O que uns chamam de lixo pode se transformar em preciosidade por quem tem mente criativa e mãos habilidosas. Jacqueline Mota é uma das pessoas que enxergam beleza em materiais “invisíveis” no nosso dia a dia. À frente da marca JacDesign, que chegou ao mercado com a intenção de criar acessórios diferentes, ela dá novos usos para serragem e brita. O trabalho é ousado e se propõe a causar impacto com o mais básico look.

A transparência da resina deixa realçar a beleza do pó de serragem

Fernanda Sá Motta/Divulgação

Igual não tem graça para Jacqueline, ela sempre gostou do diferente. Desde o curso de design de joias, já ficava pensando em como sair do óbvio e fazer acessórios que não existiam no mercado. Perto da sua casa tem uma madeireira e ela não tirava o olho do pó de serragem, resíduo que sobra quando a madeira é serrada. Ficou totalmente apaixonada pelo descarte da madeireira e teve a ideia de levá-lo para a suas peças.

“Amo muito esse material, as cores e texturas que ele tem. Acho legal também a questão de reaproveitamento, de dar outro significado para o seria descartado”, comenta.

A designer pensou logo na resina que, pela transparência, deixaria realçar a beleza da serragem. Mas tinha um desafio pela frente: como encapsular pó? Ela já estava acostumada a modelar com resina, mas o máximo que via eram flores. Guiou-se muito por erros e acertos – desistir não era uma possibilidade – e conseguiu chegar ao resultado que tinha imaginado. O processo é artesanal e nenhuma peça fica exatamente igual à outra.



O forte da marca são os colares. A resina com pó de serragem se transforma em pingente. Jacqueline gosta de trabalhar com formas geométricas, grandes dimensões e misturas de materiais. São características que, segundo ela, deixam os acessórios mais modernos e diferentes. Os cordões, em geral, são fio de algodão e corrente de metal (com banho em ouro envelhecido ou prata envelhecido).
“Os colares são diferenciados e impactantes, dão um up em qualquer look. Você pode estar com uma blusa básica que já chama a atenção.”

Na coleção mais recente, de nome “Liberdade”, que faz uma homenagem a Minas Gerais, o material em destaque é a brita. Jacqueline explica que os fragmentos de pedras remetem ao minério e às linhas de trem. Na verdade, ela usa pó de brita, que é a parte mais fina do material, encontrado em diversos lugares. Nem foi preciso comprar, o “estoque” está pelas ruas da cidade.

“O que me motiva é criar a partir do que não existe. Brita é uma pedra que foi destruída e a vejo se refazer, assim como o pó de serragem, que se torna algo novo. Tenho muita ligação com a natureza e ela nos manda sinais o tempo inteiro. Assim consigo me expressar da melhor forma e buscar autenticidade. Cada material tem uma história única”, aponta.

Dessa vez, ela se arriscou a trabalhar com cores e amou o resultado da resina preta contrastando com o cinza da brita. Sinal de que vem mais combinações por aí.
Transformação

Enquanto transforma materiais incomuns em acessórios, Jacqueline transforma sua vida com o trabalho. Ela fala que tinha tudo para dar errado. Abandono, problemas financeiros, um câncer de tireoide no meio do caminho, mas sempre deu a volta por cima. Se estava difícil encontrar emprego como publicitária, era melhor voltar para a faculdade e estudar design de joias. Desde a época de estudante, ela fazia bijuterias e era o que gostava de verdade.

Antes de se formar, Jaqueline trabalhou em restaurante, marca de jeans e fábrica de automóveis. Até que chegou o sonhado momento de lançar sua marca. “Agora estou conseguindo tirar as ideias do imaginário e colocar no mundo real. Não é fácil, estamos em um mercado extremamente competitivo, mas tem lugar para todo mundo”, diz a designer, com a confiança de quem aprendeu a superar as adversidades. Com ela, vale aquele velho ditado de fazer do limão uma limonada.

“Reconexão”, “Possibilidades” e “Liberdade”. Os nomes das coleções têm a ver com a história de Jaqueline, que se reconectou com a sua paixão e, através do trabalho, tem a liberdade de fazer o que sonha e acredita. “Possibilidades são tudo o que você vê na vida quando tem um olhar diferenciado. Olhava para o pó de serragem, que é um material totalmente inutilizado, e pensava: por que não criar a partir disso? Enxergava beleza.” Agora ela tem pensado muito sobre a palavra alegria, a alegria de ver tudo o que desejou se concretizar. 

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