O café é uma das bebidas mais queridas do planeta — e para o brasileiro, é quase sagrado. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café, o Brasil é o segundo maior consumidor de café do mundo, com uma média de 1.430 xícaras por pessoa ao ano.
Apesar da paixão nacional, o preço do café disparou em 2025. Segundo a FAO, o aumento global foi de 38,8% em relação a 2024. A variedade arábica, muito usada mundialmente, subiu 70% na bolsa ICE no ano passado e mais 20% até março deste ano.
Segundo Gabriel Barros, barista e especialista em cafés, a alta é reflexo de uma cadeia de fatores, como as mudanças climáticas (ondas de calor, secas, geadas), aumento no custo de produção e até especulação financeira. Isso reduziu a oferta, enquanto a demanda — especialmente na China, Japão e Coreia do Sul — segue crescendo.
Há chances de o preço do café baixar?
Barros não se mostra otimista quanto a uma queda imediata nos preços. A recuperação depende da melhora climática e da retomada da produtividade das lavouras. Mesmo assim, ele destaca que dificilmente veremos os preços de anos atrás.
Entenda as diferenças entre os tipos de café

Os cafés são classificados como extraforte, tradicional, gourmet e especial. Os dois primeiros são mais comuns, mas têm menor qualidade sensorial. Já os gourmet e especiais passam por torrefação mais cuidadosa e controle de qualidade rigoroso.
Barros faz um alerta: nem todo café de supermercado é ruim. Já é possível encontrar marcas que oferecem cafés especiais nas prateleiras. O problema está, muitas vezes, na data da torra. Cafés com torra recente preservam melhor os aromas e sabores.
Café moído ou em grãos?
Boa parte dos cafés vendidos no Brasil já está moída. Isso facilita o consumo, mas prejudica o sabor, pois o café moído perde aroma rapidamente. Barros também desmistifica boatos de que cafés moídos são cheios de impurezas. Segundo ele, os selos da ABIC garantem pureza e qualidade.
O café especial está ganhando espaço
Mesmo que ainda represente apenas 5% a 10% do consumo nacional, os cafés especiais vêm crescendo. Para Barros, “o café é o novo vinho” — e cada vez mais produtores e torrefações apostam nesse nicho, até mesmo as grandes marcas.
A internet tem papel importante nesse crescimento. Criadores de conteúdo ajudam a descomplicar o universo dos cafés especiais e incentivam novos consumidores a adotarem hábitos como moer o grão na hora e investir em métodos de preparo como prensa francesa ou V60.

Café como estilo de vida
A corretora Erika Pioto é um exemplo dessa mudança de hábito. Depois de experimentar cafés especiais por assinatura, não voltou aos tradicionais. Segundo ela, houve melhora no paladar e até na saúde digestiva.
Com a alta nos preços, Erika precisou adaptar seus hábitos. Cancelou a assinatura e passou a comprar diretamente de produtores, participando de compras coletivas para reduzir custos com frete. O consumo caiu, mas a qualidade se manteve.
Como começar a tomar cafés especiais?
Barros recomenda começar pela escolha de um café de boa procedência. Depois, o investimento em equipamentos pode vir aos poucos: moedor manual, chaleira pescoço de ganso, balança com timer e métodos como prensa francesa.
Por fim, o barista deixa uma dica essencial: “Prepare no seu tempo, com uma boa música, e apenas aprecie. Esteja presente. O melhor café é aquele que te agrada e te faz feliz.”