Se era de material sintético, não interessava. Modelos rebuscados demais nem eram considerados. Uns mal duravam em um dia de uso, outros logo machucavam os pés. Gabrielle Torres tinha a maior dificuldade de encontrar sapatos para a filha. Em vez de insistir no que não dava certo, ela começou a fabricar o que encaixava no que queria: qualidade aliada a design minimalista. Há dois anos, lançou a marca Miniatura, que recentemente abriu loja no Bairro Lourdes.

Gabrielle torres com as filhas manuela e bárbara: a maternidade impulsionou a criação do negócio

Redner Dolabella/Divulgação


Gabrielle nunca tinha feito sapato na vida. O mais perto que chegou disso foi quando trabalhou em showrooms de roupas, seguindo os passos da mãe. Depois ela se formou em administração, virou gerente de banco e fez carreira em uma empresa de linha de transmissão de energia. Só voltou para a moda, arriscando-se em algo novo, quando nasceu sua primeira filha Manuela, hoje com cinco anos.
“Sempre tive vontade de empreender, tenho perfil de gerenciar e criar, mas não tinha coragem de trocar o certo pelo duvidoso. A maternidade chega e te vira do avesso. Vem coragem, força, uma transformação surreal e pensei: quer saber, vou fazer tudo junto.” Por isso ela diz que é uma empreendedora materna. A marca nasceu do seu amor de mãe, do desejo de vestir a filha com o melhor sapato que existisse.

Pouco depois de completar dois anos, a Miniatura, que começou com venda on-line, abriu loja física no Bairro Lourdes

Redner Dolabella/Divulgação


Os produtos são resultado de um ano de pesquisas. “Tinha conhecimento de roupa e até achei que fosse mais fácil, mas fazer sapato é complicadíssimo.” Ainda mais para quem queria desenvolver os modelos do zero. Gabrielle buscou muitas referências (tanto nas passarelas quanto nas memórias) e saiu em busca de fábricas que tornariam suas ideias realidade. Levou muitos “nãos” até encontrar alguém disposto a fazer algo diferente dos moldes já existentes.


Hoje a marca contabiliza 36 modelos. Se fosse por Gabrielle, ela lançaria um a cada 10 dias. Sua cabeça não para. A loja vende sapatos para meninas e meninos – há também uma linha unissex, que vão dos quatro meses aos 10 anos. Se preferir uma referência de tamanho, a grade abrange do número 15 ao 32.

Trabalhos manuais


Como não gosta de nada rebuscado, cheio de informações, Gabrielle segue uma linha mais clean. O máximo que faz são trabalhos manuais no próprio couro, como recortes, furinhos, trançados e bordados (de frutas e joaninhas). Em comum, os modelos têm a borda do solado toda costurada em linha, manualmente. Detalhe que, segundo a criadora, deixa o sapato mais bem-acabado e dá um charme. Acabou virando identidade da marca.


“Queremos vestir crianças como crianças e oferecer a qualidade e o conforto que elas merecem, já que estão na fase de desenvolvimento. E que também seja um sapato bonito”, resume a fundadora da Miniatura. A ideia é que também sejam versáteis, ou seja, o mesmo modelo pode ser usado com jeans ou brilho, no parque ou no casamento.


A escolha do couro tem muito a ver com a durabilidade. As cores também se encaixam nessa lógica: nada de criar um produto que vai ficar ultrapassado na estação seguinte. Gabrielle resgatou, inclusive, muitos modelos que ela e o irmão – Guilherme Torres, seu sócio na loja física – usavam na infância. Foi mais longe ainda ao buscar referências da época dos pais e avós. “Amo coisas antigas”, justifica. Tudo pensando em oferecer sapatos atemporais e que durem.

Outro detalhe é que as fivelas são banhadas a ouro para que não descasquem nem enferrujem. “É um sapato que você guarda para outro filho, para outras crianças da família e ele continua novo. Não é nada descartável.”
O couro também está ali pela maciez, entregando o máximo de conforto, que é uma busca incessante da marca. Por isso, ela combina solado leve, flexível e antiderrapante (com acabamento que gera mais atrito com o chão) com palmilha antiodor e antibactericida (que não deixa o pé ficar transpirando) e calcanhar com acabamento acolchoado. “Temos que pensar em todos os mínimos detalhes para quem mais importa, que são os nossos filhos. Bato sempre na tecla de que eles merecem conforto.”


Crivo das filhas

Não tem um modelo que não seja lançado sem antes passar pelo crivo da filha Manuela. Gabrielle só se sente segura depois que a filha testa. Hoje, ela conta que o que mais deixa seu “coração repleto de alegria” é ouvir das mães que os filhos não tiram os sapatos dos pés, que passam o dia inteiro calçados, sem reclamar. “Criança é o cliente mais sincero que existe, não vai usar só porque você está pedindo.” A filha mais nova, Bárbara, de um ano, também virou modelo de prova.


Alguns modelos são encontrados na numeração do 33 ao 40. Assim, mãe e filha podem usar o mesmo sapato. Em breve, chegará uma linha para os papais.


A marca ainda dá os seus primeiros passos, assim como os clientes, mas já comemora a boa aceitação dos produtos, tão rapidamente. A venda começou on-line, em julho de 2021, e, antes de completar dois anos, surgiu a necessidade de uma loja física. O pensamento agora está lá na frente com os planos de formatar um modelo de franquias para atender a pedidos que chegam de vários estados. Enquanto isso, o atacado leva os sapatos para multimarcas de todo o Brasil. 

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