Viktor & Rolf -  (crédito: Viktor & Rolf/divulgação)

Viktor & Rolf

crédito: Viktor & Rolf/divulgação

 

Talvez não seja a roupa que você queira usar (e nem é para ser). As maisons que participam da Semana de Alta-Costura de Paris trabalham para fazer o público sonhar e se inspirar (não necessariamente comprar). A última edição, que apresentou as apostas para o outono-inverno 2024/2025, confirma isso. O que se viu nos desfiles amplia o nosso olhar para a moda, reforçando que a realidade pode ser muito mais livre do que se imagina. Os criadores ousaram nos volumes, extrapolando (e muito) os limites do corpo. As referências eram diferentes – vinham da arquitetura, da arte, da natureza e até da física. Mas os resultados se mostraram igualmente impactantes. Escultural, arquitetônica, extravagante, onírica, dramática: palavras que ajudam a descrever as modelagens propostas pelos estilistas. A seguir, listamos 10 marcas que exploraram os volumes de forma criativa e instigante na passarela da Semana de Alta-Costura de Paris. Sonhos e desejos em novas dimensões.


Viktor & Rolf

A coleção surgiu a partir do desejo de expressar o absurdo. Por isso, a dupla de estilistas holandeses Viktor Horsting e Rolf Snoeren explora ao máximo volumes totalmente fora do padrão, derivados de formas geométricas como cubos, triângulos e esferas. Inspirados no construtivismo e no cubismo, eles desenham modelagens inusitadas, inovando em ombreiras, golas, decotes e mangas. O colorido e o jogo de estampas deixam tudo mais divertido.


lena Erziak

Lena Erziak mergulha nas profundezas da melancolia para mostrar a beleza que dela emerge. Ao levar para a passarela looks inteiramente pretos, as irmãs belgas – de família marroquina – Leona e Hanna revelam a luz que existe na escuridão. A ausência de cor faz destacar peças construídas para serem obras de arte, com cortes arquitetônicos e volumes esculturais. Para elas, a beleza da melancolia se traduz em elegância e atemporalidade.

ArdAzAei

Parece científico demais, mas o resultado vale a “viagem”. A sueco-iraniana Bahareh Ardakani se baseia em conceitos de geometria, matemática e física para mostrar que a roupa pode nos fazer experimentar infinitas dimensões. Sabe como? Ela molda, dobra, enrola, faz pregas, plissados e drapeados com diferentes materiais e em várias camadas. No fim, as peças carregam volumes ocultos, que acabam transbordando e revelando esculturas em movimento.


Jean Paul Gaultier

O escolhido da vez para assinar a coleção é Nicolas di Felice, diretor-criativo da também francesa Courrèges. Imerso nos arquivos da marca, ele resgatou o universo das lingeries. Como num jogo de sedução, partiu de modelos totalmente cobertas (inclusive o rosto) para chegar a uma quase nudez (com transparência). Entre bustiês, espartilhos e tops, saltam aos olhos as peças com decote quadrado e estruturado, um deles quase colado no queixo.

Cheney Chan

O desabrochar das flores, o vento que agita as águas do lago, o jogo de luz e sombra no pôr do sol. O estilista chinês Cheney Chan se inspira em espetáculos da natureza para criar vestidos chamados de “esculturas vestíveis”. Usando técnicas avançadas de alfaiataria tridimensional, ele chega a volumes inimagináveis, que extrapolam (e muito) os limites do corpo. A ideia é que, ao se movimentar, a mulher se transforme em uma borboleta esvoaçante.


Ashi Studio

O sugestivo nome da coleção – “Nuvens esculpidas” – já entrega o que se viu na passarela. Mohammed Ashi (saudita radicado em Paris) desenvolveu roupas volumosas que remetem àquela sensação de se jogar em um material macio, fofo e aconchegante. De uma forma mais metafórica, ele diz que a coleção é uma oportunidade de se afastar da realidade acelerada e imaginar um lugar alternativo, “mais perfeito”, que está entre a realidade e o sonho.


Yuima Nakazato

O designer japonês levou a experiência de desenhar o figurino de uma ópera para a passarela. A armadura de aço dos palcos se transformou em peças de uma alfaiataria volumosa, que também funcionam como uma superfície de proteção. Surpreende o que ele faz com o método de modelagem têxtil digital ao qual deu o nome de “Biosmocking”, que cria texturas tridimensionais a partir de fibras à base de proteína, sem gerar sobras. Como resultado, formas incrivelmente atrativas.


Schiaparelli

O impactante look da fênix, tema da coleção, abriu o desfile com asas de penas reluzentes. O diretor-criativo Daniel Roseberry quis homenagear o dom singular de Elsa Schiaparelli, a fundadora da marca, de sempre renascer das cinzas, se reinventar, experimentar o novo. Isso explica a sequência de looks com modelagens tridimensionais, que flertam com o surrealismo. Impressiona o trabalho de recortes e sobreposições, que criam o efeito de onda na barra dos vestidos.


Rahul Mishra

O estilista indiano foi brilhante ao levar o conceito da aura para a moda. Partindo do ponto de que a aura é um campo eletromagnético que conecta o ser humano ao resto do universo, ele propõe silhuetas que circundam o corpo e criam uma interessante ilusão de ótica. Como se, de fato, a energia que nos rodeia fosse materializada. A coleção utiliza predominantemente preto e tons de cinza para simbolizar a profundidade e o mistério da aura.


Giambattista Valli

Com um mood bem romântico, a coleção é uma conversa do criador italiano sobre mulheres imaginárias em jardins imaginários e paradisíacos. Especificamente, os jardins da Índia, país que sempre está no seu radar de inspiração. Diante desse tema, não poderiam faltar referências às flores. Nas cores e nas formas. É como se jardins floridos desfilassem pela passarela. Giambattista Valli explicou que seu desejo é que as roupas transmitam a sensação de “bem-estar supremo”.