Entre a tradição e o vanguardismo, os casamentos mudaram de cara na pós pandemia. A começar pela preferência por cerimônias ao ar livre, que começam na parte da tarde, aproveitando a beleza do pôr do sol, e esticam pela noite adentro. Mas as transformações não param por aí, segundo os profissionais que trabalham na área – elas passam por formatos e locais originais, pela flexibilidade do dress code, pela gastronomia diferenciada. Nesse cenário, porém, há uma instância maior: quem dita as normas do casamento não é mais a família da noiva e sim o casal que está prestes a se casar. Ele é soberano nos desejos e decisões e sabe bem o que quer.


Quem confirma os novos comportamentos do mercado é a mineira Palloma Horta, diretora da Rockstage Produções, empresa sediada em São Paulo, mas com atuação também em Belo Horizonte e, particularmente, em Lisboa. A empresa tem 11 anos, mas ela está no setor desde os 20 anos e fez escola no segmento. “Antes o casamento era a oportunidade de os pais apresentarem o casal à sociedade, mas hoje as pessoas estão se casando mais tarde, com carreiras já consolidadas e, geralmente, são elas que bancam a festa ou, no máximo, dividem as despesas com a família”, explica Paloma.


Segundo a produtora, há menos protocolos e cada vez mais personalização em detrimento da tradição. Os eventos são menores, as listas reduzidas, os convidados pertencem ao círculo íntimo dos noivos, tudo tem que fazer sentido para eles. “Nessa nova era, os vestidos são inovadores, os locais alternativos, o menu menos convencional, as decorações criativas. Há uma tendência a se criar uma linguagem visual para o casamento”, ela observa.

Decor Rústico de Katia criscuolo: palhas, madeira e plantas tropicais

rockstage produções/divulgação


Dentro desse perfil, a festa fica muito em torno do palco e os DJs, de acordo com a cerimonialista e produtora, são a grande atração. “Anteriormente, o casal ficava na porta, depois da cerimônia religiosa, e os convidados em fila para cumprimentá-lo. Hoje, isto não existe mais, os noivos querem curtir, dançar, interagir. O corte do bolo também era um momento importante. Atualmente, eles não perdem tempo com isto. Em alguns casos, nem fazem questão do bolo”, detecta.


Palloma observa que os destinos turísticos ganham popularidade. “A tendência de realizar o casamento como uma viagem com amigos, com duas celebrações – o pré wedding e a celebração em si - ressurgiram após a pandemia. Isto exige um cuidado e uma logística maior e muito conhecimento. “Se for na Europa, por exemplo, exploramos as estações mais propícias para o evento, início ou término de verão. Em caso de praia, também pegamos épocas com menos probabilidade de chuvas”, ressalta.

Trancoso: Decoração feita com rosas e flores do campo

Edu Euka/Divulgação


Cartela

Embora haja menos informalidade, quem trabalha no segmento tem que ficar de olho nas tendências internacionais. “Na cartela de cores, predomina o que a Pantone nominou Peach Fuzz, e a WGSN de Apricot Crush. É uma indicação que os tons de pêssego, que trazem saúde e bem-estar, vão bombar em 2024”, identifica a produtora.


Outra opção, ela diz, é uma paleta boho chic, com tons de verde, marrom, ocre, oportunidade para se usar peças decorativas em madeira e florais, evocando a natureza tanto em ambientes naturais ou recriando-os em espaços fechados. “Ela tem tudo a ver com raízes, as da natureza e a dos noivos, com a cultura e estética cigana. Agora, o boho incorporou também a cultura étnica e indígena”. A cerimonialista enfatiza que as decorações estão mais minimalistas e as extravagâncias tendem a ser consideradas cafonas, principalmente após a pandemia.


Conselho útil? Para Palloma, a melhor escolha é planejar a festa com antecedência, aproveitando as opções de fornecedores, locais, melhores negociações, garantia de datas desejadas, além do planejamento e a participação dos convidados. “Ter uma boa assessoria também é fundamental para direcionamento do budget de acordo com o perfil do casamento”, ela avisa.

 

Marina Senatore, da Tearose, decorou casamento clássico na itália, produzido pela rockstage de paloma horta

rockstage produções/divulgação

Pé no chão

Acostumada a trabalhar com clientes abastados e festas magníficas ao longo de uma longa carreira como cerimonialista, Letícia Bhering também aborda a realidade do mercado após a epidemia da Covid 16. “Percebo que eles estão com pé no chão, avaliando o que é importante a partir de uma planilha que comporta o budget e a entrega, sem perder a qualidade e a magia do casamento. Tudo é muito bem brifado”, relata.


