Na série Maria e o Cangaço, Isis Valverde assume um papel ousado e visceral, interpretando uma mulher que decide trilhar seu próprio caminho em meio a um universo dominado por homens e violência. A produção, exclusiva do Disney+, mistura drama, ação e elementos históricos para contar uma nova versão do cangaço brasileiro, com uma protagonista feminina que desafia as estruturas do poder e da tradição no sertão nordestino.
Dirigida por Sérgio Machado, conhecido por seu olhar poético e cru sobre realidades brasileiras, a série mergulha em um Brasil profundo, árido e, ao mesmo tempo, encantador. Isis se transforma em cena: sua Maria é feroz, contraditória e carismática, representando não só uma personagem histórica, mas um símbolo de resistência e reinvenção.
A série traz ainda um elenco afiado, com destaque para Mariano Mattos Martins e Daniel Rocha, que completam a narrativa com interpretações intensas. A trilha sonora e o figurino reforçam a imersão no universo do cangaço, sem cair em estereótipos ou caricaturas.
Cangaço, resistência e empoderamento em um sertão cinematográfico
Mais do que uma série de ação, Maria e o Cangaço propõe um olhar contemporâneo sobre o passado. A figura do cangaceiro, tão presente no imaginário popular, ganha nova camada de complexidade ao ser retratada com nuances femininas. A personagem de Isis Valverde subverte o arquétipo clássico da mulher do cangaceiro: agora, ela lidera, decide e enfrenta, não apenas acompanha.
A série debate questões como violência de gênero, machismo estrutural, desigualdade social e as limitações impostas às mulheres do sertão. Ao mesmo tempo, exalta a beleza bruta da caatinga, revelando paisagens e culturas muitas vezes negligenciadas pela grande mídia.
A escolha do cenário não foi por acaso. As filmagens ocorreram em locações autênticas no sertão nordestino, onde a equipe precisou lidar com sol intenso, estradas de difícil acesso e a escassez de recursos. Mas o esforço se converteu em cenas que impressionam visualmente e narrativamente.
Para o diretor Sérgio Machado, a ideia foi justamente trazer uma experiência sensorial para o público: “Queríamos que o espectador sentisse o peso do sol, o silêncio do sertão e a força dessas personagens. A Maria da Isis é uma personagem que deixa marcas.”
Fotografia premiada e clima realista elevam a produção a nível internacional
Um dos grandes destaques técnicos da série é a direção de fotografia assinada por Adrian Teijido, responsável por obras aclamadas como O Mecanismo e Narcos. Com vasta experiência em capturar a essência de narrativas intensas, Teijido usa a luz e a paisagem do sertão como instrumentos dramáticos. A série aposta em planos longos, silêncios profundos e composições que evocam filmes clássicos do faroeste e do cinema novo brasileiro.
A câmera passeia entre a aridez do solo rachado e a vastidão dos horizontes, refletindo o isolamento dos personagens e a intensidade das escolhas que precisam fazer. As cores saturadas, tons terrosos e contrastes entre sombra e luz ajudam a construir a atmosfera quase mística da narrativa.
A estética da produção foi pensada para equilibrar o realismo com uma leve camada de estilização. Cada episódio tem uma paleta própria e ritmo narrativo único, o que dá ao público a sensação de assistir a pequenos filmes interligados.
Essa atenção aos detalhes visuais posiciona a série como uma das mais bem produzidas do catálogo brasileiro do Disney+. A crítica especializada já começa a apontar Maria e o Cangaço como uma das promessas nacionais para futuras premiações internacionais de streaming.

Bastidores desafiadores e histórias reais inspiraram a construção dos personagens
As gravações da série ocorreram sob condições desafiadoras, com temperaturas elevadas e locações afastadas dos grandes centros. A equipe técnica enfrentou dificuldades logísticas, como transporte de equipamentos por estradas de terra e alimentação em regiões remotas. Ainda assim, o elenco e a direção fizeram questão de preservar a autenticidade da ambientação.
Isis Valverde mergulhou no papel com preparo físico e emocional rigoroso. Ela estudou histórias de mulheres reais que viveram durante o auge do cangaço, leu cartas da época e consultou historiadores. O resultado é uma personagem que não busca agradar, mas sim sobreviver – e isso a torna fascinante.
Além disso, muitos personagens da série foram inspirados em figuras históricas como Maria Bonita, Dadá (companheira de Corisco) e outras mulheres que, apesar da invisibilidade histórica, tiveram papéis centrais dentro dos grupos de cangaceiros.
A série também recria eventos históricos com liberdade poética, mesclando ficção e realidade em doses equilibradas. Isso proporciona ao espectador uma experiência envolvente sem comprometer o compromisso com a memória cultural.
Maria e o Cangaço consolida o protagonismo feminino nas narrativas de ação brasileiras
Com Maria e o Cangaço, a Disney+ se une ao crescente movimento de valorização do protagonismo feminino nas narrativas de ação e drama no Brasil. A personagem de Isis Valverde não é coadjuvante de um herói masculino, nem um apêndice romântico: ela é a força motriz da trama, a heroína imperfeita e poderosa que lidera sua própria jornada.
A série desconstrói a ideia de que produções ambientadas no sertão devem ser exclusivamente masculinas ou baseadas na violência gráfica. Ao invés disso, aposta na complexidade emocional, no conflito interno das personagens e na riqueza cultural do Nordeste.
Esse movimento acompanha uma tendência global no audiovisual, onde figuras femininas ganham cada vez mais espaço em produções de impacto. A representatividade que Maria e o Cangaço promove vai além do gênero: ela alcança também aspectos regionais, sociais e históricos, oferecendo ao público uma protagonista que carrega o peso de uma época e a força de uma mudança necessária.
A expectativa agora é que a série conquiste não apenas o público brasileiro, mas também o internacional, reforçando o potencial do Brasil em criar conteúdos originais, potentes e artisticamente refinados.