Os 21 °C registrados pelos termômetros de Tallinn, capital da Estônia, na última quinta-feira (16/5), foram motivo de comemoração. Já totalmente ambientado ao novo país, o atacante Felipe Felício, que pertence ao Atlético, foi sincero e mostrou bom humor antes de entrevista exclusiva ao No Ataque ao comentar a diferença climática para o Brasil: “Estou morrendo de calor aqui”.
O intenso frio do Leste Europeu talvez tenha sido o principal desafio em termos de adaptação. A familiaridade com conceitos táticos e a boa técnica típica do jogador brasileiro fizeram com que o atleta de 21 anos rapidamente demonstrasse seu potencial em uma liga tida como paralela no futebol do Velho Continente.
Com sete gols e duas assistências em 13 jogos na temporada, o atacante é titular do FCI Levadia, que lidera o Campeonato Estoniano. No ano passado, a conquista ficou por detalhes. O Levadia foi o vice-campeão, com 77 pontos – dois a menos que o Flora -, em campanha que contou com seis gols de Felício.
As perspectivas para a temporada são positivas. A equipe de Tallinn também disputará a final da Copa da Estônia, a partir das 13h (de Brasília) do próximo sábado (25/5), contra o Paide.
Longe do Brasil, Felipe Felício se diz cada vez mais adaptado a um jogo que enxerga como “mais físico” na Europa. O melhor amigo de vestiário é o meia-atacante João Pedro, de 22 anos, formado nas categorias de base do Athletico-PR.
Em entrevista exclusiva ao No Ataque, o jovem abordou as diferenças do futebol brasileiro para o estoniano, o início da trajetória no Atlético, projeções para futuro e outros temas. Você pode consumir o conteúdo da forma como preferir: por vídeo, no player a seguir, ou por texto, na sequência desta matéria.
No Ataque com Felipe Felício, atacante emprestado pelo Atlético ao Levadia: assista à entrevista completa
No Ataque com Felipe Felício: leia a entrevista completa
Felipe, primeiramente, parabéns pelas boas temporadas que tem feito pelo Levadia. Antes de falar especificamente sobre futebol, gostaríamos de te perguntar como foi a adaptação à Estônia. O que foi mais fácil no dia a dia e do que você mais sentiu falta do Brasil?
Foi tudo muito novo. Desde que eu cheguei no ano passado, graças a Deus eu tive uma rápida adaptação, mas era tudo muito novo. Um frio absurdo! O campo também. Não estava acostumado a jogar partidas seguidas em grama artificial. Não pode utilizar grama natural por causa da neve.
Mas pela minha cabeça de querer vir e jogar, passei muito fácil por todos os tipos de problemas que tive. Graças a Deus tive uma rápida adaptação aqui.
Em relação ao jogo em si na Estônia: é muito diferente em questão de ritmo, tática, filosofia de futebol? Em quais aspectos você sente que mais evoluiu neste período na Europa?
Na realidade é tudo muito diferente no jogo aqui. É mais físico. Especialmente o meu time, que hoje é o primeiro da competição. Todos os nossos jogos, praticamente, jogamos contra equipes que jogam em bloco baixo. Então, precisamos nos adaptar todos os jogos aos nossos adversários. É muito complicado.
Não é um estilo de jogo que eu curto muito, especialmente na minha posição. Fico lá na frente, time (adversário) muito baixo (recuado em campo). Fico mais isolado, esperando por uma bola. Coisa que quando você joga pelo Atlético, que é um dos maiores do Brasil, fica bem mais tranquilo – até porque tem muitos times de qualidade, então eles também propõem o jogo.
Acho que essa é a maior diferença que eu senti aqui, porque quando você tem dois times que propõem o jogo, fica até melhor de assistir, de jogar e construir com mais facilidade. Aqui não tem muito disso. É um ou outro jogo em que conseguimos propor a ideia de jogo.
Temos um treinador espanhol que gosta muito de ficar com a bola, e às vezes não conseguimos mostrar isso nos jogos. É se adaptar e entrar com a cabeça que vai ter de jogar contra um time que vai ter que se fechar o jogo inteiro e esperar por uma bola.
E a que você atribui essas boas temporadas pelo Levadia – além, claro, da sua qualidade técnica? O encaixe com o elenco, o treinador?
Posso te falar algumas coisas. Primeiro ponto: sobre o nosso time. Ano passado era um time todo novo. Ninguém se conhecia. Ficava um pouco difícil, porque dá um passe e o companheiro não está onde você queria. E nesse ano já sabemos todos os espaços que precisamos estar e os espaços que os companheiros precisam atacar. Então parece que o jogo fica muito mais fácil para a gente.
Ano passado eu tive um pouco de dificuldade. Sabe quando você vai atacar o espaço e o meia não dá o passe? Esse ano está muito mais fácil, entendemos os movimentos de cada um. Facilitou bastante nossa maneira de jogar, construir, criar chances.
Hoje, como você se definiria para o torcedor que teve poucas oportunidades de te ver no Atlético, em termos de características dentro de campo? Quais são os pontos fortes do seu estilo de jogo?
Sou um centroavante que não gosta muito de ficar preso na linha defensiva. Gosto bastante de sair como um falso nove, ajudar na construção. Mas ao mesmo tempo ataco muito o espaço da linha defensiva.
Sempre dou uma mapeada para tentar atacar o melhor espaço. Claro, dentro da área tentar fazer os gols como estou fazendo. Um, dois toques na bola, também é um ponto forte.
