O mercado de SUVs no Brasil vive um momento contraditório em 2025. Enquanto as montadoras celebram o sucesso da categoria, a proliferação excessiva de modelos similares começa a gerar confusão entre consumidores e competição predatória que nem sempre resulta em benefícios reais. A busca por participação de mercado pode estar sacrificando qualidade e diferenciação.
A promessa de conforto e versatilidade dos SUVs esconde limitações importantes que raramente são discutidas. Muitos modelos nacionais oferecem altura elevada apenas como artifício visual, sem entregar capacidades reais off-road ou espaço interno superior. O resultado é uma categoria inflada de produtos que atendem mais ao marketing do que às necessidades práticas.
Os preços “acessíveis” realmente compensam o investimento?
O Citroën Basalt lidera a lista com R$ 89.990, mas esse valor representa apenas a versão mais básica, frequentemente desprovida de itens essenciais. A diferença entre versões de entrada e topo pode ultrapassar R$ 30.000, tornando o preço inicial uma isca comercial enganosa.
A produção nacional no Rio de Janeiro não se traduz automaticamente em vantagem competitiva. Problemas de qualidade e acabamento podem comprometer a experiência de propriedade. O motor 1.0 Firefly da versão básica oferece desempenho questionável para um veículo com proporções de SUV.

A multiplicidade de opções confunde mais do que ajuda?
Com Renault Kardian a R$ 106.990, Fiat Pulse a R$ 107.990 e Nissan Kicks a R$ 115.890, o mercado apresenta diferenças de preço mínimas entre modelos teoricamente distintos. Essa proximidade de valores não facilita a escolha, mas sim gera indecisão entre produtos muito similares.
O Citroën C3 Aircross a R$ 115.990 completa um grupo de veículos que competem mais entre si do que com categorias diferentes. A estratégia pode beneficiar montadoras através de volumes, mas deixa consumidores sem opções verdadeiramente diferenciadas.
Os motores pequenos atendem às promessas de versatilidade?
A predominância de motores 1.0 e 1.3 em veículos comercializados como SUVs levanta questões sobre capacidade real. Esses propulsores podem ser inadequados para uso em estradas ou com carga, limitando a versatilidade prometida pela categoria.
O Nissan Kicks com motor 1.6 oferece potência mais adequada, mas ainda distante do que tradicionalmente se espera de um SUV. A eficiência energética pode ser positiva no consumo urbano, mas compromete desempenho em situações que demandam mais força.
O câmbio CVT realmente melhora a experiência?
Diversos modelos da lista adotam transmissão CVT como diferencial, mas essa tecnologia pode gerar mais problemas do que soluções. O câmbio continuamente variável oferece economia teórica, mas frequentemente resulta em sensação de perda de potência e ruído excessivo.
A manutenção do CVT é mais complexa e cara que transmissões convencionais. Proprietários podem enfrentar custos elevados após o período de garantia, especialmente considerando que muitos SUVs são adquiridos para uso intensivo.
A altura elevada compensa os problemas de estabilidade?
A característica mais vendida dos SUVs – a altura elevada – pode comprometer segurança ativa e consumo de combustível. O centro de gravidade mais alto aumenta riscos de capotagem e afeta estabilidade em curvas, especialmente com pneus estreitos comuns em versões básicas.
A visão privilegiada da estrada é parcialmente anulada pelo aumento no consumo e pela dificuldade de estacionamento em grandes centros urbanos. Muitos proprietários descobrem que raramente utilizam as vantagens prometidas, mas convivem diariamente com as desvantagens.
O futuro dos SUVs acessíveis é sustentável?
A categoria de SUVs acessíveis pode estar atingindo saturação no mercado brasileiro. A multiplicação de modelos similares força guerra de preços que pode comprometer investimentos em qualidade e segurança. Fabricantes priorizam volumes sobre desenvolvimento técnico real.
Consumidores começam a questionar se realmente precisam de SUVs ou se foram conduzidos por estratégias de marketing eficientes. A tendência pode se reverter conforme compradores descobrem que hatches convencionais oferecem melhor custo-benefício para uso predominantemente urbano.