Desde a pandemia de 2020, o poder de compra do salário mínimo no Brasil enfrentou desafios significativos. Apesar dos reajustes anuais, o valor real do salário mínimo, medido pela quantidade de cestas básicas que pode adquirir, não recuperou o nível observado entre 2010 e 2019. Durante esse período, o salário mínimo permitia a compra média de duas cestas básicas, situação que mudou a partir de outubro de 2020, mantendo-se em cerca de 1,7 cestas desde então.
A combinação de fatores como a valorização do dólar, desvalorização do real e a inflação persistente tem impedido um retorno ao poder aquisitivo anterior. Segundo economistas, esses são fenômenos comuns em períodos pós-crise, porém a conjuntura recente foi exacerbada por eventos globais imprevistos.
Quais os fatores que influenciam o salário mínimo e o poder de compra?
No início de 2024, o governo brasileiro decretou um novo valor para o salário mínimo que passará a vigorar a partir de 2025, chegando a R$ 1.518. Este ajuste leva em conta a inflação prevista para 2024 e o crescimento econômico medido pelo PIB. Apesar do reajuste nominal, não se espera um aumento significativo na capacidade de compra, especialmente em relação à cesta básica, de acordo com estudos recentes.
O modelo de cálculo do salário mínimo considera o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o PIB de dois anos anteriores. Atualmente, com o INPC em 4,84% e um crescimento do PIB de 3,2% em 2023, há uma expectativa de que o salário mínimo atinja R$ 1.528 em 2025. Contudo, o custo de vida não tem proporcionalmente acompanhado esse reajuste, impactando severamente as classes mais baixas economicamente.
Por que o poder de compra do brasileiro continua estagnado?
Dentre as principais razões para a estagnação do poder de compra está o impacto dos choques globais. A pandemia desencadeou uma série de efeitos colaterais na economia, exacerbados pela Guerra na Ucrânia, que prejudicaram cadeias de suprimento e influenciaram os preços internamente. Como resultado, o grupo de alimentos tornou-se uma das maiores pressões sobre a inflação atual.
Os consumidores mais pobres são particularmente vulneráveis aos aumentos de preços. Um exemplo claro é a inflação acumulada entre 2014 e o presente: um produto que custava R$ 100, hoje está perto dos R$ 184, evidenciando a perda de poder de compra. Essa questão, somada à desvalorização do real frente ao dólar, continua a afetar a economia doméstica, às voltas com repasses cambiais nos preços finais para o consumidor.
Como a população enxerga a evolução econômica no Brasil?
As percepções do público sobre as condições econômicas são geralmente pessimistas, conforme apontado por pesquisas recentes. Uma significativa parcela dos brasileiros acredita que a inflação vai piorar em 2025, com essas preocupações refletindo nas expectativas para o futuro próximo. Além disso, a maioria vê a economia no rumo errado, o que influencia o humor e o planejamento financeiro das famílias.
A situação econômica é, portanto, um dos fatores críticos a ser monitorado nos próximos anos, especialmente considerando o ciclo eleitoral de 2026. A pesquisa também aponta para um ceticismo geral quanto a melhorias significativas no poder de compra antes deste período, mantendo-se uma expectativa de resiliência perante adversidades econômicas persistentes.