A designer desenvolve peças que combinam técnicas de bordado, crochê e tecelagem -  (crédito: Rafael Fanti/Divulgação)

A designer desenvolve peças que combinam técnicas de bordado, crochê e tecelagem

crédito: Rafael Fanti/Divulgação

 

Da arquitetura para a moda. Do styling para a criação. Elisa Euzébio foi direcionando sua carreira até chegar aonde queria: trabalhar com tecidos em uma escala mínima, a dos acessórios. Fundadora da marca Malga Objetos, com sede em Vitória, no Espírito Santo, a designer desenvolve peças que combinam técnicas de bordado, crochê e tecelagem. A toda essa mistura ela dá o nome de joalheria têxtil.

Elisa estudou arquitetura por três anos, até se dar conta de que não era o que queria. Migrou para moda, já com interesse específico em acessórios têxteis, tema do seu trabalho de conclusão de curso. Depois de formada, acabou se envolvendo com styling – chegou a assumir os desfiles do extinto Vitória Moda, que era o maior evento de moda do Espírito Santo – e se afastou da criação.

“A maternidade me trouxe uma insatisfação e, quando começou a pandemia, veio o impulso que precisava. Os trabalhos pararam e precisava fazer alguma coisa que tivesse a minha essência. Comecei a olhar para dentro e voltei a enxergar os acessórios têxteis”, relembra.

E, assim, Elisa foi desenrolando o novelo da sua história, desde a infância. Ela tem uma avó costureira e aprendeu a bordar muito novinha com a mãe. Mais tarde, estudou costura e modelagem por conta própria, porque sempre gostou de entender métodos e processos de construção (fosse de uma roupa ou de um edifício).

“Até estudei joalheria convencional, mas sabia que não queria mexer com metal, não me encantava. Quando comecei a pensar em uma marca de acessórios, pesquisei muitos materiais, mas não consegui vislumbrar outra coisa que não fosse têxtil. A minha grande ambição era aprender vários tipos de bordado, tricô, crochê e renda. Meu sonho era ser bordadeira profissional”, revela.


Escala reduzida

Mais que uma marca de moda, a Malga surgiu como um espaço para estudar e aplicar técnicas têxteis. Elisa levou dois anos para tirar o projeto do papel. Fez muitos testes, experimentações e foi descobrindo caminhos por tentativa e erro. Ao longo do processo, conheceu e se encantou pelo tear. “Estamos acostumados a ver o tear em escala de tapete, mas o que fiz foi diminuir a escala. Uso a mesma técnica de tapeçaria, mas trabalho com um tear bem pequeno, linhas mais finas e agulha de bordado.”

A designer fala que está em constante evolução, afinal, a marca tem pouco mais de um ano, e que quer usar materiais cada vez mais limpos e sustentáveis. “Gosto de trabalhar só com fibras naturais. As peças têm contato direto com a pele e essa é uma forma de respeito ao corpo e ao planeta.” Além de algodão, viscose e linho, ela tem feito testes com viscose de cana-de-açúcar e fio de cânhamo. Sobre os metais, que servem de base para os acessórios, opta pelos sem banho de níquel, a fim de evitar alergias.

No fim desse processo, ela percebeu que seu propósito vai além da moda, quer fazer parte do movimento de valorização das técnicas têxteis. “Entendi que todas as manualidades têxteis são sempre muito associadas ao feminino e desvalorizadas enquanto arte e design. Acho essas técnicas valiosíssimas e quis trazê-las com uma roupagem nova”, comenta a designer e também artesã (é como se define). Seu marido, o designer gráfico Giovany Gava, cuida da comunicação, administrativo e vendas da marca.


Inspiração feminina

Do styling, Elisa traz a lógica de desenvolvimento de coleções, com temas, formas e cores. A primeira faz uma homenagem a mulheres da sua família. Símbolo de força e sofisticação, o medalhão Irene é inspirado em uma das avós. Já o brinco Isabel partiu de um desenho da filha, na época com quatro anos, por isso foi batizado com o seu nome. A irmã deu origem à pulseira Betina, que virou best-seller e se transforma a cada temporada. Depois, veio a coleção que trouxe como referência a lua e seus ciclos.

Ainda em desenvolvimento, a terceira coleção da Malga deve ser lançada perto do dia das mães. A designer adianta que está testando misturar tear com bordado e encontrando jeitos de incluir, a pedidos, o preto. Um desafio e tanto para quem é de uma cidade praiana e gosta do colorido. Um desejo dela é sempre agregar fios e técnicas novas, como o ponto-cruz, que aprendeu na infância.