frenagem de 30,8 metros desde 100 km/h é notável, porém a reposição desses componentes pode custar mais que um veículo popular inteiro.
A Xiaomi não esclarece sobre disponibilidade de peças de reposição ou rede de assistência especializada. Proprietários podem enfrentar dificuldades para encontrar oficinas capacitadas para manutenção de sistemas tão específicos, especialmente fora dos grandes centros urbanos chineses.
A bateria CATL Qilin II entrega autonomia prometida?
A bateria CATL Qilin II de 93,7 kWh oferece 620 km de autonomia no ciclo CLTC, padrão chinês conhecido por ser mais otimista que testes reais. Em condições práticas, especialmente com uso esportivo do veículo, a autonomia pode ser significativamente menor.
O carregamento de 10% a 80% em 11 minutos exige infraestrutura de alta potência ainda limitada na China. Mesmo nas cidades maiores, estações capazes de suportar o sistema DC 5.2C são escassas, tornando essa vantagem técnica pouco acessível para a maioria dos usuários.
O preço de 814.900 yuan é competitivo no segmento?
Com preço equivalente a R$ 650 mil, o SU7 Ultra compete diretamente com modelos estabelecidos de marcas tradicionais premium. Porsche Taycan, BMW iM e Mercedes-AMG EQS oferecem pedigree automotivo e redes de suporte consolidadas por valores similares.
A Xiaomi conta principalmente com o apelo tecnológico para justificar o posicionamento, mas compradores desse segmento valorizam também status e tradição. A marca chinesa ainda precisa construir reputação automotiva para competir efetivamente com fabricantes estabelecidos há décadas.

A demanda inicial reflete interesse sustentável?
Os 3.680 pedidos nos primeiros 10 minutos da pré-venda parecem impressionantes, mas representam fração pequena do mercado total. O fenômeno pode refletir curiosidade inicial típica de lançamentos tecnológicos, não necessariamente demanda sustentada.
O tempo de espera entre 21 e 29 semanas para o SU7 regular indica problemas de capacidade produtiva ou estratégia de marketing para criar sensação de escassez. Para o SU7 Ultra, a Xiaomi precisará equilibrar produção limitada com necessidade de volume para sustentar operações.
A Xiaomi consegue competir no mercado automotivo premium?
A entrada da Xiaomi no setor automotivo enfrenta desafios únicos de uma empresa de tecnologia tentando dominar indústria tradicional. Sucesso em smartphones não se traduz automaticamente em competência para desenvolver, produzir e dar suporte a veículos complexos.
O SU7 Ultra representa teste crucial para credibilidade automotiva da marca. Falhas de qualidade, problemas de software ou deficiências no atendimento pós-venda podem comprometer seriamente a reputação da Xiaomi em segmento onde confiabilidade é fundamental.
A estratégia de expandir rapidamente para 112 lojas pode ser precipitada sem base sólida de experiência no setor, criando riscos operacionais que podem impactar negativamente a percepção da marca.