Existe um certo encantamento na moda autoral e ele se traduz pela liberdade de criação, coragem de ousar e refresch de ideias. Junto a isto, estão valores importantes, como técnicas sustentáveis, coleções cápsulas e upycicling, entre outros atributos que identificam essa cadeia produtiva.
Quando surge a oportunidade de reunir os pequenos empreendedores atuantes na área, em um mesmo espaço, é que se percebe a potência do trabalho grupal. Foi o que aconteceu, no último Minas Trend, no encontro de 11 marcas mineiras em um estande coletivo na feira.


A coordenação, styling e mentoria do projeto ficaram a cargo da estilista Grazi Coelho e do professor e consultor Aldo Clécius, que trabalha com o setor há muito tempo, descobrindo, incentivando e contribuindo para a formação de identidade de muitas vocações em início da carreira.

 

Coletivo Moda Autoral

Gui Pires


“Foi aberta uma oportunidade para que as marcas tivessem visibilidade, possibilidades de fazer negócios e de desenvolver o empreendedorismo. Essa participação é muito significativa no sentido da renovação do mercado e das propostas inovadoras que os autorais sempre trazem”, explica Grazi. A valorização dos processos manuais de produção slow, tanto do ponto de vista artístico quanto tecnológico, também são levados em conta nesse contexto, segundo ela.


Alguns dos designers já foram projetados, anteriormente, como a Valeria D’ Valéria, que esteve presente em dois desfiles da A.Criem – Associação dos Criadores e Estilistas de Minas Gerais – o Passarela da Liberdade, no Palácio da Liberdade, e o Moda e Arte no Palácio, no Palácio das Artes. Participou também do projeto Moda Contemporânea Mineira – MDM, do professor Aldo Clécius.


Valéria Duarte criou seu negócio, em 2015, após anos assinando o estilo de outras marcas. A moda sempre fez parte da sua vida: a avó e o pai eram plissadeiros e a mãe, especializada na técnica de linha na máquina. Com conhecimentos de corte e costura, a estilista cria trajes especiais com base nas texturas, sobreposição de tiras, entrelaçamentos, trabalhos manuais – como bordados de linha e pedrarias, crochês, aplicação de flores, patchwork de rendas.

 

Iáscara Oliveira

Gui Pires


A nova coleção apresentada no Minas Trend revisita clássicos da Valéria D’ Valéria, o enfoque o estilo country, segundo ela, uma herança preta. Às texturas se juntam cores, barrados, rendas, laços e franjas.


A Refeito, de Bia Pereira, também esteve nos dois desfiles da A.Criem. Seu ponto de partida é o upclycling, técnica com a qual trabalha desde 2012. “O início de tudo foi a criação de uma bolsa de jeans, que fez sucesso no boca a boca. Recebi várias encomendas, mas nem sabia o que era upcycling. Com o tempo, comecei a fazer vários cursos, inclusive no Senai-Modatec, e fui ampliando a oferta, reaproveitando o jeans, tecidos planos, aviamentos, enfim, sobras de várias confecções”, explica Bia.

Com esse material, ela remixa novas formas, shapes e modelagens sustentáveis, com apelo de moda. “A parceria com Victor Dzenk foi muito importante para divulgar a marca. Agora, veio o Minas Trend, uma vitrine para ampliar a visibilidade”, acrescenta.

 

Originalidade

Uma das coleções mais interessantes do Moda Autoral foi a da Iáscara Oliveira. Sua pesquisa, desenvolvida na época da faculdade, possibilitou que ela criasse um método revolucionário e pioneiro de fabricação de tecido rendado originário do reaproveitamento de sacos de cimento utilizados na construção civil, que, mesclados à fibra de bananeira, dão origem às roupas. “Além de laváveis, são biodegradáveis, dentro dos princípios da marca de respeito ao meio ambiente", pontua a designer homônima.


Se você achou a história acima impressionante, vai se surpreender ainda mais com o trabalho da Realiser Alfaiataria. Cibelle Aparecida também criou um método exclusivo de artesania usando o ponto tradicional do arraiolo, técnica de tapeçaria introduzida no Brasil colônia pelos portugueses.


Através dela, a estilista cria peças artesanais bordadas, ponto a ponto, sobre tela com linha de lã, a partir de modelagens tradicionais da alfaiataria, unindo o bordado manual e novas linguagens por meio de moldes. O resultado é original e se apoia no fato que Cibele, além de aprender a costurar, domina com maestria a modelagem.

 

Iáscara Oliveira

Gui Pires


Manualidades

Para quem ama crochê, o nome certo é o da Manuart, criada por Manu Bombom, que junta os estilos urbano e praiano, já que a produção é feita tanto em Belo Horizonte quanto em Porto Seguro. A coleção foi admirada e elogiada por jornalistas e colegas de profissão pela perfeição das peças apresentadas por Manu.


O macramê também apareceu, nas mais variadas formas de tramar, na proposta da Chão Artesanal. As criações de Rosa Angélica envolvem também o crochê e outras manualidades. Em ambos os casos, o trabalho é desenvolvido por comunidades de mulheres.


O macramê marcou presença, ainda, na Guri Handmade, algumas vezes misturado a tecidos planos. Crochês e bordados incrementam os looks e, dentre os diversos nós, o que mais aparece é o famoso nó festonê.


No Atelier Filha Única, Carol Nunes tem um olhar fresco e comprometido com cápsulas não datadas, mas com um perfume de moda. As grades são menores, as modelagens clássicas ganham novas leituras. “Nós nos reinventamos por meio da tecnologia, nas cores de cada estação, nos detalhes manuais e aviamentos”, explica a estilista. A confecção sob medida também faz parte das opções oferecidas pelo Filha Única. “Acredito no slow fashion, ele faz parte do nosso DNA e é algo que não vamos mudar”, diz Carol.


Já na Malume, Maria Lúcia Cepellos vai do clássico ao urbano dentro do prêt-à-porter. As coleções são permeadas por detalhes especiais, como estamparia digital, corte a laser, remodelagens de maquetes têxteis, que conferem aspecto 3D às roupas. A tecnologia e os preceitos sustentáveis andam de mãos dadas em criações, que celebram a individualidade feminina.


Na HDK, o estilo hard predomina. A tecnologia avançada e a criatividade de Luana Bortolini resultam em peças com pegada radical. Em destaque, o jeans e os corta ventos.


Única marca masculina do grupo, a Watson é um achado: o foco são os tecidos naturais ou de baixo impacto ao meio ambiente e os looks se originam de um design minimalista e atemporal. A pegada resort wear predomina em camisas em linho, nas listras em tons pastel, nos tricôs. Os conjuntos de calças e camisas oversize, na mesma cor, para serem usadas com regatas ou camisetas, resumem o que é cool.

MARCAS

>> Atelier Filha
>>Única
>>Chão Artesanal
>> Guri Handmade
>>Hdk
>>Iáscara Oliveira
>>Malume
>>Manuart Crochê
>>Realiser Alfaiataria
>>Refeito
>>Valeria D' Valéria
>>Watson Brasil

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