Você chegou a ser utilizado como ponta?
Em jogos do ano passado sim. Esse ano eu faço duas funções. Ano passado também, de meia e centroavante. Jogo bastante de 10 também. É tranquilo, mas não é minha preferência. Se me perguntar se quero ser meia ou centroavante, vou te falar centroavante 100 vezes.
Seu início no profissional do Atlético foi com o Lucas Gonçalves (auxiliar fixo) como interino, recebendo minutos no Campeonato Mineiro de 2021. Como foram aquelas primeiras experiências no time principal?
Para mim foi incrível, até porque estou no Atlético há muito tempo. Acaba que vemos o profissional treinar, temos aquela vontade de jogar. Em 2021, um ano mágico do Atlético, ter essa oportunidade foi ótimo.
Eu não entrei em tantos jogos. Às vezes até entrava em alguns que o time estava perdendo, mas para mim não tem nada a dizer. Era um sonho que estava vivendo. Ganhar tantos títulos justamente no ano em que tive essas oportunidades foi excelente.
Na sequência daquele ano e em 2022, você recebeu mais oportunidades no sub-20 do que no profissional, marcando gols e empilhando boas atuações pela base. Pelo desempenho nos juniores e nos treinamentos, você acredita que merecia ter recebido mais chances com o Cuca e posteriormente com o Turco, mesmo com aquela concorrência pesada?
Não ficou frustração nenhuma, até porque você mesmo disse, eram muitos jogadores com muita qualidade. Eu tenho que entender isso. Todos os dias eu dava meu melhor, então era esperar a oportunidade. Mas ao mesmo tempo eu sabia que era muito difícil, porque o elenco era muito bom.
Esse é um dos motivos que eu quis vir aqui para fora, para ter essa oportunidade. Aqui tem jogadores que se adaptam mais rápido. Eu precisava desse passo fora do Atlético, ter mais minutagem, experiência profissional, para aí sim pensar em bater de frente com caras desse nível.
E como foi participar daquele elenco que conquistou tudo em 2021? Tem alguma resenha de bastidores para contar?
Realmente joguei com muitos caras bons no Atlético. Lembro que na época que subi era o Ricardo Oliveira no ataque, conversava bastante. Depois de um ano chegou o Hulk. Sem dúvidas a melhor experiência que eu tive foi treinar com o Hulk.
Era um cara que fazia coisas que você não costumava ver no Brasil. É um jogador muito diferente. Não só ele, como o elenco inteiro, o Arana… Todos sempre me trataram muito bem, então tive boas experiências com todos eles.
Eu tenho uma memória ruim para te contar um bastidor do título, mas a resenha era absurda (risos). Cada dia uma nova, até por isso eu não lembro de muitas, porque era cada dia uma diferente. Parecia normal. O ambiente também te faz ser campeão.
Em 2022, no fim do ano, o Atlético até teria a oportunidade de te utilizar por mais um ano no sub-20, mas acabou optando por um empréstimo. Como você enxergou essa situação e como surgiu o Levadia nessa história? Você se mostrou favorável à transferência desde o início ou precisou ser “convencido”?
Na verdade não. Foi tudo bem tranquilo porque era um desejo meu também. Tive muitas temporadas na base, então queria dar um passo maior, jogar profissionalmente. Então foi uma decisão minha querer vir. Assim que chegou a proposta, eu pesquisei sobre a cidade e o time. Pesquisei tudo sobre o Levadia e me encantou mesmo.
Chegou a ter alguma outra proposta desde que subiu para o profissional?
Eu prefiro não saber muito, na verdade, para não criar muitas expectativas. Eu nem fico sabendo. Só sei quando já está quase certo o processo, só para falar o sim ou o não. Claro, tiveram sondagens, mas se você me perguntar os times eu não faço a menor ideia.
O único que estava mais para frente era o Levadia. Dei o sim assim que eu pesquisei tudo. Já me agradou, e aí foi só assinar os papéis.
Seu contrato com o Atlético vai até o fim de 2025. Já existem conversas em termos do projeto do clube para você? Como está seu planejamento de carreira?
Eu sendo jogador do Atlético, com certeza ainda é um sonho meu jogar no Atlético. Não vou mentir. Fiz sete anos de base no Atlético. Não tem como essa vontade passar. Mas o futuro a Deus pertence.
Eu prefiro não saber, mas sim focar no meu momento. E meu momento é no Levadia, então estou bem concentrado nisso. É uma tática que eu tenho para não ficar muito voado nos jogos aqui, pensando mais no futuro. Não, prefiro viver aqui e o futuro a Deus pertence.
Felipe, pra fechar, gostaríamos de propor um jogo rápido de perguntas e respostas. Bora?
Uma referência na sua posição.
Hulk.
Melhor centroavante do mundo atualmente.
Haaland.
Seu melhor amigo no futebol.
Vou falar um de hoje: João Pedro, que joga comigo.
Jogador mais diferenciado com quem você atuou na base do Atlético.
Rubens.
Jogador mais resenha com quem dividiu vestiário.
Arana.
O que representou o ano de 2021 para você?
Realização.
Um sonho a realizar no futebol.
São tantos… Seleção Brasileira.
Defina o Levadia em poucas palavras.
Companheirismo é uma boa palavra.
Defina o Atlético em poucas palavras.
Amor, paixão. É muita coisa.
A notícia Em boa fase na Estônia, Felipe Felício sonha em voltar ao Atlético; leia entrevista foi publicada primeiro no No Ataque por Lucas Bretas.