Economia

Café em alta, carne aquecida: como o clima redefine o agro em 2025

Seca eleva preços do café a recordes históricos, enquanto a BRF expande vendas de alimentos processados; veja o impacto do clima na economia brasileira

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O Brasil, maior produtor de café do mundo, está vivendo um momento de tensão em 2025, com os preços do café atingindo picos históricos, enquanto os estoques diminuem diante de secas severas. Ao mesmo tempo, a processadora de carne BRF projeta vendas de alimentos acima do esperado no primeiro trimestre, impulsionadas pela demanda global por produtos processados após um forte fim de 2024. 

Esses fenômenos, amplificados pelas mudanças climáticas, estão gerando lucros impressionantes para o setor agrícola brasileiro, mas também acendendo o debate sobre sustentabilidade. Das fazendas de café em Minas Gerais às linhas de produção da BRF, o clima está redesenhando a economia do país, trazendo um misto de oportunidades e reflexões. 

A escalada dos preços do café reflete uma crise de oferta que começou com as secas de 2024, as piores em sete décadas. Os estoques brasileiros, que costumam sustentar o mercado até a próxima safra, estão quase zerados, com agricultores vendendo quase tudo meses antes da colheita de 2025/2026. 

Em março de 2025, o preço do café arábica ultrapassou US$ 4 por libra, mais que o dobro do valor de 14 meses atrás, segundo dados do mercado internacional. Para muitos brasileiros, isso é uma chance de diversificar investimentos—alguns até exploram o que é negociação forex para lucrar com as oscilações do real e commodities em mercados globais. Mas, para os produtores, a seca ameaça a próxima safra, com previsões indicando que as chuvas podem não chegar a tempo de salvar as floradas, mantendo os preços elevados. 

Impacto no mercado da carne

Enquanto o setor cafeeiro enfrenta desafios climáticos, a BRF, uma das maiores processadoras de carne do mundo, colhe os frutos da crescente demanda global. Após registrar um lucro líquido de R$ 868 milhões no quarto trimestre de 2024, a empresa projeta um primeiro trimestre forte em 2025, impulsionado pelas vendas de alimentos processados, como frango empanado e embutidos. 

O crescimento reflete a alta demanda em mercados como China e Oriente Médio, onde a conveniência dos produtos prontos para consumo tem ganhado espaço. Para capitalizar essa tendência, a BRF pretende expandir a produção, reduzindo a capacidade ociosa de suas fábricas e aumentando a eficiência operacional.

As mudanças climáticas são um denominador comum nesses cenários. No setor cafeeiro, temperaturas elevadas e falta de chuva em regiões como o Sul de Minas Gerais têm reduzido os rendimentos. Especialistas da Fundação Procafé estimam que a safra de 2025 pode cair até 10% em relação à projeção inicial, mesmo com chuvas tardias em outubro de 2024. 

Plantas mais resilientes podem se recuperar, mas os grãos afetados pelo calor extremo tendem a apresentar qualidade inferior, impactando o mercado de cafés especiais, que responderam por 18,6% das exportações em 2023/2024, um crescimento de 45% em volume. 

Para a BRF, o impacto climático é indireto: a alta nos preços dos grãos encarece a ração animal, mas também impulsiona a demanda por carnes processadas como alternativa acessível em tempos de pressão inflacionária global.

Esses ganhos, porém, trazem um custo ambiental. A produção intensiva de café e carne exige mais terra, água e energia, recursos já pressionados pelo clima. No café, a busca por novas áreas de cultivo pode levar ao desmatamento no Cerrado, onde a expansão agrícola tensiona as metas de sustentabilidade do Brasil, como zerar o desmatamento ilegal até 2028. 

A BRF enfrenta críticas por emissões na cadeia de carne, apesar de avanços em práticas verdes. O aumento da demanda por alimentos processados é uma bênção econômica, mas também um convite para alinhar o crescimento com soluções como rações sustentáveis ou tecnologias de baixo carbono.

Para os brasileiros, essas mudanças no mercado tocam a vida cotidiana. O café mais caro pode encarecer o “pretinho” de cada dia - o consumo per capita é de 5,8 kg por ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café. 

Já o sucesso da BRF pode gerar empregos e aquecer a economia local, especialmente em estados como Paraná e Santa Catarina, centros de produção da empresa. Pequenos agricultores e trabalhadores veem nesses setores uma chance de prosperar, mesmo enfrentando um clima instável que desafia seus planos. O curioso é que, enquanto o mundo paga mais pelo café brasileiro, o produtor local luta para manter suas árvores vivas. 

O contraste entre os desafios do café e as oportunidades na carne reforça a relevância do Brasil como potência agrícola. Apesar das adversidades climáticas, o país segue líder nas exportações de café, embarcando 66,4 milhões de sacas na safra 2024/2025, enquanto a BRF consolida sua presença global, alcançando mais de 140 países. Esses resultados evidenciam a capacidade do Brasil de transformar desafios em oportunidades. No entanto, garantir a sustentabilidade desses ganhos requer investimentos em tecnologia, como sistemas de irrigação eficiente para o café e soluções sustentáveis para a pecuária.

Com 2025 avançando, a escalada dos preços do café e o crescimento do setor de carnes evidenciam um Brasil que se reinventa diante das adversidades, equilibrando rentabilidade e responsabilidade. O clima pode estar mudando as regras do jogo, mas a resposta está nas mãos de produtores, empresas e consumidores. Seja mantendo o café no topo das exportações ou expandindo o mercado de carnes processadas, o Brasil tem a oportunidade de liderar não apenas em volume, mas também em sustentabilidade. O desafio é colher os frutos do presente enquanto se planta para um futuro mais verde e estável — uma missão para a qual o país, com sua resiliência e criatividade, está mais do que preparado.

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