Por que escolheu a dermatologia?
Sou cristã, evangélica, creio em Deus acima de tudo e foi Ele que direcionou toda a minha vida, inclusive para a escolha pela medicina. Não tenho nenhum médico na família. Meu pai é engenheiro, economista e depois largou tudo para ser pastor. Minha mãe era empresária do ramo imobiliário. Desde o início da faculdade, já gostava da área dermatológica, mas no ramo das doenças de pele, que é uma área difícil, complexa, cheia de desafios, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento, demanda muito estudo e pesquisa, e é isso que eu amo fazer. Quando estava no quinto período de faculdade, tive uma professora de dermato, excelente, a dra. Andrea Machado Coelho Ramos, e tive certeza de que essa era a especialização que eu queria fazer. Outro fator que pesou muito na minha decisão é que sempre quis ter uma família, filhos e tempo para me dedicar a eles. A dermatologia não demanda muita emergência. Hoje sou casada com o Anderson Abreu e tenho dois filhos Henrique, de 4 anos, e Daniel, de 8 meses, e consigo administrar muito bem a vida de médica, esposa e mãe.
Fale mais sobre a complexidade da dermatologia no ramo das doenças de pele.
São mais de três mil doenças catalogadas e me apaixonei por isso. Nós, médicos, que trabalhamos nessa especialidade, somos meio dr. House (do seriado), porque temos que quebrar muito a cabeça em alguns casos. E é tudo mais complexo do que eu imaginava. No adulto, as lesões têm um padrão , na criança, é outro completamente diferente, as lesões são peculiares. Algumas pessoas respondem bem a determinado medicamento, outras, não. Sempre tem um desafio. Saí da residência e fui para o Hospital Albert Einsten, onde fiz uma pós-graduação em oncologia cutânea. O câncer de pele é o mais prevalente do mundo, porque a pele é o maior órgão do corpo humano. O Brasil só perde em incidência para a Austrália. Por isso é tão importante a campanha de prevenção.
Começou agora em dezembro, não é?
Sim, o Dezembro Laranja é para alertar e prevenir as pessoas contra o câncer de pele. A principal prevenção é a foto proteção. Esse tema deve ser falado e cuidado pelos pais desde a infância, porque a exposição solar exagerada na infância e adolescência é fator de câncer de pele na vida adulta. O dano acumulado é um grande perigo e o pior horário para ficar no sol é o que as pessoas mais ficam, das 10h às 15h. Deve-se evitar esse tipo de exposição, mas, se vai ficar na piscina ou na praia nesse período, deve ter proteção dobrada, não apenas com o uso do protetor adequado para seu tipo de pele e a reaplicação de 2h em 2h, mas usar roupa com proteção UHV. Isso evita ter que reaplicar o protetor, o que as pessoas sempre se esquecem. Essa recomendação é para qualquer faixa etária. Os chapéus devem ser com abas largas, viseiras não protegem o suficiente.
Por quê criou um curso para pediatras?
Me casei com um capixaba e me mudei para o Espírito Santo. Comecei a trabalhar em um hospital infantil e me apaixonei pela dermatologia pediátrica. Depois da minha pós em oncologia cutânea, achei que trabalharia apenas com idosos, mas passei a atuar também com o outro extremo, bebês e crianças. E é muito bom trabalhar com os pequenos. É tudo diferente, peculiar, a pele é muito mais sensível, a evolução, o tratamento é muito diferente. Durante todos esses anos, recebi grande demanda dos colegas sobre casos de problemas de pele nas crianças, para auxiliá-los em diagnósticos e tratamentos. Vi que o hospital precisava muito de mim. E que somaria muito na equipe pediátrica. Isso me mostrou a necessidade de trabalhar junto com eles auxiliando e informando mais sobre a minha área. Com isso, decidi montar o curso, por sugestão dos próprios pediatras.
Fale sobre o curso.
O curso se chama Skinped Simplifique e foi criado para simplificar a vida do pediatra quando o assunto é problema de pele. Fiz a primeira edição em Vila Velha, onde moro, com grande sucesso, e a pedido das amigas pediatras de BH, que estudaram comigo na UFMG, decidi fazer a segunda edição aqui, na minha cidade natal, dia 21 de dezembro. O curso será no espaço de aulas e palestras do Empório Fazenda Olhos D’Água, no Belvedere. Criei tudo do meu jeito, de forma mais intimista, para poucos alunos, para que as pessoas possam estreitar relações, ficar à vontade, ter tempo e espaço para troca de ideias e perguntas. Ele é composto por um módulo presencial de quatro horas e outro on-line, que eu chamo de mentoria, para discussão de casos e eventuais dúvidas. O curso de BH já está praticamente lotado e já estou programando nova edição para o ano que vem, para atender a demanda. Também estou estudando a expansão do curso em versão on-line, para um terceiro módulo, também atendendo a pedidos.
Quais são as doenças mais comuns em crianças?
O mais comum é a dermatite atópica, que é uma pele seca que coça muito e que tem lesões recorrentes no corpo, que melhoram e pioram. São chatinhas de tratar. A causa é multifatorial, mas, quando tem história na família, tem grande chance de ter. Quando a mãe tem rinite ou asma, uma das pessoas da família pode ter dermatite atópica. Começa nos primeiros meses de vida, porém, o mais comum é surgir aos seis meses e acompanha toda a infância. Costuma melhorar com a idade. Eu tive, melhorei e o que restou foi uma pele seca. Existe um grupo nacional de apoio aos pacientes de dermatite atópica, liderado pelo professor referência, Roberto Takaoka, do Hospital das Clínicas, do qual sou a coordenadora do grupo regional no Espírito Santo. Tem os leves, os moderados e os graves. Tem criança que coça do dia inteiro, não dorme a noite se coçando. É terrível. Tem que fazer uso de medicação, os imunossupressores. Agora, existem medicamentos injetáveis biológicos muito modernos, com alvo muito específico, que vão direto no ponto, com muito menos efeito colateral. Lá fora já é realidade absoluta. Aqui no Brasil, só com acordo na justiça para o plano pagar. Mas muda a vida da pessoa. n