Nos jogos olímpicos e paralímpicos de 2024 em Paris, os espectadores podem ficar emocionados com os níveis extremos de força, velocidade, resistência e habilidade exibidos por milhares dos melhores atletas do mundo.

Mas, além de ficarmos impressionados com suas proezas físicas, podemos aprender lições valiosas desses super-humanos sobre nossas próprias vidas profissionais diárias — mesmo que elas não envolvam quadras de esporte ou pistas de corrida.

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A tenista japonesa Naomi Osaka em Paris em 2024

Rotina e hábitos

Para se tornarem atletas de elite, os atletas olímpicos precisam praticar. E praticar. E então praticar um pouco mais. Os melhores corredores, como os americanos Noah Lyles e Sha'Carri Richardson, realizam repetidamente os mesmos movimentos precisos, como largadas, exercícios de aceleração e exercícios de treinamento de força e core, incluindo agachamentos e levantamento.

Embora esse nível de repetição possa parecer chato, na verdade, ele ajuda os atletas a manter altos níveis de motivação e disciplina. Eles não desperdiçam energia cognitiva (poder cerebral) planejando seu tempo de forma diferente.

 



 

Treinar da mesma forma e comer as mesmas coisas se tornam hábitos diários que levam à eficiência e à intensidade, o que é algo a ter em mente quando você sentir que seu trabalho é monótono.

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Yaroslava Mahuchikh após ganhar medalha de atletismo em Paris em 2024

Encontrar motivação

O estabelecimento de metas é outra ferramenta motivacional importante para esses atletas. Metas de longo prazo obviamente incluem se classificar para as Olimpíadas e então ganhar uma medalha ou até mesmo quebrar um recorde.

 

 

A tenista japonesa Naomi Osaka disse que ganhar uma medalha olímpica era seu sonho de vida.

Há algo altamente motivacional em representar seu país, especialmente em 2024 para atletas da Ucrânia. A atleta de salto em altura Yaroslava Mahuchikh disse que estão lutando pelo povo e pelos soldados.

"Queremos mostrar a cada pessoa no mundo que continuaremos lutando, que a guerra não acabou", disse ela.

A motivação também vem de se importar com o que você faz.

Andy Murray, duas vezes medalhista de ouro olímpico, que planeja se aposentar após representar o Reino Unido nessa Olimpíada, disse recentemente que gostaria de poder continuar jogando tênis para sempre porque ama muito o esporte.

Fazer um trabalho que você gosta é uma grande ajuda quando se trata de manter altos níveis de desempenho.

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Shannon Rowbury em corrida em 2013

Gestão de estresse

 

 

É difícil para a maioria de nós imaginar o quão estressante deve ser ter que atuar no mais alto nível em um único momento enquanto o mundo todo está assistindo.

Para lidar com essa pressão intensa, alguns atletas tentam adotar uma "mentalidade de crescimento", na qual fazem questão de aprender com as situações para reduzir o estresse.

Outros, como a ex-corredora de meia distância dos EUA Shannon Rowbury, adotam estratégias de enfrentamento que podem envolver coisas como se sentir grato por situações de alta pressão porque elas indicam sucesso.

Outra técnica, que poderia ser usada por qualquer um antes de fazer uma apresentação ou participar de uma reunião desafiadora, é tentar se preparar psicologicamente com antecedência.

O corredor dos EUA Grant Holloway explica: "Se você for capaz de visualizar sua corrida e ver o que vai fazer antes mesmo de acontecer, quando ela começar de fato, vai ser natural."

Autonomia

 

 

A maioria dos atletas olímpicos desfruta de autonomia significativa em seu treinamento, e pesquisas mostram que isso pode melhorar o desempenho ao aumentar a motivação e o empoderamento.

Conceder mais autonomia aos funcionários provavelmente aumentará sua motivação também.

Mas também é importante que seus objetivos de longo prazo sejam claros – caso contrário, muita autonomia pode ser contraproducente.

Pesquisas sugerem, por exemplo, que algumas pessoas acham difícil trabalhar em casa quando se trata de automotivação e senso de direção.

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Sydney McLaughlin-Levrone em evento de atletismo nos EUA em 2024

Resiliência

Esportes de elite são cheios de momentos de resiliência — a capacidade de um atleta de superar contratempos aparentemente impossíveis.

O corredor britânico Ben Pattison, por exemplo, se classificou para os jogos de Paris apesar de ter passado por uma cirurgia cardíaca há alguns anos, enquanto a corredora de barreiras dos EUA Sydney McLaughlin-Levrone perdeu a temporada de 2023 devido a uma lesão, mas retornou com um recorde mundial em 2024.

 

 

No esporte, lesões e derrotas estão por toda parte. Fora do esporte, erros e contratempos no trabalho podem não ser tão dolorosos, mas ainda precisam ser superados.

Como o jogador de basquete vencedor da medalha de ouro olímpica Michael Jordan disse uma vez: "Eu errei mais de 9 mil arremessos na minha carreira. Perdi quase 300 jogos. Vinte e seis vezes me confiaram para dar o arremesso vencedor do jogo e errei. Eu falhei várias e várias vezes na minha vida. E é por isso que eu tenho sucesso."

Dificilmente algum de nós se considerará tão bem-sucedido quanto Jordan – e talvez nunca sejamos tão rápidos, fortes ou habilidosos quanto os atletas olímpicos que assistimos em Paris neste verão.

Mas podemos tirar lições da abordagem que eles adotam em seu trabalho – para nos sentirmos motivados, disciplinados e fortalecidos em tudo o que fizermos.

*Mladen Adamovic é professor de administração no King's College London

Este texto foi publicado originalmente no site de divulgação científica The Conversation e foi reproduzido aqui sob a licença creative commons. Leia a versão original (em inglês).

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