O filme “Dois Papas“, dirigido por Fernando Meirelles, aborda um dos momentos mais intrigantes da história recente da Igreja Católica: a renúncia do papa Bento 16 e a subsequente ascensão de Jorge Mario Bergoglio, o atual papa Francisco. Esta obra, disponível na Netflix, mistura ficção e realidade para explorar os bastidores do Vaticano e os desafios enfrentados pela Igreja no século XXI.
Com um elenco estrelado por Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, o filme foi indicado a diversos prêmios e gerou debates sobre a veracidade dos eventos retratados. A narrativa foca na relação entre Bento 16 e Bergoglio, destacando suas visões divergentes sobre a fé e o futuro da Igreja.
Qual é a realidade por trás do conclave de 2005?
O conclave de 2005, que elegeu Joseph Ratzinger como Bento 16, é um dos eventos centrais do filme. Na realidade, este processo é envolto em segredo, com cardeais de todo o mundo reunidos na Capela Sistina para eleger o novo líder da Igreja. Embora o filme sugira um intenso lobby por parte de Ratzinger, não há evidências concretas de tais manobras políticas.
Documentos vazados posteriormente indicam que Bergoglio foi um dos candidatos considerados, mas não há registros de que ele tenha lamentado a eleição de Ratzinger. A trama do filme, portanto, incorpora elementos fictícios para dramatizar o processo de escolha do papa.
Como o “Vatileaks” influenciou a renúncia de Bento 16?
O escândalo conhecido como “Vatileaks” expôs documentos confidenciais do Vaticano, revelando casos de corrupção e má conduta dentro da Igreja. Este evento, que envolveu o mordomo de Bento 16, Paolo Gabriele, é retratado no filme como um dos fatores que contribuíram para a renúncia do papa em 2013.
Embora Bento 16 tenha citado “falta de forças” como motivo oficial para sua renúncia, o filme sugere que questões de culpa e crise de fé também desempenharam um papel. No entanto, não há confirmações de que essas foram as razões reais por trás de sua decisão.
O passado de Francisco é realidade ou ficção?
O filme também explora o passado de Jorge Mario Bergoglio, incluindo sua juventude e seu papel durante a ditadura militar na Argentina. Embora o longa apresente uma narrativa envolvente, algumas partes são dramatizadas para efeito cinematográfico.
Bergoglio, antes de se tornar sacerdote, trabalhou como técnico de laboratório, mas não há registros de um noivado como mostrado no filme. Além disso, sua relação com o regime militar argentino continua sendo um tema controverso, com alegações de colaboração que ele próprio negou em entrevistas e escritos.
Como o filme retrata os papas Bento 16 e Francisco?
Uma crítica comum ao filme é a representação dos dois papas em extremos opostos: Francisco como o “papa bom”, progressista e humilde, e Bento 16 como o “papa mau”, conservador e distante. Esta dicotomia simplifica a complexidade de suas personalidades e papados.
O diretor Fernando Meirelles admite que o filme suaviza a imagem de Bento 16, enquanto destaca as qualidades de Francisco. Essa abordagem, embora eficaz para a narrativa, pode não refletir com precisão a realidade dos dois líderes religiosos.