O gerente regional do IEF-MG em Januária ressalta que o instituto tem feito esforço em todas as unidades de conservação em regiões de vereda no Norte e no Noroeste de Minas, visando à proteção ambiental e à recuperação do que foi degradado. “Fazemos um trabalho de conscientização ambiental, coibindo impactos nas veredas, tais como desmate e o fogo”, enfatiza Mário Lúcio Santos.
“As principais nascentes do cerrado se encontram nas veredas. Isso é um fato consagrado. O que acontecido é que tem piorado a qualidade das veredas por diversos fatores, como desmatamentos, incêndios, carvoejamento e supressão do cerrado ao redor, além de interferências nas áreas de recarga”, afirma o representante do IEF. Ele acrescenta que todas essas agressões afetam as formações, causando rebaixamento do lençol freático e, consequentemente, o secamento das veredas.
Mário Lúcio Santos destaca o valor essencial das nascentes para garantir a vida no cerrado. “Manter a vereda é conservar a água, é manter a disponibilidade hídrica na região. Ter uma vereda sã, digamos assim, é ter o ecossistema funcionando em sintonia, tanto na parte vegetal como na parte animal”, conclui o representante do IEF.
“Ar-condicionado”
natural no sertão
Apesar dessa importância, a bióloga Débora Guimarães Takaki, coordenadora do Setor de Meio Ambiente da Prefeitura de Januária, considera que, na atualidade, poucas veredas estão intactas na região. “Na maioria das vezes as que existem estão cercadas ou distantes dos grandes empreendimentos. Tem também aquelas que são guardadas pelos veredeiros”, constata.
Entre os bons exemplos de áreas conservadas, Débora menciona veredas do Rio Catulé, tributário do Rio Pandeiros. E chama a atenção para o impacto positivo dessas formações preservadas. “Nesses locais, a presença da água mantém o clima mais ameno, com temperaturas mais agradáveis e menor amplitude térmica diária”, afirma, referindo-se à variação de temperaturas ao longo de mesmo dia.
“Já onde as veredas estão degradadas, ou até secas, o clima se torna árido, com temperaturas elevadas e uma grande amplitude térmica, podendo chegar a mais de 20 graus a variação em um dia”, compara. “Ou seja: as veredas possuem uma importante função de controle da temperatura no sertão, e certamente são importantes para minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Com a preservação desses locais, a qualidade e a quantidade dos recursos naturais estarão garantidas para essa e para futuras gerações”, sustenta a especialista.
Créditos pela
preservação
Débora Takaki ressalta que a preservação de veredas merece ser premiada por meio de um programa ainda pouco conhecido, denominado Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), política pública de âmbitos federal e estadual e que foi implementada na esfera municipal em Januária. “O benefício financeiro é um importante incentivo para que proprietários possam garantir a conservação do local, seja por meio do cercamento, quando for o caso, ou por outros meios sustentáveis de conservação.”
“Com o monitoramento contínuo e assessoramento aos proprietários, essa pode ser uma grande ferramenta para salvar as veredas existentes e tentar recuperar aquelas que estão sofrendo por ações antrópicas”, destaca a bióloga.
Saudade
dos Gerais
Fora das áreas de proteção, onde a degradação ambiental avança, o povo sertanejo fala com tristeza ao ver que uma parte de sua história vai desaparecendo, com a destruição que consome veredas e cerrado. Uma falta que Guimarães Rosa descreve quando os personagens de sua obra maior se afastavam de suas terras. “Por lá, nas beiras, cantava era o joão-pobre, pardo, banhador. Me deu saudade de algum buritizal, na ida duma vereda em capim tem-te que verde, termo da chapada. Saudades, dessas que respondem ao vento; saudade dos Gerais”, lamenta-se o jagunço narrador Riobaldo.