Do ponto de vista profissional, ela aponta como mudança no setor a participação de uma série de especialistas, que não existiam no passado e que, agora, são fundamentais para o êxito da festa. A equipe da Supernova conta, por exemplo, com um diretor técnico para garantir que tudo funcione, independentemente do tamanho do casamento.


“Trabalho também com um produtor-executivo e um assistente, que vão gerir a área de alimentos e bebidas e todos os serviços relacionados com a área, da temperatura e harmonização do vinho no jantar ao serviço de bar. Há uma pessoa que cuida da segurança tecnológica, que envolve luz e som, geradores independentes para cada função e capacidade energética do local. Tenho ainda um profissional para coordenar o palco, receber as atrações”, afirma.


O pensamento de Letícia gira em torno da premissa que o casamento não tem replay, acontece só naquele dia, e tudo tem que se ajustar perfeitamente. “Se o caso é destination wedding e há convidados de fora, o mais eficiente é ter uma agência de viagens parceira para cuidar da logística. Se o casamento for na praia, é necessário consultar o tempo para evitar eventos climáticos. Se for na grama, é outra história. Se vai ter uma tenda, vamos pesquisar a entrada e saída do vento para que a estrutura fique firme”.


Para um público formado por 70% mais jovens, que frequentam esse tipo de comemoração, o consumo é completamente diferente de um público mais adulto. “Eles são bem-informados, conhecem os drinks que são servidos em Ibiza, os DJs, o estilo de música que está rolando, tem preferências culinárias. E nem é necessário viajar, essas informações estão nas redes sociais”.


Segundo ela, tudo evoluiu nas festas de casamento, o buffet, a mesa de antepasto, o bar de drinks. O importante é montar um cardápio criativo, que agrade. A tradicional mesa de café do final da festa pode ser substituída por um bar de café com barista e chocolates específicos. Pastéis, minipizzas, mini hamburgers acompanhados de minis coca-colas também são uma boa pedida para esse momento da saída.


A cerimonialista percebe as mudanças também no estilo de vestir. “Há uma mistura de liberdade com personalidade”, confirma. “Mas é importante que os convidados sejam orientados quanto ao dress code para que possam se adequar à festa. “Geralmente, o site dos noivos, que a Supernova constrói com eles, passa essa direção, assim como outras orientações relevantes”, ressalta.


Noiva deslocada


O casamento de Geórgia Brant foi marcado por misturas inusitadas: decoração supercolorida em laranja e pink, mobiliário vintage, influências de Marrocos. “Eu disse para a Márcia e a Júlia, da MD Decoração, que desejava muita cor, tons quentes. Elas aproveitaram as flores da época, inclusive galhos de cerejeira, e ficou tudo lindo”, conta a estilista.


Descolada e de bem com a vida, Geórgia é dona da loja homônima no Sion e tem seguidoras fiéis, que acompanham suas propostas fashion no instagram. Sua festa de casamento aconteceu no Espaço Província, no meio de uma tarde, com cerimônia ao ar livre, e os celebrantes foram sua melhor amiga e o melhor amigo do noivo, Evandro Caixeta. Essa é uma tendência forte, hoje em dia: em vez de alguma autoridade religiosa, os casais optam por celebrantes que conheçam a vida deles, transformando a cerimônia em um momento leve, com casos engraçados, quando acontecem os votos.


Filha de pai libanês, Geórgia resolveu homenageá-lo e solicitou às decoradoras que montassem uma tenda marroquina no local, onde foi colocada a mesa de sobremesas. “Teve luminária no estilo marroquino, tapetes persas, muitas velas numa estética boho chic, que adoro. Tudo ficou a minha cara, foi uma celebração com muita alegria e animação, sem muitos protocolos”, relembra.


O cortejo de entrada, por exemplo, em vez de ter só casais, que é o tradicional, incluiu até trio de amigas. Na hora de jogar o bouquet, os meninos também foram convocados. “Quem falou que não pode? A festa é sua. Há vários formatos de casamento e o legal é comemorar com os amigos, receber o amor dos seus convidados”, frisa a estilista


Atração a parte foi a dança dos noivos, que ensaiaram com um professor durante três meses e se apresentaram ao som de Frank Sinatra, além de número de reggaetón. A festa foi animada pelo Baile do Maguá, cujo repertório passa por diversos ritmos brasileiros, e pelo DJ Davi, que manteve o pessoal na pista até o final.


Outra coisa, não houve exigência de traje específico. “Eu até dei uma orientação do passeio completo, mas as pessoas foram como quiseram e se sentiram bem”, afirma Geórgia.

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